domingo, 8 de setembro de 2019

ARTIGO - Aparelhar o Estado ( Padre Carlos )





Aparelhar o Estado


            Na história da Branca de Neve, se bem me lembro, a Rainha Má, ou Madrasta, perguntava ao espelho se havia no mundo alguém mais bonito do que a própria. Neste caso, a pergunta é obviamente bem diferente, e não é uma história de ficção, é a realidade, e não preciso de perguntar a nenhum espelho, nem a nenhum polígrafo. Tenho a certeza de que não há quem discorde de mim quanto o aparelhamento do Estado brasileiro nestes últimos meses.

           Em pouco mais de nove meses de Governo de Jair Bolsonaro no Brasil, à direita e a mídia tradicional do país (ainda é a mesma?) passaram a colocar em pratica seu projeto. Durante os trezes anos de governo, à direita e os grandes conglomerados de comunicação do país, acusou o PT de aparelhar o Estado, isto foi feito de forma deliberada que se tornou uma espécie de mantra que, repetido por tanto tempo, acabou ganhando ares de verdade e se espalhou pelo resto do povo: o PT teria aparelhado o país.
            A máquina pública que o Partido dos Trabalhadores foi acusado de ter aparelhado foi à mesma que apeou Dilma do poder, A estrutura burguesa que se escondeu sobre o manto do Estado brasileiro tentou por anos, derrubar este governo que se elegeu de forma democrática, até conseguir fazê-lo em 2016. Um movimento político que, três anos depois, culminou com a subida ao poder de Jair Bolsonaro. O atual Presidente dizia durante a campanha, que o PT tinha “aparelhado o governo”, agora que a mascara vai caindo, podemos constatar como a direita controlava o Estado e como este projeto de governo estava atrelado ao aparelhamento que a burguesia impôs as instituições e ao conjunto do Estado brasileiro. Só diante de todas estas evencias este governo vai dando mostras, porém, de que é ele quem vai realizar um dos maiores aparelhamentos do Estado já vistos na história do Brasil.
            O que, mas chama a atenção que, nos comentários e entrevistas, este governo assume de forma escancarada o aparelhamento do Estado, para colocá-lo a serviço de um projeto de poder nada democrático e republicano. Considera-se a importância com as estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, assim como as vagas que terão direito no Supremo Tribunal.
        
    Na verdade cometemos alguns erros e um deles foi não encarar a forma burguesa do Estado brasileiro.  Nossa tática foi a da conciliação de classe sem construção de retaguardas. Havia a crença de que era possível estabelecer um pacto social com a burguesia para um processo lento, gradual e seguro de mudanças sociais que, em médio prazo, nos levariam à construção do tão sonhado estado de bem-estar social à brasileira.
            E assim, de sequestro em sequestro, as nossas riquezas e à democracia, em apenas nove meses de Governo, vão sendo lapidado. Vai ficando claro cada vez mais, que o Brasil parece, mesmo, ter adentrado um “Estado Novo”. Uma era em que o público e o privado se confundem com a família Bolsonaro, num movimento em que a máquina pública vai, aos poucos, perdendo todos os seus resquícios democráticos para ganhar a cara de uma elite política cujo único objetivo é entregar as riquezas do país ao capital estrangeiro enquanto arrocha ainda mais a classe trabalhadora.

Padre Carlos

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