terça-feira, 17 de setembro de 2019

ARTIGO - Nossa ideia de justiça (Padre Carlos)






Nossa ideia de justiça





            A justiça existe para garantir a aplicação da lei e tem como razão de ser a proteção das relações jurídicas e da defesa  dos menos protegidos. Através dela, e do reconhecimento da sua existência, as sociedades tornam-se socialmente mais justa e os cidadãos são tratados de forma igual perante a lei.

            No Brasil, caminhamos em sentido contrário. O sentimento comum é o da extrema dificuldade no acesso, da morosidade sempre crescente, do clima de disputa ou conluio entre os diferentes órgãos do sistema judiciário ou mesmo entre juízes e, talvez o mais grave, os cidadãos não compreendem as decisões dos tribunais e normalmente associam-nas à condição socioeconómica dos envolvidos. Há uma justiça para os ricos e poderosos e outra, bem diferente, para os mais pobres e desfavorecidos.

     
       Quando legitimamos esta ideia de justiça e comportamento dos membros das nossas instituições no que diz respeito à parcialidade, passamos a entender que o Estado brasileiro precisa de reformas e instâncias que possam investigar seus pares e aplicar sem corporativismo as penalidades por desvio de função e abuso de autoridade. Como cidadão fico indignado com alguns órgãos da imprensa que de forma irresponsável, sem qualquer exame da veracidade, ou de jornalistas e comentaristas especializados na arte de desfazer o jornalismo, somos levados a comportarmo-nos diariamente como se fôssemos juízes, decidindo sobre a culpabilidade ou a inocência de tudo e de todos. É a justiça popular feita à medida de cada um que, muito embora não tenha como consequência a imposição de uma pena legal, traz consigo sanções que podem ser bem mais pesadas do que as aplicadas pelos tribunais.

            Paga o justo pelo pecador, diz o povo e com razão. Se olharmos apenas para os últimos anos, não houve dia em que a "justiça" não tenha estado nas primeiras páginas. Os juízes e Promotores se tornaram da noite para o dia, celebridades e como acontece no palco da vida, o mocinho a qualquer momento pode ser o vilão. Nos últimos meses temos presenciado um dos maiores espetáculos midiático com todos os requisitos de uma trama apresentada pela televisão brasileira, já que de novela ela entende. Quando o site The Intercept Brasil passou a revelar os bastidores da força-tarefa da Lava Jato, passamos a acompanhar a cada dia, toda a trama contra a democracia e as Instituições da República que esta sendo revelada agora pelas conversas vazadas, o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol se tornam nesta tragédia que não é grega, mas, muito brasileira, protagonistas de uma trama que revela não apenas o funcionamento da maior operação contra corrupção do país, mas também zonas cinzas do funcionamento do Judiciário, onde as linhas que separam o que é ilegal, imoral e legítimo sob os olhos da Justiça se confundem.

            Sabemos que estamos no terreno perfeito para as habituais frases feitas.  A justiça é a bondade medida ao milímetro. Verdades ou discurso de classe. Estas falácias terminam encerrando mentiras profundas. O tempo é a medida da justiça e é aos políticos que cabe estabelecer os princípios orientadores e dar os meios aos que estão constitucionalmente encarregados de julgar.

            A procura do justo e do correto parece ficar apenas nos manuais de direitos e nos preâmbulos da legislação. Para além da falta de responsabilidade e impunidade. É revoltante com que hoje alguns membros da justiça pautam suas decisões de acordo com a opinião pública. Em decorrência deste comportamento, assistimos à destruição de pessoas, de carreiras, de legados, ao mesmo tempo em que vão deixando arrastar decisões sobre casos em que ninguém tem dúvidas sobre a existência de crimes. Num país que parece que perdeu o rumo e a esperança, gostaríamos de acreditar que justiça perante cada acusação tem a imparcialidade de dizer se estamos na presença de um culpado ou de um inocente. É que nos dias de hoje, por ação ou por omissão do poder político e do poder judicial, isso parece que não interessa mais no jogo da justiça e da verdade…



Padre Carlos





segunda-feira, 16 de setembro de 2019

ARTIGO - Antilulismo ou antipetismo (Padre Carlos)





