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sábado, 17 de agosto de 2019
ARTIGO - Não podemos viver sem o domingo ( Padre Carlos )
Não
podemos viver sem o domingo
Nesta quarta feira presenciei na fila de um banco da nossa
cidade um diálogo entre dois evangélicos. O tema tratado era o feriado da festa
da padroeira da nossa cidade e o 12 de outubro, a padroeira do Brasil. Confesso
a vocês que me deu vontade de participar daquela conversa e lembrar aqueles
irmãos, que esta celebração litúrgica revive Maria, sim a Maria das
nossas devoções, das nossas admirações e da nossa fé. A Mãe de Jesus, rosto
feminino de Deus, Maria de Nazaré, da Palestina do século I.
Maria que se faz
pobre no meio do povo. Na verdade, é a própria Maria de Nazaré, pobre no meio
do povo, como ela sempre foi. A indicar que no meio dos pobres, inspirando um
mundo novo, sem pobreza, sem miséria, está Deus, que é aquela Mãe generosa e
acolhedora. Apenas isto: a Mãe de Deus foi isenta de toda a mancha de pecado
desde o primeiro momento. Como sabemos, entrou na nossa história e é a
Padroeira da nossa cidade. Tudo se expressou dentro duma época e não existe
quem com devoção à Virgem, não encontre nesta festa o motivo maior da sua
devoção.
O mundo mudou a expressão
religiosa também, surgiram à discussão se deveria ser feriado este 15 de agosto
em Vitória da Conquista e o 12 de outubro no nosso país. Sim, não podemos esquecer
o que fizeram na nossa cidade com Corpus
Christi, dia que para nós é santo. A sociedade foi-se habituando a
chamar ao dia sagrado do domingo fim de semana, apenas intervalo na rotina do
trabalho com o esquecimento do seu lugar histórico na fé cristã e judaica - no
caso, o sábado -, que sempre zelaram para que um dia na semana fosse consagrado
a Deus. Sabemos também como os grandes centros comerciais se tornaram as
grandes catedrais, iguais de domingo a domingo, numa perda da sacralidade dum
dia que faz parte da história dos cristãos. Mas isso está muito relacionado à
nossa cultura católica e cristã.
Padre Carlos
sexta-feira, 16 de agosto de 2019
ARTIGO - A Itália e as suas “mãos limpas” ( Padre Carlos )
A Itália e as suas “mãos limpas”
A
Itália que conhecemos deixou de existir. Hoje, estamos diante de um país
fortemente dividido, seduzido por uma agenda egoísta de forte tendência ao
populismo,
Quando no pós-guerra, a Itália foi cooptada
para a construção do projeto de unificação económica da Europa, houve a clara
consciência de que a unidade daquele país, não tão antiga quanto isso, muito dependeria
de um sentimento nacionalista e de uma identidade de um todo para se tornar
modelo agregador. Talvez nenhum outro País europeu mantivesse, no seu interior,
diferenças regionais tão profundas e desiguais de desenvolvimento, acredito
mesmo que até de mentalidades.
Toda crise republicana se dar com o
deslocamento do poder e o fortalecimento de um deles. Assim, se aproveitando
deste acontecimento, a Itália passa a viver um caça as bruxas e os resultados políticos ao final da Operação foram
DESASTROSOS. A destruição do sistema político criado no pós-guerra, a partir da
aliança do movimento político de Alcide de Gasperi com o Vaticano, responsável
pela extraordinária e rápida recuperação da economia produtiva italiana, que se
tornou a 5ª economia do mundo, abriu um VÁCUO de poder que quase leva ao
esfacelamento da República, com o Norte (Lega Lombarda) tentando se separar do
Sul, o que não conseguiu por pouco. O vazio de poder causado pela liquidação
dos partidos políticos tradicionais abriu espaço para aventureiros fora do
sistema político, muito piores que os tradicionais políticos.
O principal troféu
político da operação foi à destruição da carreira do primeiro-ministro Bettino
Craxi, do PS, que, ao assumir o posto, em 1983, tornou-se o primeiro chefe de
governo italiano, em 40 anos, que não pertencia aos quadros da Democracia
Cristã, partido que governou a Itália com apoio direto do Vaticano e de
Washington.
Infelizmente a economia da Itália
foi destruída e sua intenção hoje fica clara. Agora,
cabe ao leitor traçar um paralelo do que estamos passando e a sua semelhança
com tudo que acontece e aconteceu nestes últimos anos no Brasil.
