A dor de uma mãe
Durante
o período que exerci o ministério presbiteral, trouxeram-me uma senhora para
falar comigo. Pensei naquele momento que se tratava do Sacramento da Reconciliação,
mas quando ela começou a falar, entendi e emocionei-me com tamanha dor que
aquela senhora de corpo frágil e um semblante distante trazia na alma.
Padre Carlos, disse ela: “A
minha dificuldade não é pela minha dor da perda, é pela raiva, pela revolta de
ele não poder viver mais”, começou por dizer. O que me deixa mais indignada são as frases feitas de pessoas cheias de boas intenções:
“sei o que isso é” (como gostaria de dizer: não sabe não, só eu sei o que estou
sentindo!); “tenha força!” (você sabe o que estou sentindo? Não tenho, a dor é
intensa e é muito grande para suportar!); “pensa noutra coisa” (não penso e não
quero só a lembrança de minha perda me consola!); “tem que andar pra frente”
(não consigo, não vejo perspectiva sem conviver com minha perda!); “está no
céu” (mas eu estou aqui e vivo, sofrendo!).
Depois que ouvir de forma atenta e paciente, falei com
aquela pobre mulher: a perda de seu filho criou em você uma experiência de
grande impacto emocional, que obrigam vocês a repensarem quem são de fatos, qual é
o significado das suas vidas e como é que vocês como família, a partir deste
momento, vão conviver com a memória dele e como ele pode continuar a fazer
parte das vidas de vocês, agora de uma forma diferente. O importante disto
tudo, é entender que o sofrimento não poderá jamais lhe obrigar a querer
desistir de lutar, estes é um dos erros que cometemos o de querer viver somente
do passado e a desistir do futuro. O retorno às atividades profissionais
é terapêutico e eleva a nossa alma. Temos que ser forte para assumir a
nossa perda, desta forma poderemos assim, evitar futuras doenças físicas, psíquicas,
espirituais... Não é garantido que quem cala consente. Até porque ninguém
aqui esta se calando, mas aprendendo a conviver com a sua perda de outra forma.
Conversamos mais de uma hora e depois ela beijou a minha mão e foi embora. Nunca mais encontrei aquela senhora, acredito que tenha superado e retornado as suas atividades acadêmicas.
Durante
muitos anos, dediquei-me ao trabalho e a defesa dos direitos humanos, através
da pastoral carcerária, mas uma das pastorais que eu sinto falta
na Igreja, é com certeza a que se preocuparia em proporcionar um lugar para
quem está em luto, isto é, um centro de escuta e acompanhamento espiritual. Um
lugar de encontro, de escuta, de fraternidade, de oração, de
misericórdia, de perfume e de esperança cristã... no caminho de Emaús!
Padre Carlos.
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