sábado, 20 de julho de 2019

ARTIGO – Francisco e a sua missão ( Padre Carlos )



Francisco e a sua missão


            Quando estudamos eclesiologia, podemos perceber como a  Igreja caminha de forma lenta e como esta atrasada com relação ao seu tempo. Um exemplo claro do que estou falando, é a forma como o cardeal Martini, outro jesuíta, inspirador de Francisco, se queixava, dizendo que a Igreja anda atrasada 200 anos. E pensava também na relação da Igreja com as mulheres, que nada impede teologicamente de receberem a ordenação sacerdotal. Todas as vezes que escrevo sobre este tema, termino chocando alguns amigos padres e leigos dentro da Igreja. Não podemos nos calar e é preciso dizer para o conjunto dos fieis, que esta causa é uma questão de direitos humanos. O Papa Francisco condenou o "machismo" na Igreja e está abrindo a porta da ordenação a homens casados; não estou vendo fazer o mesmo com as mulheres. Ele não quer criar cismas na Igreja. A Igreja tem muita dificuldade em lidar com a sexualidade, por duas razões fundamentais: está muito marcada pela heresia gnóstica e porque à frente da moral católica tem estado o clero de celibato obrigatório. Mas Francisco abriu portas, quanto aos gays, que não devem ser discriminados, aos métodos de contraceção (os católicos não devem "reproduzir-se como coelhos"), à possibilidade da comunhão para os recasados, ao respeito para com as novas formas de casamento...

           Acreditamos  que  Francisco é o grande  "renovador a Igreja", e que essa é uma "missão decisiva". Pelo que observamos da sua ação desde que foi eleito ainda acreditamos que ele vai cumprir este papel que a histório lhes reservou. Considero que é uma missão decisiva, porque a Igreja é depositária da mensagem mais humanizadora que conheço: o Evangelho. Infelizmente, como bem disse Nietzsche, a Igreja se transforma muitas vezes, num Disangelho, uma triste e má notícia.
             Francisco não conseguirá tudo, mas o essencial está em marcha: abertura da Igreja às "periferias", um estilo novo de papado: simplicidade, proximidade, humanidade. E, institucionalmente, tolerância zero para pedofilia, transparência no Banco do Vaticano, reforma profunda da Cúria a caminho, não há condenação de teólogos, descentralização no governo da Igreja, passos gigantescos no diálogo entre as confissões cristãs, elogiando Lutero, e também no diálogo inter-religioso, exige que seja a pessoa humana a ocupar o centro da economia e não o deus-Dinheiro, a exortação Laudato si" sobre uma ecologia integral fará história.
            O antigo superior geral dos jesuítas, A. Nicolás, revelou que Francisco lhe disse que "pede ao Bom Deus que o leve só quando as reformas forem irreversíveis". Quanto a nós, peçamos ao bom Deus para que possa atender este pedido não só de Francisco, mas de toda a sua Igreja.


Padre Carlos

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