Padre
Carlos
quinta-feira, 15 de agosto de 2019
ARTIGO - Lágrimas do Passado ( Padre Carlos )
Lágrimas do Passado
Falar
de poesia é fala do reino das emoções é falar da arte de sentir e interpretar a
dor do outro. O trabalho deste artista não pode está preso a argumentos, à
verificação ou a provas, pois não é uma forma de saber científico, apesar de exercer
um papel primordial na formação do indivíduo. A arte é um dos elementos que proporciona um vinculo
forte entre as diversas culturas e os humanos – transcendendo línguas, crenças
e culturas. É por isso que a arte pode ser considerada um dos pilares das
humanidades.
Assim, podemos afirmar que a poesia é com
certeza uma destas artes que transcende cultura tempo e espaço.
A
força do poema quando é declamado, faz chegar ao público à expressão sensível
da beleza ou da dor, ganhando um significado nos mínimos detalhes buscando
assim rimar com alegria e tristeza que gostaríamos de expressar.
As
reservas de Platão quanto a Homero sem dúvida tinham a ver tanto com o que a
poesia é quanto com o que ela não
pode ser.
Porém,
no passado ou no presente, quem pode dizer o que é poesia? É preciso entender que esta arte ao transcender tempo
e cultura, nos proporciona uma viagem à história e resgata vidas e amores.
Quero aqui resgatar a vida e o poema de Pedro Luís Pereira de Sousa. Nasceu em
Araruama RJ. em 13 de dezembro de 1839. Faleceu em Bananal SP. em 16 de Julho
de 1884. Este é o autor de um dos mais belos poemas da língua
portuguesa, que gostaria hoje de compartilhar com vocês.
Padre Carlos
Lágrimas do Passado
Serena estrela no meu céo não viste?
Pallida e triste, foi morrer além;
Aqui findou-se meu extremo gozo,
E já forçoso que eu me vá também.
Pallida e triste, foi morrer além;
Aqui findou-se meu extremo gozo,
E já forçoso que eu me vá também.
Amei–te muito! Foi paixão
sincera...
Na primavera nosso amor nasceu;
Chegamos hoje ao derradeiro lance
Desse romance que me enlouqueceu!
Na primavera nosso amor nasceu;
Chegamos hoje ao derradeiro lance
Desse romance que me enlouqueceu!
Não tenhas medo do meu ar sóbrio;
Antes do estio chegará meu fim;
Eu já não tremo no fatal delírio...
Foi o martyrio que deixou-me assim!
Antes do estio chegará meu fim;
Eu já não tremo no fatal delírio...
Foi o martyrio que deixou-me assim!
O bardo é triste, no florir da
idade,
Pranto e saudade foram seus laureis...
Que tem que o bardo, que viveu sem flores,
Chore os amores e te caia aos pés?!...
Pranto e saudade foram seus laureis...
Que tem que o bardo, que viveu sem flores,
Chore os amores e te caia aos pés?!...
Um dia, virgem, na fatal romagem,
Sem ter coragem de seguir, parei;
Foi junto ás ondas, que corriam mansas,
Que de esperanças eu então chorei! ...
Sem ter coragem de seguir, parei;
Foi junto ás ondas, que corriam mansas,
Que de esperanças eu então chorei! ...
Vinha de climas em que o céo não
fala,
Nem mesmo embala a viração a flôr,
Nunca tivera lá do sol de maio
Languido raio que lhe désse amor!
Nem mesmo embala a viração a flôr,
Nunca tivera lá do sol de maio
Languido raio que lhe désse amor!
Cantei num pranto a mocidade, a
vida...
Então, querida, me estendeste a mão;
Disseste: - “Poeta, tua voz suspira,
Vibra na lyra virginal canção.”
Então, querida, me estendeste a mão;
Disseste: - “Poeta, tua voz suspira,
Vibra na lyra virginal canção.”
Tremi, fitei-te na fulgente
areia.
Linda sereia junto a mim, de pé...
- “Não venha, (disse) me falar nest’hora,
Minh’alma chora, já não tenho fé!
Linda sereia junto a mim, de pé...
- “Não venha, (disse) me falar nest’hora,
Minh’alma chora, já não tenho fé!
