segunda-feira, 9 de setembro de 2019

ARTIGO - O nascedouro das CEBs Padre Carlos)





O nascedouro das CEBs





            As CEBs nasceram antes de Medellín, mas sua efervescência se dá na década de 70. Preocupada com a luta social e a dura vida do povo latino-americano, a Igreja Católica e os cristões, fazem um compromisso social radical em nome da fé, mostrando que o maior problema da fé na América Latina não estava em questões dogmáticas, mas em como enfrentar à sua luz a situação de opressão, de exploração das grandes massas populares.
            Jesus, quando diz bem-aventurado o pobre, o que chorou, o aflito, o que sofre, o que perdoou..., vem acabar com a nossa inercia e a forma de pensa que as coisas não podem mudar, de quem deixou de crer no poder transformador de Deus Pai e nos seus irmãos, especialmente nos seus irmãos mais frágeis, nos seus irmãos descartados.
     
       Foi, portanto, através do engajamento social e político que a Teologia da Libertação e seus teólogos encontraram um meio de resistência ao sistema político imposto pelas ditaduras militar que se espalhavam em todo o continente.
            Durante o período de chumbo, a Igreja era vista como uma organização subversiva e perigosa para os regimes. Quem não viveu esta quadra da história, não entende porque a Teologia da Libertação não foi aceita pela Santa Sé. Afinal de contas, essa doutrina lutava pelos pobres, pelo direito de todos e pela igualdade social. É claro que a defesa dos pobres e o trabalho social que realizaram eram positivos e importantes à sociedade, mas os leigos e religiosos muitas vezes esqueciam o verdadeiro sentido da Fé e acabavam em um ativismo, visando apenas à liberdade social e deixando de lado a espiritualidade, assim, nas ultimas décadas este tema foi abordado de forma sistemática.
            Elas representam um novo jeito de ser Igreja. Os pobres se identificavam com esse jeito de ser Igreja e é a maioria nessas comunidades. A leitura da Bíblia, as orações, os cantos, eram uma forma de alimentar a esperança e lutar por sua libertação. A partir das CEBs surgiram vários movimentos populares que lutavam por melhores condições de vida, reforma agrária, liberdade de associação sindical etc.
Possibilitaram que estas se organizassem através de formas "alternativas" de protestos e reivindicações, lutando por melhores condições de vida, alterando sutilmente, as mais duras formas de censura e repressão impostas pela ditadura.
            Muitos religiosos e religiosos iniciaram uma Vida Religiosa inserida em meios populares antes de Medellín e contribuíram para o nascimento das CEBs e das lutas populares. Muitos bispos e padres também colocaram em prática o Pacto das Catacumbas vivendo inteiramente como pobres, com os pobres e para os pobres.
      
      A partir do momento em que a Igreja estreitou seus laços com os outros segmentos sociais, principalmente as classes populares, e passou a se levantar contra o regime, diversos membros passaram a ser perseguidos e serem alvos da repressão policial.
            Hoje olhando pra traz e vendo os caminhos que percorremos nestes mais de meio século, podemos afirmar que quem procura a paz, tem que trabalhar pela justiça e quem está  procurando justiça, tem que ter como primícias a defesa intransigente da vida.


Padre Carlos










domingo, 8 de setembro de 2019

ARTIGO - Aparelhar o Estado ( Padre Carlos )





Aparelhar o Estado


            Na história da Branca de Neve, se bem me lembro, a Rainha Má, ou Madrasta, perguntava ao espelho se havia no mundo alguém mais bonito do que a própria. Neste caso, a pergunta é obviamente bem diferente, e não é uma história de ficção, é a realidade, e não preciso de perguntar a nenhum espelho, nem a nenhum polígrafo. Tenho a certeza de que não há quem discorde de mim quanto o aparelhamento do Estado brasileiro nestes últimos meses.