Antilulismo ou antipetismo


            No momento em que o PT se esforça para encontrar novas lideranças políticas capazes de se mostrar eleitoralmente viáveis, o governador da Bahia, Rui Costa, tomou à dianteira: na entrevista a VEJA, ele assume pela primeira vez que poderá ser pré-candidato à Presidência da República em 2022. Reeleito para o segundo mandato com 75% dos votos, o petista conclama os partidos de esquerda a se unirem em uma frente para pensar um projeto de país em oposição ao governo de Jair Bolsonaro. Costa considera que essa aliança não deve ser condicionada a uma defesa da liberdade do ex-­presidente Lula. Segundo ele, o PT se desconectou da sociedade brasileira e não devia ter lançado Fernando Haddad como candidato em 2018.
   
         Para os analistas, a posição desta corrente que representa o governador da Bahia, tem endereço certo e seu objetivo era criar um impacto necessário para chegar aos ouvidos do núcleo duro do lulismo. O partido vive alguns embates internos que o PED e a força eleitoral do nordeste não conseguiram ao longo dos anos resolverem. Diante de tais fatos, podemos constatar uma luta não só dentro do partido, mas também entre algumas lideranças das forças progressistas contra uma corrente que representa o Lulismo. Este núcleo duro que gira em torno do ex-presidente tem um total controle do aparelho do partido e não admite o surgimento de novos protagonista que não saiam dentro dos seus quadros e dos territórios onde tenham maioria da máquina partidária.
            Como ficou constatado, está se formando uma grande frente de oposição ao governo Bolsonaro que vai do antipetismo ao anti-lulismo e por representar setores conservadores, estas correntes não aceita o PT como força hegemônica, bem como a bandeira Lula Livre que poderia ser instrumentalizada para o crescimento de um partido em detrimento de outros.
            Protagonista é a personagem principal de uma narrativa, assim, podemos definir que PT como força hegemonizada da esquerda por três décadas, é o grande protagonista deste projeto. Apesar desta hegemonia está desgastada, não representa necessariamente que não tenha força política suficiente para superar esta crise. Sabendo disto e querendo também ocupar tal função no projeto político os aliados se posicionam para ocuparem estes espaços que foram perdidos com o antipetismo e o antilulismo. Os aliados dentro e fora do partido tentam se posicionar, compondo uma aliança para tentar ocupar o espaço do lulismo.  Mesmo com todo este capital político, PT e Lula, passam a enfrentar críticas para que se posicione em relação a um nome dentro ou fora do partido que possa representar a realidade eleitoral que estamos vivendo.
  
          Para afirmar a força do lulismo, mesmo preso, Lula liderava as pesquisas de opinião em 2018 até ser barrado pela Lei da Ficha Limpa. Foi figura central para que Fernando Haddad, seu ex-ministro da Educação, chegasse ao segundo turno. Mas Haddad perdeu a eleição. A derrota se deu, em grande parte, por causa do antipetismo. Com Lula fora de cena, seus adversários no campo da esquerda e seus aliados entendem que chegou o momento de ter uma participação maior no projeto de governo. Em política não há espaço vazio. Levantou da cadeira, saiu do lugar, logo será ocupado. É uma atividade que admite poucos, raros erros. Todo político precisa de aliados e se o ex-presidente Lula não sair logo da cadeia, terá dificuldade de encontrar um consenso no campo da esquerda e dos partidos progressistas.
           

Padre Carlos

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

ARTIGO - A importância das estampas Eucalol (Padre Carlos)





A importância das estampas Eucalol



            Os imigrantes judeus alemães Paulo e Ricardo Stern fundaram na década de vinte do século passado, no Rio de Janeiro, a Paulo Stern & Cia Ltda. Foi através desta iniciativa que foi incrementado a linha dos produtos por ela fabricados, lançando inicialmente o sabonete Eucalol.
         