Meu Deus, perdi-me!... Como
estavas linda!
Vejo-te ainda, como então te vi;
Morena, pallida, num sorrir divino
O meu destino foi entregue a ti.
Vejo-te ainda, como então te vi;
Morena, pallida, num sorrir divino
O meu destino foi entregue a ti.
Pergunta á nuvem para onde vôa,
Quando rebôa um furacão veloz?!...
Mas não perguntes onde fui perdido,
Por ter ouvido tua meiga voz.
Quando rebôa um furacão veloz?!...
Mas não perguntes onde fui perdido,
Por ter ouvido tua meiga voz.
A nuvem bela não succumbe á
morte:
Do sul ao norte, o firmamento é seu;
Maguas de poeta, quem poderá vêl-as?
Nem as estrellas, e nem tu, nem eu!...
Do sul ao norte, o firmamento é seu;
Maguas de poeta, quem poderá vêl-as?
Nem as estrellas, e nem tu, nem eu!...
O teu vestido acompanhei demente
Na febre ardente, soluçando a rir!
Teus olhos negros me disseram: “Ama”
E ardi na chamma, sem poder fugir.
Na febre ardente, soluçando a rir!
Teus olhos negros me disseram: “Ama”
E ardi na chamma, sem poder fugir.
Nesses olhares renovei a vida,
A fé perdida nessa immensa dôr!
Cheio de maguas reviver senti-me,
Na fé sublime dum celeste amor.
A fé perdida nessa immensa dôr!
Cheio de maguas reviver senti-me,
Na fé sublime dum celeste amor.
Quando á janella do salao
chegavas
E ahi folgavas sem de mim ter dó,
Nunca me viste, como num degredo,
Sobre o lagedo, taciturno e só.
E ahi folgavas sem de mim ter dó,
Nunca me viste, como num degredo,
Sobre o lagedo, taciturno e só.
Foi-se o delirio que eu julgava
eterno,
Vivo no inferno, meu destino o quiz;
Minh’alma dorme, não se agita inquieta,
Quem era um poeta para ser feliz?!
Vivo no inferno, meu destino o quiz;
Minh’alma dorme, não se agita inquieta,
Quem era um poeta para ser feliz?!
quarta-feira, 14 de agosto de 2019
ARTIGO - Uma oposição fraca e desorganizada ( Padre Carlos )
Uma
oposição fraca e desorganizada
O Brasil vive hoje uma das piores
crises de toda a sua história. É a crise política, institucional, econômica e
acima de tudo uma crise ética. Não há dia que se passe, sem que o noticiário
reproduza um escândalo do governo e da falta de decoro do presidente. E não
falamos apenas como político, mas como sociedade. A crise é maior e mais
profunda que se possa imaginar. Destacar este ou aquele caso isolado é
querer escolher um bode expiatório para este grande mar de lama.
Diante disto, não podemos negar que
um dos principais papeis no jogo político e democrático é exercido pela
oposição. Ela é o que costumamos chamar de contraponto do poder. A alternativa
de projeto de governo. É justamente neste ponto que gostaria de chamar atenção
do leitor, na perspectiva de que a democracia é o contraditório, realmente é
ruim para a democracia ter uma oposição fraca e desorganizada como constatamos
nas duas votações no Congresso. Não temos um projeto alternativo para as pautas
neoliberal deste governo. Somos minorias e em decorrência disto, temos que ter
capacidade para dialogar com o centro e lideranças capazes de deslocar parte
destas forças em torno de um projeto político.
Mas sem uma liderança capaz de fazer este trabalho e um projeto de
esquerda alternativo, continuaremos batendo cabeça no parlamento, e amargando
as derrotas imposta pelo governo.
.
Democracia não é a ditadura da
maioria. O regime democrático requer condições básicas para funcionar, tais
como liberdade de imprensa, limite constitucional ao governo, independência dos
poderes e uma sólida oposição. Todos esses importantes pilares estão
enfraquecidos no Brasil. O último deles é justamente o foco deste artigo.Primeiro que toda oposição no Brasil, via de regra, já foi situação, o que remete a lógica de que deveria conhecer os caminhos, saber exatamente onde estão às falhas, as brechas e as chances para sairmos desta inercia que a esquerda e o campo democrático se encontram.
