Francisco e a sua missão
Quando estudamos eclesiologia,
podemos perceber como a Igreja caminha de
forma lenta e como esta atrasada com relação ao seu tempo. Um exemplo claro do
que estou falando, é a forma como o cardeal Martini, outro jesuíta, inspirador
de Francisco, se queixava, dizendo que a Igreja anda atrasada 200 anos. E
pensava também na relação da Igreja com as mulheres, que nada impede
teologicamente de receberem a ordenação sacerdotal. Todas as vezes que escrevo
sobre este tema, termino chocando alguns amigos padres e leigos dentro da
Igreja. Não podemos nos calar e é preciso dizer para o conjunto dos fieis, que
esta causa é uma questão de direitos humanos. O Papa Francisco condenou o
"machismo" na Igreja e está abrindo a porta da ordenação a homens
casados; não estou vendo fazer o mesmo com as mulheres. Ele não quer criar
cismas na Igreja. A Igreja tem muita dificuldade em lidar com a sexualidade,
por duas razões fundamentais: está muito marcada pela heresia gnóstica e porque
à frente da moral católica tem estado o clero de celibato obrigatório. Mas
Francisco abriu portas, quanto aos gays, que não devem ser discriminados, aos
métodos de contraceção (os católicos não devem "reproduzir-se como
coelhos"), à possibilidade da comunhão para os recasados, ao respeito para
com as novas formas de casamento...
Francisco não conseguirá tudo, mas o essencial
está em marcha: abertura da Igreja às "periferias", um estilo novo de
papado: simplicidade, proximidade, humanidade. E, institucionalmente,
tolerância zero para pedofilia, transparência no Banco do Vaticano, reforma
profunda da Cúria a caminho, não há condenação de teólogos, descentralização no
governo da Igreja, passos gigantescos no diálogo entre as confissões cristãs,
elogiando Lutero, e também no diálogo inter-religioso, exige que seja a pessoa
humana a ocupar o centro da economia e não o deus-Dinheiro, a exortação Laudato
si" sobre uma ecologia integral fará história.
O antigo superior geral dos
jesuítas, A. Nicolás, revelou que Francisco lhe disse que "pede ao Bom
Deus que o leve só quando as reformas forem irreversíveis". Quanto a nós,
peçamos ao bom Deus para que possa atender este pedido não só de Francisco, mas
de toda a sua Igreja.
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