   Tentando posicionar seu produto no mercado e não tendo os conhecimentos de marketing, os irmãos Stern, resolveu através de uma experiência na Europa, lançar as estampas Eucalol, convidando os consumidores a colecioná-las. Estimularam os consumidores, publicando anúncios na imprensa, em 1930. De forma geral, a pesquisa de marketing para comunicação analisa a reação dos consumidores potenciais a respeito de uma campanha e os seus efeitos. Afinal, ela é muito mais eficiente quando os objetivos estão bem desenhados. Apesar de na década de trinta os profissionais da comunicação não contar com todas estas técnicas de publicidade, a campanha foi um estrondoso sucesso. 
             A popularidade do produto foi imediato e criou uma legião de fãs entre diversas gerações. Assim, crianças e adultos passaram a colecionar as figurinhas de cartolina, impulsionando as vendas e fazendo a empresa crescer.
            Quero agradecer ao poeta Hèlio Contreiras e a todos menestréis que resgatam nos arquivos das almas as nossas lembranças e as nossas paixões. Estas são com certeza, as estrelas que um dia pontificaram nossos sonhos de Criança.
Montado no meu cavalo
Libertava prometeu
Toureava o minotauro
Era amigo de teseu
Viajava o mundo inteiro
Nas estampas eucalol
A sombra de um abacateiro
Ícaro fugia do sol.


Subia o monte Olimpo
Ribanceira lá do quintal
Mergulhava até netuno
No oceano abissal
São Jorge ia prá lua
Lutar contra o dragão
São Jorge quase morria
Mas eu lhe dava a mão
E voltava trazendo a moça
Com quem ia me casar
Era minha professora
Que roubei do Rei Lear.

       
     Colecionando e interagindo com os mitos, essas gerações tiveram oportunidade de se relacionar   com estes arquétipos, sob a forma de relato, e de um discurso sobre elementos do mundo social e/ou do mundo cultural. O mito apresentado naquelas estampas criava uma narrativa dando aqueles jovens à oportunidade de conhecer  e vivenciar estes elementos das divindade e as diversas culturas.
      
      Como pesquisador e amante da filosofia, tenho certeza que cada mito e sua importância, foi fundamental no imaginário destes jovens, que puderam sonhar e viajar através daquelas estampas. Assim, da mitologia grega a Idade Média era um pulo e o que dizer da Professora, o mito do primeiro amor de uma criança. Acredito que demos pouca importância aquele acontecimento. Tenho certeza que não falta elementos nas diversas ciências que poderia usar como objeto de estudo este fenômeno e a contribuição que estas estampas tiveram no inconsciente de várias gerações.
     As ESTAMPAS EUCALOL são as estampas mais importantes da América Latina, encontrando-se colecionadores das mesmas em vários países do Hemisfério Sul. Fizeram parte da vida brasileira durante quase 30 anos, deixando marcada sua presença nas gerações que as vivenciaram.


Padre Carlos .


ARTIGO - Ao companheiro Rui (Padre Carlos)




Ao companheiro Rui



            Nesta semana ficamos assustados com as declarações do Governador da Bahia, Rui Costa, que é também um dos dirigentes nacional do PT e uma forte liderança na Região do Nordeste.  Segundo Rui: “Foi um erro o PT ter uma candidatura própria em 2018, em uma eleição marcada pelo antipetismo? Adjetivar dessa forma é ruim. Mas o certo era ter apoiado o Ciro Gomes lá atrás”.
     
       Esta forma de pacto com setores da democracia burguesa, já ficou evidente o quanto é caro e perigoso estas alianças. Mas não podemos esquecer que o PT da Bahia nestas duas últimas décadas teve que dividir o poder com uma parcela da burguesia fazendo assim um governo de coalisão. Para derrotar o carlismo, tivemos que fazer uma aliança com Geddel e Edmundo Pereira (PMDB). Com o rompimento deste grupo, fortalecemos um campo da direita em detrimento das nossas bases.   Um exemplo do crescimento destas forças que tomaram conta do governo Wagner e Rui foi o crescimento espantoso do PSD, fundado em 2011 por um membro do TCM e hoje a maior máquina eleitoral do estado. 

            A ala da direita do partido, que antes das eleições pregava que se deveria virar a página do golpe e partir direto para o plano “B” que era um indicativo de abandonar Lula e abraçar a candidatura de Ciro Gomes, hoje declara abertamente que a alianças do PT não devem ser condicionadas a “Lula Livre”.