No Brasil do “faz-de-conta”, criar dificuldades para vender facilidades, sempre foi uma prática política entre oposição e situação é que uma governa e a outra aguarda sua vez. A oposição tem que entender, qual o seu papel e da sua importância neste momento em que a democracia esta sob ataque. Ela tem que funcionar como fiscalizadora da Constituição e do Estado de Direito. Um governo autoritário e sem compromisso com uma boa administração, se não tiver uma oposição que saiba dialogar com outras forças dentro do parlamento, termina se isolando e deixando que o governo imponha sua pauta impopular e neoliberal. Ocorre que o papel da oposição é denunciar e corrigir os erros do governo.
Mais qual papel de fato que a sociedade espera que a oposição exerça neste momento tão difícil que o país atravessa? Com certeza não é a oposição feita com fígado e ideológica, tampouco a oposição pelega e adesista, estas Já estão fora de moda. Queremos uma oposição que possa dialogar com setores de centro e proponha um projeto alternativo ao que está sendo apresentado.
Sim, uma oposição que, conhecendo os caminhos, aponte e crie soluções. Que além do discurso fácil das tribunas, contribuía com propostas e projetos, não para governos, mas para a sociedade. Não para a conveniência partidária ou pessoal, mas para representar com esmero aqueles que realmente interessam: o povo brasileiro.
Padre Carlos
terça-feira, 13 de agosto de 2019
ARTIGO - O Papa e a boa política ( Padre Carlos )
O Papa e a boa política
A crítica simplista dos políticos
abre caminho aos populismos que crescem não só no Brasil, mas em todo o Mundo.
Estes, como sabemos, começam por denunciar os defeitos
das democracias para justificar o seu autoritarismo e, quase sempre, terminam em ditadura.
Por isso, sempre fico preocupado com as referências às
críticas aos políticos, acho que a nossa imprensa teve e tem uma parcela de
culpa em tudo que aconteceu em nosso país. Quando um seguimento da sociedade
entra no caminho dos que exploram os descontentamentos com a classe política
para impor ideias, semear a xenofobia, agitar a bandeira do nacionalismo e
capitalizar receios em benefício dos seus projetos totalitários, poderemos
admitir que chegamos ao fundo do poço.
Assim, ao levantar estas questões, não quero esconder nem ser
conivente com os vícios da política atual. Desde logo, coloco aqui a corrupção
- nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de
instrumentalização das pessoas -, a negação do direito, a falta de respeito
pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, como as maiores agressões a
democracia que alguns políticos praticam.
Não quero aqui falar dos desmandos dos políticos. Aliás,
gostaria de dizer que nosso objetivo é falar da "boa política".
Assim, gostaria de lembrar para os leitores, que a função e a responsabilidade
política constituem um desafio permanente para todos aqueles que recebem o
mandato de servir o seu país, proteger as pessoas que moram nele e trabalhar
para criar as condições de um futuro digno e justo. Se for implementada no
respeito fundamental pela vida, pela liberdade e pela dignidade das pessoas, a
política pode tornar-se uma forma eminente de caridade.
O próprio Papa reconhece a importância da classe
política, quando declara “bem-aventurados os políticos que têm uma alta noção e
uma profunda consciência do seu papel". Os políticos que gozam de
credibilidade, que trabalham para o bem comum, que realizam a unidade, que
estão comprometidos na mudança, que sabem escutar e que não têm medo. São esses
os atores da "boa política" e os verdadeiros guardiões da paz no
Mundo.
Os outros são os que recorrem à "estratégia do
medo", de dividir para reinar. O Papa denuncia que "não são
sustentáveis os discursos políticos que tende a acusar os migrantes de todos os
males e a privar os pobres da esperança. Ao contrário, deve-se reafirmar que a
paz se baseia no respeito por toda a pessoa (...), no respeito pelo Direito e o
bem comum, pela criação que nos foi confiada e pela riqueza moral transmitida
pelas gerações passadas".
Vamos pedir ao Santo Padre, que coloque os nossos
políticos nas suas orações e que o nosso bom Deus, favoreça os políticos de
hoje, iluminando-os nos caminhos da "boa política"!
Padre Carlos
segunda-feira, 12 de agosto de 2019
ARTIGO - Os católicos precisam de um partido ( Padre Carlos )
Os católicos precisam de um partido
Os
partidos políticos defendem um determinado programa de governo e busca a partir
de ações politica construírem um projeto de poder que lhe der sustentação para
aplicar seu programa.
