Os católicos precisam de um partido
Os
partidos políticos defendem um determinado programa de governo e busca a partir
de ações politica construírem um projeto de poder que lhe der sustentação para
aplicar seu programa.
Apesar de no passado, e ainda hoje, alguns dos partidos
se classificarem como de inspiração cristã, não é fácil encontrar aqui no
Brasil um que respeite todos os princípios da Doutrina Social da Igreja - ou os
ensinamentos do Papa.
Ainda que todos os partidos defendam e incluam nos seus
programas o respeito pela dignidade da pessoa, o bem comum, a solidariedade -
princípios contidos na Cartilha de Orientação Política que a CNBB propôs, publicada
no ano passado, a propósito das eleições, não contemplaria um projeto em torno
dos parlamentares católicos, devido às visões de mundo das correntes de
pensamentos dentro das agremiações que estes fazem parte.
Assim, termina estes partidos tendo um entendimento diferente
da sua concretização. Uns concordam com os bispos na defesa da vida desde a concepção
até à morte natural. Mas afastam-se deles na condenação da "economia que
mata", na "autonomia dos mercados" ou no acolhimento devido aos
mais pobres. Outros são mais sensíveis ao apelo do Papa não por convicções da
Doutrina Social da Igreja, mas, por questões humanistas (assumido pelos bispos
brasileiros) para "Direitos Humanos e Ecológicos", mas defendem o
aborto ou a eutanásia, que aqueles condenam.
Por isso, não é possível encontrar um partido em que
todos os cristãos (católicos) se revejam. Até porque, como qualquer cidadão,
uns são mais sensíveis a determinadas causas e não valorizam tanto outras. Isto
permite que, mesmo defendendo os mesmos princípios, os cristãos possam optar
por votar em partidos diferentes. Escolhem aquele que acham que os pode representar,
ou governar, melhor.
Assim sendo, o conjunto do episcopado não acha correto
que aqueles que estão investidos de autoridade na Igreja deem uma indicação aos
fiéis daquele que deve ser o seu voto, como não o fazem os bispos brasileiros
na referida Cartilha. Compete-lhes, apenas, propor princípios, de acordo com os
quais cada um possa tomar a decisão do partido em que votar. Para a grande
maioria dos nossos bispos, não se devem tomar parte no jogo
político-partidário, mas não podem abdicar de denunciar as situações em que os
valores e os princípios que defendem não são respeitados, principalmente quando
a democracia estiver ameaçada por políticas que defendam a tortura e a morte.
Esta posição de neutralidade do episcopado brasileiro
favoreceu de certa forma as Igrejas Evangélicas a criarem um projeto de poder e
formar uma bancada que terminou influenciando nas ultima eleições. Este projeto
se estende aos três poderes e coloca em risco não só a concepção de estado
laico, mas a própria democracia.
Os objetivos dos evangélicos não se restringem mais nas temáticas institucionais,
relacionadas à isenção fiscal, alvará de funcionamentos das igrejas, doações de
terrenos, distribuição de concessão de rádios e TV, a transformação de eventos
evangélicos em eventos culturais pra receber financiamento da Lei Rouanet,
questões relacionadas à lei do silêncio. Aí eles atuam de forma articulada,
como um bloco, convergem em nome desses interesses, como em relação a questões
morais. Agora eles querem o poder e não escondem os seus
objetivos.
Enquanto os
pastores são os grandes protagonistas no parlamento brasileiro, aos nossos clérigos
fica vedada uma participação ativa nos partidos e nas atividades políticas, o
que eu acho um erro. A questão, porém, não é apenas quantos representantes
evangélicos há na Câmara dos Deputados, mas as alianças que estão sendo feitas
estrategicamente, a chamada bancada evangélica. Porque isso é interessante, e
não somente a parcela que conseguiram – como já disse, entre 20%. Mas um ponto
importante é a famosa bancada BBB
(Bíblia, boi e bala), que agora passou
a ser BBBB: Bíblia, boi, bala e Bolsonaro. Então, quando essas bancadas se
juntam, aí sim, temos uma força importante. Ou seja, se todos os evangélicos se
unissem, eles seriam o maior partido político do Brasil.
Não é fácil para os cristãos católicos fazerem o contra
ponto com esta maquina eleitoral. Uma boa parte dos candidatos ligada a nossa
igreja muitas vezes não contam nem com o apoio de seu pároco e assim, terminamos
entrado nesta disputa de poder de forma desorganizada. Até quando vamos ignorar
este problema.
Padre Carlos
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