            É impossível conceber a formação de uma frente ampla de partidos e da sociedade civil contra o Governo Bolsonaro sem o Partido dos Trabalhadores e seu grande líder: Luiz Inácio Lula da Silva. À direita e alguns membros da esquerda sabem que seu grande adversário é Lula e seu partido, por isto, o governador da Bahia cogita a pré-candidatura à Presidência. Diante disto, Costa considera que essa aliança não deve ser condicionada a uma defesa da liberdade do ex-­presidente Lula, diz que a segurança deve entrar na agenda da esquerda e que é preciso condenar a Venezuela.
            Se tivéssemos desistido da candidatura de Lula e dos nossos quadros, como queria a direita do partido, estaríamos também abdicando da hegemônica da esquerda brasileira. Parece que a Liderança de Lula incomoda muita gente do campo da oposição, o pior é que eles não tem noção que se abandonar Lula e sua campanha “Lula Livre”, estarão entregado a direção do projeto a outras forças.
            Hoje, não vejo no conjunto do partido tal avaliação, mas com certeza, o PT estaria aniquilado como partido se tivesse ouvido os conselhos deste grupo. Desta forma, manter uma candidatura naquela conjuntura, era fundamental para construir um eixo de acumulação de forças. Quando foi adotada a tática de levar a candidatura Lula até as últimas consequências esperava-se que as elites e o Judiciário pagassem um preço alto pela exclusão do líder das pesquisas, do político mais popular da história do Brasil, junto com Getúlio Vargas. Mas para que este preço fosse pago, evidentemente, alguém haveria de cobrá-lo.            Assim, o crescimento de Lula mesmo estando preso, revela o acerto da estratégia do PT em insistir em uma candidatura e que a batalha política pela sua libertação deve manter essa trajetória de crescimento das forças progressistas para as disputas que deveremos travar com as forças conservadoras em 2020.
    
        Culpar Rui por posicionar o partido no espaço do centro, é querer isentar todos os que poderiam ter impedido e não fizeram com medo da caneta.  Não perceber a essência do partido e o pensamento dos seus fundadores, está sendo verdadeiramente “nosso” erro.

Padre Carlos

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

ARTIGO - Nossa Mosca Azul (Padre Carlos)




Nossa Mosca Azul


            A mosca azul é o nome de um poema de Machado de Assis, (Poesias Completas, 1901). Esta mosca, também é, nas regiões mais pobres, atrasadas e sem saneamento, um tipo de mosca varejeira, que somente sobrevive porque se alimenta de dejetos humanos.
   
         Conhecendo o poema e a tal varejeira, pensei em fazer um paralelo entre a nossa realidade a mosca e suas consequências.   Andei pensando por estes dias como será a vida da gente daqui a 20 ou 30 anos no nosso município?  Não saberia descrever nem sei se ainda terei a graça divina de está presente para vivenciar esta realidade. Mas sei que muito do que acontecerá depende das decisões e ações que tomaremos hoje.  Sei que não haverei de participar de muitas destas conquistas que virão pela frente em Vitória da Conquista e em todo o Sudoeste baiano. Mas faço questão de ficar ao lado do partido dos meus companheiros, daqueles que junto comigo lançaram, ainda que em terra árida de caatinga e mata de cipó, as sementes de um futuro melhor.
            .Com o fim do PED e as escolhas definida da nova direção para o partido, passei a me preocupar com a danada da mosca e me lembrei de outro fato que poderia explicar de forma mais clara estes meus medos. Assim, vou tentar externar através de uma das minhas cenas preferidas no cinema que foi protagonizada por Al Pacino no filme O Advogado do Diabo. Na cena final do filme, Al Pacino, protagonizando o diabo em pessoa, solta a frase "A vaidade é, definitivamente, meu pecado predileto!".

            E de que formas a vaidade se manifesta? De todas as formas possíveis! Desde a mais conhecida e óbvia, que é a vaidade na forma de se achar autossuficiente e pensar que não precisa de ninguém para alcançar a vitória. Todas as correntes e lideranças são importantes para o conjunto do partido, como diz o poeta: “do tamanho que se é, nem maior nem menor do que ninguém. E sustentar a esperança na certeza de que só haverá colheita se desde agora se cuidar, delicada e anonimamente, da semeadura. Enquanto uns saem para caçar borboletas, prefiro cuidar do jardim para que elas venham” (Mário Quintana).