           Em pouco mais de nove meses de Governo de Jair Bolsonaro no Brasil, à direita e a mídia tradicional do país (ainda é a mesma?) passaram a colocar em pratica seu projeto. Durante os trezes anos de governo, à direita e os grandes conglomerados de comunicação do país, acusou o PT de aparelhar o Estado, isto foi feito de forma deliberada que se tornou uma espécie de mantra que, repetido por tanto tempo, acabou ganhando ares de verdade e se espalhou pelo resto do povo: o PT teria aparelhado o país.
            A máquina pública que o Partido dos Trabalhadores foi acusado de ter aparelhado foi à mesma que apeou Dilma do poder, A estrutura burguesa que se escondeu sobre o manto do Estado brasileiro tentou por anos, derrubar este governo que se elegeu de forma democrática, até conseguir fazê-lo em 2016. Um movimento político que, três anos depois, culminou com a subida ao poder de Jair Bolsonaro. O atual Presidente dizia durante a campanha, que o PT tinha “aparelhado o governo”, agora que a mascara vai caindo, podemos constatar como a direita controlava o Estado e como este projeto de governo estava atrelado ao aparelhamento que a burguesia impôs as instituições e ao conjunto do Estado brasileiro. Só diante de todas estas evencias este governo vai dando mostras, porém, de que é ele quem vai realizar um dos maiores aparelhamentos do Estado já vistos na história do Brasil.
            O que, mas chama a atenção que, nos comentários e entrevistas, este governo assume de forma escancarada o aparelhamento do Estado, para colocá-lo a serviço de um projeto de poder nada democrático e republicano. Considera-se a importância com as estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, assim como as vagas que terão direito no Supremo Tribunal.
        
    Na verdade cometemos alguns erros e um deles foi não encarar a forma burguesa do Estado brasileiro.  Nossa tática foi a da conciliação de classe sem construção de retaguardas. Havia a crença de que era possível estabelecer um pacto social com a burguesia para um processo lento, gradual e seguro de mudanças sociais que, em médio prazo, nos levariam à construção do tão sonhado estado de bem-estar social à brasileira.
            E assim, de sequestro em sequestro, as nossas riquezas e à democracia, em apenas nove meses de Governo, vão sendo lapidado. Vai ficando claro cada vez mais, que o Brasil parece, mesmo, ter adentrado um “Estado Novo”. Uma era em que o público e o privado se confundem com a família Bolsonaro, num movimento em que a máquina pública vai, aos poucos, perdendo todos os seus resquícios democráticos para ganhar a cara de uma elite política cujo único objetivo é entregar as riquezas do país ao capital estrangeiro enquanto arrocha ainda mais a classe trabalhadora.

Padre Carlos

sábado, 7 de setembro de 2019

ARTIGO - "Bela amizade" (Padre Carlos)





"Bela amizade"



            Ao ler as correspondências entre José Saramago e Jorge Amado, pude constatar como foi se formando uma "bela amizade" entre os dois escritores de língua portuguesa. E confesso aos senhores que meus amigos da infância e juventude apareceram naquelas epistolas e assim, voltei a conversar com cada um deles em suas respectivas épocas.
    
        Falar o quanto vocês foram importante na minha vida é pouco, porque uma amizade como a nossa merece um reconhecimento verdadeiro, merece um memorial. Acredito que se ousássemos escrever, seria pelas mãos de um menestrel, pois este livro seria um privilégio dos pouquíssimos afortunados como na Idade Média, que sabiam ler e podiam comprá-los, pois, por ser copiada a mão, eram raríssimos e também muito caros. Mereceria ser descrita no infinito para que todos pudessem entender o que realmente ela representa na vida de cada um de nós, como fomos nos constituindo como pessoas e como estes laços foram fundamentais na nossa formação. Lembra-se do Nordeste de Amaralina, eu sei que você lembra da Pituba, do PT do Grupo de Jovens e dos amigos de Vitória da Conquista no Seminários de filosofia e teologia e na caminhada dos nossos sonhos.
“Você lembra, lembra
Daquele tempo
Eu tinha estrelas nos olhos
Um jeito de herói
Era mais forte e veloz
Que qualquer mocinho de cowboy”.
            Eu sei que o tempo passou, meus cabelos estão brancos como um capucho de algodão e que as prioridades são outras, porem no meu interior o menino, o jovem que vocês conheceram ainda esta debaixo deste corpo envelhecido. Tenho a sensação que vocês jamais deixaram de existir dentro de mim, no mais intimo, nas minhas lembranças e passaram a ser, uma coroa que o tempo dá aos nobres para provar-lhes a bravura diante de todos, isto é, um presente em minha vida.
            Acho que Oswaldo Montenegro desafia a gente para fazer este exame de consciência e descobrir se lembramos do que nos propomos a ser.
“Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar”.
         
   No mês de janeiro, vou completar sessenta anos e posso dizer que vivi um pouco para entender que alguns homens esperam do amigo apenas vantagens e benefícios, estes não são dignos de amizade. Foi através dos estudos da filosofia, que pude ter oportunidade de conhecer os valores éticos e moral da amizade; somente os homens bons podem cultivar essa afeição, pois neles encontram-se fidelidade, integridade, equidade e liberalidade.  A palavra companheiro ou amigo tem sua origem latina cum – pane; que significa comunhão, isto é "o que come do mesmo pão, na mesma mesa". Tenho certeza que os romanos queriam demostrar que O prazer dos banquetes não estava nos pratos, mas nos companheiros que nos acompanhavam à mesa.  A minha mesa, a nossa mesa da vida.

