segunda-feira, 12 de agosto de 2019

ARTIGO - Os católicos precisam de um partido ( Padre Carlos )





Os católicos precisam de um partido


            Os partidos políticos defendem um determinado programa de governo e busca a partir de ações politica construírem um projeto de poder que lhe der sustentação para aplicar seu programa.
            Apesar de no passado, e ainda hoje, alguns dos partidos se classificarem como de inspiração cristã, não é fácil encontrar aqui no Brasil um que respeite todos os princípios da Doutrina Social da Igreja - ou os ensinamentos do Papa.
            Ainda que todos os partidos defendam e incluam nos seus programas o respeito pela dignidade da pessoa, o bem comum, a solidariedade - princípios contidos na Cartilha de Orientação Política que a CNBB propôs, publicada no ano passado, a propósito das eleições, não contemplaria um projeto em torno dos parlamentares católicos, devido às visões de mundo das correntes de pensamentos dentro das agremiações que estes fazem parte.
            Assim, termina estes partidos tendo um entendimento diferente da sua concretização. Uns concordam com os bispos na defesa da vida desde a concepção até à morte natural. Mas afastam-se deles na condenação da "economia que mata", na "autonomia dos mercados" ou no acolhimento devido aos mais pobres. Outros são mais sensíveis ao apelo do Papa não por convicções da Doutrina Social da Igreja, mas, por questões humanistas (assumido pelos bispos brasileiros) para "Direitos Humanos e Ecológicos", mas defendem o aborto ou a eutanásia, que aqueles condenam.
            Por isso, não é possível encontrar um partido em que todos os cristãos (católicos) se revejam. Até porque, como qualquer cidadão, uns são mais sensíveis a determinadas causas e não valorizam tanto outras. Isto permite que, mesmo defendendo os mesmos princípios, os cristãos possam optar por votar em partidos diferentes. Escolhem aquele que acham que os pode representar, ou governar, melhor.
            Assim sendo, o conjunto do episcopado não acha correto que aqueles que estão investidos de autoridade na Igreja deem uma indicação aos fiéis daquele que deve ser o seu voto, como não o fazem os bispos brasileiros na referida Cartilha. Compete-lhes, apenas, propor princípios, de acordo com os quais cada um possa tomar a decisão do partido em que votar. Para a grande maioria dos nossos bispos, não se devem tomar parte no jogo político-partidário, mas não podem abdicar de denunciar as situações em que os valores e os princípios que defendem não são respeitados, principalmente quando a democracia estiver ameaçada por políticas que defendam a tortura e a morte.
            Esta posição de neutralidade do episcopado brasileiro favoreceu de certa forma as Igrejas Evangélicas a criarem um projeto de poder e formar uma bancada que terminou influenciando nas ultima eleições. Este projeto se estende aos três poderes e coloca em risco não só a concepção de estado laico, mas a própria democracia.
            Os objetivos dos evangélicos não se restringem mais nas temáticas institucionais, relacionadas à isenção fiscal, alvará de funcionamentos das igrejas, doações de terrenos, distribuição de concessão de rádios e TV, a transformação de eventos evangélicos em eventos culturais pra receber financiamento da Lei Rouanet, questões relacionadas à lei do silêncio. Aí eles atuam de forma articulada, como um bloco, convergem em nome desses interesses, como em relação a questões morais. Agora eles querem o poder e não escondem os seus objetivos.
             Enquanto os pastores são os grandes protagonistas no parlamento brasileiro, aos nossos clérigos fica vedada uma participação ativa nos partidos e nas atividades políticas, o que eu acho um erro. A questão, porém, não é apenas quantos representantes evangélicos há na Câmara dos Deputados, mas as alianças que estão sendo feitas estrategicamente, a chamada bancada evangélica. Porque isso é interessante, e não somente a parcela que conseguiram – como já disse, entre 20%. Mas um ponto importante é a famosa bancada BBB (Bíblia, boi e bala), que agora passou a ser BBBB: Bíblia, boi, bala e Bolsonaro. Então, quando essas bancadas se juntam, aí sim, temos uma força importante. Ou seja, se todos os evangélicos se unissem, eles seriam o maior partido político do Brasil.
            Não é fácil para os cristãos católicos fazerem o contra ponto com esta maquina eleitoral. Uma boa parte dos candidatos ligada a nossa igreja muitas vezes não contam nem com o apoio de seu pároco e assim, terminamos entrado nesta disputa de poder de forma desorganizada. Até quando vamos ignorar este problema.

Padre Carlos



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