            Quero chamar atenção das lideranças do partido, sobre a importância de não perder de vista de que o projeto de eleição não deve superar o projeto de cidade. Na medida em que um projeto de cidade for abandonado em favor de um projeto de eleição cria-se um projeto de poder sem a consciência de que este poder precisava ser instrumento que fortalecesse as bases sociais.
            O recado vem primeiro para mim, pois os ouvidos mais próximos de minha boca são os meus, e vai para todos que terão uma participação mais ativa neste contexto de ser participante das próximas décadas em nosso município, neste clima de euforia de tantas conquistas e boas projeções, cuidemos para não ser picados, ou melhor, dizendo, encantados com a mosca azul.

Padre Carlos



quarta-feira, 11 de setembro de 2019

ARTIGO - Quem representa verdadeiramente a Social-Democracia no Brasil? ( Padre Carlos )









       Apesar da social democracia brasileira se considerar de centro, contudo, nas circunstâncias da política brasileira, é o partido que aglutina e organiza a direita, dada a incapacidade do DEM, que se tornou um apêndice conservador do PSDB. A partir de 1994, quando o PSDB passou a ser uma alternativa efetiva de poder, ele foi levado por um movimento constante de polarização com o PT, partido mais identificado com setores de esquerda. O partido de Fernando Henrique Cardoso foi ocupando gradativamente o centro ideológico e nas eleições de 2002, com a radicalização do debate político, incorporou a representação de setores mais à direita, enquanto o PT conseguia o apoio de parcelas do eleitorado de centro para se viabilizar como alternativa de poder. Desde então, PFL, hoje DEM, e PSDB disputam o eleitorado conservador, ou se aliam para conquistá-lo, mas ambos mantêm uma forte identidade política com esse eleitor. Desta forma, podemos constatar que o PSDB nunca foi verdadeiramente o representante da social democracia no Brasil.

       O campo de pensamento que chamamos de social democracia é uma ideologia que tem como objetivo estabelecer um socialismo democrático. Apesar de ser uma ideologia de esquerda, surgida no sec. XIX com vertente marxista, essa corrente de pensamento foi com o passa das décadas se distanciando das posições de esquerdas e adotando posições mais moderadas incluíram a crença de que o reformismo era uma maneira possível de atingir o socialismo. No entanto, a social-democracia moderna desviou-se do socialismo, gerando adeptos da ideia de um Estado de bem-estar social democrático, incorporando elementos tanto do socialismo como do capitalismo. Quando militei no movimento estudantil, isto é, em meados da década de 70, ser chamado de reformista ou social democrata era uma ofensa grave. O livro História do PT, de Lincoln Secco, me chamou atenção pela analise historiográfica e sociológica sobre a trajetória do Partido dos Trabalhadores no Brasil. Nesse sentido, há uma tese forte de fundo que consiste na afirmação de que o PT cumpriu no Brasil de forma concentrada todas as três fases que caracterizaram os partidos social-democratas na Europa: uma primeira apoiada nas lutas operárias, com forte conteúdo ideológico socialista e de oposição extra-parlamentar privilegiando a ação direta, especialmente a grevista. Essa fase foi da fundação em 1980 até 1989.
       Uma segunda fase é a da consolidação como partido institucional, sendo a principal força de oposição dentro do parlamento e com grande peso de deputados e de profissionais políticos. Ela ocorre durante uma década de fraca mobilização social, durante os dois governos FHC, entre 1990 e 2002.
A terceira é da ascensão ao poder, indo de 2002 até hoje, com a descaracterização do ideário socialista fundador em prol de um pragmatismo e, além de uma política eleitoralmente bem sucedida de assistência social junto com uma aliança estratégica com os setores organizados da sociedade civil, financeiro e o agronegócio.
       As reformas necessárias no Estado Burguês, esta se dando em nosso governo como destaque as seguintes ações: Criamos programas sociais inclusivos, como o Bolsa-Família, Distribuição de renda programas sociais que mudam a sorte do povo brasileiro, sobre tudo daqueles que viviam abaixo da linha da miséria e defesa da soberania. ProUni, Brasil Sorridente, Farmácia Popular, Luz Para Todos, entre outros, que beneficiaram aos pobres e miseráveis e contribuíram para melhorar a distribuição de renda.
       Iniciamos novas grandes obras de infra-estrutura (rodovias, ferrovias, usinas hidrelétricas, etc) financiadas tanto com recursos públicos como privados. Exemplos: Usinas do Rio Madeira, Transnordestina, Ferrovia Norte-Sul, recuperação das rodovias federais, duplicação de milhares de quilômetros de rodovias.
       Anulamos a portaria do governo FHC que proibia a construção de escolas técnicas federais e iniciou a construção de dezenas de novas unidades e que foram transformadas em Institutos Superiores de Educação Tecnológica.
       Criamos o Reuni que iniciou um novo processo de expansão das universidades públicas, aumentando consideravelmente o número de universidades, de campus e de vagas nas mesmas.
  