Padre Carlos

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

ARTIGO- Soberania e o sete de setembro (Padre Carlos)




Soberania e o sete de setembro


            Um dos marcos de identidade de um país, sempre será relacionado à sua independência. A celebração da nossa libertação do jogo português é um traço comum em nossa terra natal, de dimensão continental, seu papel além de fato histórico, é buscar unir o povo em um projeto coletivo, criando uma identidade em todo o território nacional.

            Para além de lamentável, é absolutamente vergonhoso que um Governo considere que um país, que seu povo, passa melhor sem memória coletiva, sem símbolos, sem identidade.   Não podemos negar que foi a estupidez deste governo em relação ao meio ambiente e o estímulo à exploração de garimpeiros, madeireiros e ruralistas em áreas preservadas que levou nestes últimos dias ao caos ambiental.
         
   Neste sete de setembro, gostaria de ressaltar, que a soberania é um dos alicerces que dá sentido ao projeto de nação. A soberania é o direito que a população tem sobre suas riquezas, sobre suas empresas. “Soberania nacional significa futuro de um país.”

            Quando falo estas coisas, me refiro da necessidade de resgatar a memória e só se resgata celebrando. Quando memorizamos, isto é, resgatamos a memória, festejamos nossas vitórias e passamos para os mais novos o quanto ela é importante e da necessidade de manter estas conquistas.

            As forças progressistas precisam entender, quando falo isto não me refiro apenas os partidos de esquerdas, mas também aos democratas e nacionalistas, da importância de lutar pelas nossas riquezas e da independência nossa em relação à auto-suficiência em petróleo e a exploração da camada do pré-sal, elas só retornarão, se forem concebidas como um projeto de nação.

            A "Campanha do Petróleo", 1948 – 1953, cujo lema, "O Petróleo é Nosso", ganhou as ruas de todo o país.  Esta luta, enfrentou uma série de obstáculos, como o boicote da grande imprensa, a repressão policial, a hostilidade do empresariado, entre outros.

            Assim, fica evidente que o monopólio do petróleo não foi uma conquista fácil, e quando trago estes elementos a tona, é para lembrar aos brasileiros, que não basta conquistar, é preciso celebrar as nossas conquista, para que as novas gerações saibam valorizar todo o esforço empreendido por uma geração, para que tivéssemos independência.

       
       A atual e triste realidade brasileira neste sete de setembro, ajuda na compreensão do conceito de soberania nacional, pela contradição que a direita brasileira impõe à classe trabalhadora. Agora, está claro que o governo que aí está não é nada nacionalista, eles não têm nenhum interesse em defender a Nação. Até o Comando das Forças Armadas abandonaram o conceito de defesa da Nação, quando se omitiram em relação as política predatória a nossa Amazônia; o silencio diante de tantos desgovernos e gestos entreguista não faz jus à reputação que goza no seio da sociedade. Assim, temos o preto como o luto em respeito a nossa Independência.
            Vamos celebrar a independência e todas as conquistas que a classe trabalhadora ainda não perdeu. “Verás que um filho teu não foge à luta”

            “ Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada Brasil!”
           
Padre Carlos


quinta-feira, 5 de setembro de 2019

ARTIGO - Personalidade do Ano de 2020 ( Padre Carlos )



Personalidade do Ano de 2020




         Antes de descobrimos o conluio que existia na república de Curitiba, achávamos que era justo as Pessoas do Ano serem escolhidas entre juízes e policiais que tem como função corrigir nossos erros do passado. Se parássemos na época para avaliar as nossas escolhas, teríamos diagnosticado a neurose coletiva que se abateu sobre o nosso país, só assim, poderíamos justificar as escolhas no lugar de pessoas que constroem nossas riquezas, políticos, empresários, intelectuais.
  