Apesar de no passado, e ainda hoje, alguns dos partidos
se classificarem como de inspiração cristã, não é fácil encontrar aqui no
Brasil um que respeite todos os princípios da Doutrina Social da Igreja - ou os
ensinamentos do Papa.
Ainda que todos os partidos defendam e incluam nos seus
programas o respeito pela dignidade da pessoa, o bem comum, a solidariedade -
princípios contidos na Cartilha de Orientação Política que a CNBB propôs, publicada
no ano passado, a propósito das eleições, não contemplaria um projeto em torno
dos parlamentares católicos, devido às visões de mundo das correntes de
pensamentos dentro das agremiações que estes fazem parte.
Assim, termina estes partidos tendo um entendimento diferente
da sua concretização. Uns concordam com os bispos na defesa da vida desde a concepção
até à morte natural. Mas afastam-se deles na condenação da "economia que
mata", na "autonomia dos mercados" ou no acolhimento devido aos
mais pobres. Outros são mais sensíveis ao apelo do Papa não por convicções da
Doutrina Social da Igreja, mas, por questões humanistas (assumido pelos bispos
brasileiros) para "Direitos Humanos e Ecológicos", mas defendem o
aborto ou a eutanásia, que aqueles condenam.
Por isso, não é possível encontrar um partido em que
todos os cristãos (católicos) se revejam. Até porque, como qualquer cidadão,
uns são mais sensíveis a determinadas causas e não valorizam tanto outras. Isto
permite que, mesmo defendendo os mesmos princípios, os cristãos possam optar
por votar em partidos diferentes. Escolhem aquele que acham que os pode representar,
ou governar, melhor.
Assim sendo, o conjunto do episcopado não acha correto
que aqueles que estão investidos de autoridade na Igreja deem uma indicação aos
fiéis daquele que deve ser o seu voto, como não o fazem os bispos brasileiros
na referida Cartilha. Compete-lhes, apenas, propor princípios, de acordo com os
quais cada um possa tomar a decisão do partido em que votar. Para a grande
maioria dos nossos bispos, não se devem tomar parte no jogo
político-partidário, mas não podem abdicar de denunciar as situações em que os
valores e os princípios que defendem não são respeitados, principalmente quando
a democracia estiver ameaçada por políticas que defendam a tortura e a morte.
Esta posição de neutralidade do episcopado brasileiro
favoreceu de certa forma as Igrejas Evangélicas a criarem um projeto de poder e
formar uma bancada que terminou influenciando nas ultima eleições. Este projeto
se estende aos três poderes e coloca em risco não só a concepção de estado
laico, mas a própria democracia.
Os objetivos dos evangélicos não se restringem mais nas temáticas institucionais,
relacionadas à isenção fiscal, alvará de funcionamentos das igrejas, doações de
terrenos, distribuição de concessão de rádios e TV, a transformação de eventos
evangélicos em eventos culturais pra receber financiamento da Lei Rouanet,
questões relacionadas à lei do silêncio. Aí eles atuam de forma articulada,
como um bloco, convergem em nome desses interesses, como em relação a questões
morais. Agora eles querem o poder e não escondem os seus
objetivos.
Enquanto os
pastores são os grandes protagonistas no parlamento brasileiro, aos nossos clérigos
fica vedada uma participação ativa nos partidos e nas atividades políticas, o
que eu acho um erro. A questão, porém, não é apenas quantos representantes
evangélicos há na Câmara dos Deputados, mas as alianças que estão sendo feitas
estrategicamente, a chamada bancada evangélica. Porque isso é interessante, e
não somente a parcela que conseguiram – como já disse, entre 20%. Mas um ponto
importante é a famosa bancada BBB
(Bíblia, boi e bala), que agora passou
a ser BBBB: Bíblia, boi, bala e Bolsonaro. Então, quando essas bancadas se
juntam, aí sim, temos uma força importante. Ou seja, se todos os evangélicos se
unissem, eles seriam o maior partido político do Brasil.
Não é fácil para os cristãos católicos fazerem o contra
ponto com esta maquina eleitoral. Uma boa parte dos candidatos ligada a nossa
igreja muitas vezes não contam nem com o apoio de seu pároco e assim, terminamos
entrado nesta disputa de poder de forma desorganizada. Até quando vamos ignorar
este problema.
Padre Carlos
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