Lágrimas do Passado
Falar
de poesia é fala do reino das emoções é falar da arte de sentir e interpretar a
dor do outro. O trabalho deste artista não pode está preso a argumentos, à
verificação ou a provas, pois não é uma forma de saber científico, apesar de exercer
um papel primordial na formação do indivíduo. A arte é um dos elementos que proporciona um vinculo
forte entre as diversas culturas e os humanos – transcendendo línguas, crenças
e culturas. É por isso que a arte pode ser considerada um dos pilares das
humanidades.
Assim, podemos afirmar que a poesia é com
certeza uma destas artes que transcende cultura tempo e espaço.
A
força do poema quando é declamado, faz chegar ao público à expressão sensível
da beleza ou da dor, ganhando um significado nos mínimos detalhes buscando
assim rimar com alegria e tristeza que gostaríamos de expressar.
Os filósofos da Grécia Antiga não
deixaram de perceber isso. Na visão deles,
a poesia era a encarnação de uma
experiência de aprendizagem, uma cultura geral que precedia todo o conhecimento
especializado científico ou político. Eles sabiam o quanto estudar Homero e
outros poetas era importante para moldar a mente dos jovens gregos livres (que
não eram escravos nem metecos). Foi por isso que Platão, em A
República,
preocupado por Homero ter retratado os deuses de forma negativa em seus poemas,
acabou banindo os poetas de sua cidade-Estado!
As
reservas de Platão quanto a Homero sem dúvida tinham a ver tanto com o que a
poesia é quanto com o que ela não
pode ser.
Porém,
no passado ou no presente, quem pode dizer o que é poesia? É preciso entender que esta arte ao transcender tempo
e cultura, nos proporciona uma viagem à história e resgata vidas e amores.
Quero aqui resgatar a vida e o poema de Pedro Luís Pereira de Sousa. Nasceu em
Araruama RJ. em 13 de dezembro de 1839. Faleceu em Bananal SP. em 16 de Julho
de 1884. Este é o autor de um dos mais belos poemas da língua
portuguesa, que gostaria hoje de compartilhar com vocês.
Quero
agradecer a todos e todas que resgatam nos arquivos das almas as nossas lembranças
e as nossas paixões. Estas são com certeza, as estrelas que um dia pontificaram
o céu do amor.
Padre Carlos
Lágrimas do Passado
Serena estrela no meu céo não viste?
Pallida e triste, foi morrer além;
Aqui findou-se meu extremo gozo,
E já forçoso que eu me vá também.
Amei–te muito! Foi paixão
sincera...
Na primavera nosso amor nasceu;
Chegamos hoje ao derradeiro lance
Desse romance que me enlouqueceu!
Não tenhas medo do meu ar sóbrio;
Antes do estio chegará meu fim;
Eu já não tremo no fatal delírio...
Foi o martyrio que deixou-me assim!
O bardo é triste, no florir da
idade,
Pranto e saudade foram seus laureis...
Que tem que o bardo, que viveu sem flores,
Chore os amores e te caia aos pés?!...
Um dia, virgem, na fatal romagem,
Sem ter coragem de seguir, parei;
Foi junto ás ondas, que corriam mansas,
Que de esperanças eu então chorei! ...
Vinha de climas em que o céo não
fala,
Nem mesmo embala a viração a flôr,
Nunca tivera lá do sol de maio
Languido raio que lhe désse amor!
Cantei num pranto a mocidade, a
vida...
Então, querida, me estendeste a mão;
Disseste: - “Poeta, tua voz suspira,
Vibra na lyra virginal canção.”
Tremi, fitei-te na fulgente
areia.
Linda sereia junto a mim, de pé...
- “Não venha, (disse) me falar nest’hora,
Minh’alma chora, já não tenho fé!
Meu Deus, perdi-me!... Como
estavas linda!
Vejo-te ainda, como então te vi;
Morena, pallida, num sorrir divino
O meu destino foi entregue a ti.
Pergunta á nuvem para onde vôa,
Quando rebôa um furacão veloz?!...
Mas não perguntes onde fui perdido,
Por ter ouvido tua meiga voz.
A nuvem bela não succumbe á
morte:
Do sul ao norte, o firmamento é seu;
Maguas de poeta, quem poderá vêl-as?
Nem as estrellas, e nem tu, nem eu!...
O teu vestido acompanhei demente
Na febre ardente, soluçando a rir!
Teus olhos negros me disseram: “Ama”
E ardi na chamma, sem poder fugir.
Nesses olhares renovei a vida,
A fé perdida nessa immensa dôr!
Cheio de maguas reviver senti-me,
Na fé sublime dum celeste amor.
Quando á janella do salao
chegavas
E ahi folgavas sem de mim ter dó,
Nunca me viste, como num degredo,
Sobre o lagedo, taciturno e só.
Foi-se o delirio que eu julgava
eterno,
Vivo no inferno, meu destino o quiz;
Minh’alma dorme, não se agita inquieta,
Quem era um poeta para ser feliz?!