       Durante toda a nossa história, as elites mantiveram relações promíscuas enriquecendo empresários, políticos e partidos sem que a nossa imprensa se preocupasse em denunciar estes fatos, já que elas sempre fizeram parte deste métier. Mas, em 2015, um fato novo chama atenção dos cientistas políticos, as mesmas famílias que se beneficiaram com todo tipo de mazelas, descobriram em um raro momento de lucidez que o Brasil foi tomado pela corrupção medida em bilhões.
         Descobrimos que aquele fato era inédito e um partido que não era os seus aprendeu a jogar muito bem dominando melhor que seus representantes as regras dos seus jogos.
         Este partido não só aprendeu as regras do jogo, como também descobriu ainda que além desta “corrupção no comportamento dos políticos” há uma “corrupção nas prioridades da política” quando mesmo sem roubo de dinheiro para bolsos privados, há desvio de dinheiro de obras do interesse da população e da nação para obras de interesse de minorias privilegiadas e passou a inverter estas prioridades.
         O Estado e o Governo passaram a entender, que um prédio estatal de luxo ao lado de favelas sem água e esgoto é corrupção, mesmo que não haja superfaturamento, nem propina é considerado um crime contra os mais pobres deste país.
         Descobrimos que a crise econômica que vinha sendo anunciada por muitos analistas era fruto de um grande esquema “estava bem, mas não ia bem”, porque o sintoma da crise não chegava às camadas mais baixa que eram os mantenedores deste projeto e precisava tornar visíveis, assim os observadores das elites partiram para criar uma conjuntura desfavorável.
         Depois de apear Dilma do poder, como Lacerda tentou fazer com Vargas em 1954, temos a noção do que aconteceu. Agora, além de não termos um projeto de desenvolvimento, temos recordes negativos de desemprego, desvalorização cambial, recessão, déficits nas contas públicas, mas descobrimos que nossa crise dá sinais não de uma decadência estrutural, mas, por falta de um projeto que possa tirar o nosso país da crise que as elites colocaram com o golpe parlamentar.
     
    Este foi um ano de descobertas graças a Vasa Jato, descobrimos que procuradores, policiais e juízes, não serão as personalidades do ano e por isso, os Moros, os Deltan e os policiais da PF não serão os brasileiros do ano 2020.
         Esperemos que no ano que vem, possa ser um ano de início de construção, e os brasileiros do ano sejam cientistas, empresários, políticos, artistas, atletas, filósofos fazendo o certo e o novo. Para isso, é preciso que, daqui para frente, os brasileiros de cada ano sejam os eleitores que escolhem os construtores do futuro.


Padre Carlos



quarta-feira, 4 de setembro de 2019

ARTIGO - O futuro começa na urna. ( Padre Carlos )





O futuro começa na urna.



            Às vésperas de mais um ano eleitoral, programada para outubro 2020, os brasileiros se voltarão para aquele que é o momento mais importante e que definirá os destinos das nossas cidades – pelos próximos quatro anos.
            À primeira vista, alguns podem até imaginar que Bolsonaro e suas reformas assassinas, fazem parte de uma realidade distante e que pouco tem a ver com o voto local. Entretanto, talvez tenha sido justamente por relegar o momento eleitoral a segundo plano que hoje a sociedade brasileira assiste incrédula, o desmonte do Estado Brasileiro sendo vendido os seus patrimônios a preço de banana e o descaso com as coisas públicas.
     O Brasil só vai voltar a crescer e ter esperança novamente, se essa mudança começar nas cidades, com a eleição de prefeitos e vereadores dignos do nosso voto e da nossa confiança.
      
      As eleições do ano que vem, tem uma dimensão e uma importância ainda maior nesta quadra delicada pela qual passa o país. O poder local é fundamental e deve ser fortalecido, não apenas de forma institucional, tem que se dá também com os movimentos populares e as forças de esquerdas.
            Afinal, não vivemos nos Estados ou na União, mas nos bairros, nos municípios, nas cidades, e é nelas que devemos exercer, primordialmente, nossos direitos e deveres como cidadãos. Entre eles, está o compromisso do voto – e o objetivo comum a todos deve ser escolher os melhores representantes para os Executivos e Legislativos municipais e temos parâmetros para medir.
            Em meio à maior recessão da história brasileira, gerada pela incompetência e irresponsabilidade do governo que aí está e que não tem projeto de desenvolvimento, fica difícil para qualquer prefeito administrar sua cidade. A condução da nossa economia, não pode ser terceirizada segundo os interesses do sistema financeiro. Não será fácil para o Brasil se recuperar desta crise criada pela inercia de politicas de desenvolvimento, e retomar o caminho do patamar que alcançamos nos governos de Lula e Dilma.
            Precisamos com urgências de medidas necessárias para fazer o país voltar a crescer. Por isto, temos que escolher verdadeiros administradores para vencer esta crise e colocar no comando das Prefeituras das cidades brasileiras políticos capazes e responsáveis para levar adiante essa tarefa de reconstrução nacional.
            Seja nos pequenos, médios ou grandes municípios, a atuação de gestores públicos conscientes do momento enfrentado pelo país será determinante para superarmos a terrível herança desta crise criada pela direita brasileira.
            Apesar de está sendo importante para o Brasil a Vasa Jato, onde passamos a tomar conhecimento de nossas instituições e a forma como O Ministério Público e o Judiciário interferiram no processo eleitoral, precisamos voltar a acreditar na democracia, apesar de achar que temos que tomar medidas extremas para punir quem cometeu ilegalidades – mas, evidentemente, não podem ser motivo de júbilo ou comemoração por quem quer que seja.
            O ideal é que vivêssemos em um país no qual procurador e juiz se comportassem de forma digna no exercício do cargo e concluíssem seus inquéritos de forma imparcial. Se, por um lado, a anulação destas sentenças demonstra o reconhecimento das injustiças cometido a algumas pessoas, o vigor da democracia brasileira, por outro também escancara o quanto ainda estamos distantes do país que queremos construir.
  
          A jornada é longa, o caminho é tortuoso, mas o processo é inevitável. Não há outra possibilidade de desenvolvimento para o Brasil além do voto consciente e da fiscalização permanente dos representantes que elegemos.
            As eleições municipais que se aproximam podem significar o primeiro capítulo de uma nova página que os brasileiros começarão a escrever.
            O tamanho do nosso compromisso e a responsabilidade com a qual exerceremos nosso direito inalienável ao voto será proporcional às chances de transformarmos as cidades e o país.


Padre Carlos

terça-feira, 3 de setembro de 2019

ARTIGO - Pequenas Igrejas, grandes negócios.(Padre Carlos)




Pequenas Igrejas, grandes negócios.


            As crenças e a fé dos brasileiros sempre deram origem a uma proliferação de empresas religiosas, fruto, talvez, do empreendedorismo e da criatividade da nossa gente em contextos de miséria humana e de desesperança. Hoje vemos que estas empresas da fé estão concentradas nas periferias das grandes cidades. Ou seja, espaços dominados por milícias e tráficos com fraca ou inexistente presença do Estado.
     
       A escolha de uma área não é deixada ao acaso, porque a localização destas organizações demonstra, desde logo, uma estratégia para conquistar parcelas deste público, que se encontra desamparada e assim, acabam por receber a esperança como produto. Estes comportamentos servem acima e tudo os interesses das bancadas evangélicas que transformam a fé das suas ovelhas em bases eleitorais. Ou seja, há um ciclo vicioso que traz mútuos ganhos para as empresas da fé e para os governos, sejam de esquerda ou direita.
            De facto, as empresas da fé precisam tanto de fiéis como os governos autoritários ou populares precisam de seguidores que não questionem nem se interessa por política. Demonstrando, assim, que a fé dos brasileiros tem servido, sobretudo, para encontrar um caminho para a salvação eterna individual, sem provocar qualquer ato de transformação política, remetendo muitos brasileiros para a condição de súdito de uma fé cega, ou de não sujeitos.
            Os súditos da fé entregam-se a uma doutrina religiosa cristã que defende que a bênção financeira é o desejo de Deus para os cristãos e que a , o discurso positivo e as doações para os ministérios cristãos irão sempre aumentar a riqueza material do fiel. Desta forma, determinam que a única mudança deve ocorrer através da realização de milagres. Assim, quando um dos membros dessas comunidades consegue ser bem-sucedido o resultado acaba por ser apresentado como uma obra divina, não sendo dado qualquer crédito às suas capacidades humanas.
            A realização humana de um súdito da fé é apresentada e celebrada como o fruto do seu investimento nos caminhos da fé. Tal dedicação religiosa acaba por conduzir a uma forma de aprisionamento e colocar os membros numa situação de incapacidade, afastando-os das lutas políticas e sociais com vista à construção de um bem-estar social coletivo.
  
          Esta postura social de muitos brasileiros pode servir para explicar, o fenômeno da extrema direita, que persistem livres de quaisquer tipos de pressão social e política radical. Por isso, atualmente, os partidos, até os de matriz socialista, outrora críticos do obscurantismo religioso, aceitam e acolhem figuras religiosas na sua estrutura partidária. A cooptação dessas figuras religiosas permite exercer um controle das mentes e das ações populares de desestabilização buscado assim um enfraquecimento da própria democracia.
            Portanto, este comportamento da população em geral, e da juventude em particular, pode ser explicado pelo impacto da fé que motiva uma paralisia mental e inércia social impedindo assim rupturas políticas. Ou seja, a proliferação da fé é um produto incentivado pelos regimes que, deste jeito, controlam os líderes empresariais da fé para evitar qualquer tipo de insubordinação política e social.

Padre Carlos






ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...