     Os lucros do setor produtivo cresceram quase 200% no primeiro mandato em relação ao governo FHC.
Fizemos o Estado voltar a atuar como importante investidor da economia. Exemplos disso: a criação da BrOI, que têm 49% do seu capital nas mãos do Estado; a compra e incorporação de bancos estaduais pelo Banco do Brasil (da Nossa Caixa, do Piauí, Santa Catarina e Espírito Santo) evitando que fossem privatizados; a participação da Petrobras em duas grandes petroquímicas nacionais (a Braskem, com 30% do capital nas mãos da Petrobras; a Ultra, com 40% do capital nas mãos da Petrobras); o aumento da participação dos bancos públicos (BNDES, CEF, BB, BNB) no fornecimento de crédito para a economia do país;
Criamos o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)
Reduzimos a taxa de desemprego.
       Porém, todos estes avanços foram dentro de um sistema, sem necessariamente ter que romper com o capitalismo, isto nos remete a antiga questão: quem representa verdadeiramente a Social Democracia no Brasil?

`Padre Carlos


ARTIGO - Por que tememos a Morte? ( Padre Carlos )





Por que tememos a Morte?





            Faz alguns anos que fui procurado por um senhor que tinha perdido o filho naqueles dias e suas duvidas e incertezas quanto à vida após a morte era evidente. Apesar de estudar filosofia, teologia e tantas mais ciências, esta resposta não se dá através do intelecto, mas, na certeza que vamos construído com a nossa fé. Suas duvidas e minhas certezas levaram a estes questionamentos, que além de teológico, não deixa de ter suas vertentes filosóficas.
            O que é ressuscitar? Esta pergunta sempre aparece nos momentos mais difíceis da nossa vida. Um dos grandes problemas da nossa existência, é não saber conviver com a incerteza - com a dúvida, somos imortais ou com a morte acaba tudo? Deus existe ou não?  Tudo isto se trata de um dado de fé e não existe uma régua para medir o tamanho das nossas certezas.
      

            A morte é um evento natural. Morremos como qualquer animal, mas nós não somos um animal qualquer: o que caracteriza o ser humano é a consciência de que é mortal, insurgindo-se ao mesmo tempo contra a morte. Assim, as questões teológicas passam para o campo filosófico para responder, as perguntas últimas, metafísicas e religiosas: qual é o fundamento de tudo, o que sou e quem sou, donde venho, para onde vou, qual o sentido, o sentido último da minha existência e de tudo?
            As palavras de Leonardo Boff a Darcy Ribeiro no seu leito de morte, sobre a ressureição tem um sentido que vai além da metáfora. Boff fala para Darcy que esta leitura de que tudo acaba que a morte é o fim, nada mais é que uma interpretação de quem não conhece a misericórdia de Deus, citando a história do casulo e da borboleta: “Darcy, acho que é uma interpretação de quem vê de fora. É como você ver a borboleta, e ver o casulo. Você pode chorar pelo casulo que foi deixado para trás e ver que ele morreu. Mas você pode olhar a borboleta e dizer: Não, ele libertou a borboleta, e ela é a esperança de vida que está dentro do casulo". Boff continua - "Darcy, deixa te dizer como imagino tua chegada, o teu grande encontro não vai ser com Deus Pai porque para você Deus tem de ser Mãe, tem de ser mulher..." (risos)
            Entre a fé, a esperança e o amor, o maior sempre será o amor, pois o amor permanece para sempre. Enquanto que a fé acabará quando tudo for revelado, da mesma forma que a esperança, que não fará mais sentido, quando o esperado for alcançado. E então haverá apenas o amor e ele permanecerá por toda a eternidade, pois Deus é amor e nós o seremos com Ele.
        
Voltando aquele pobre homem que estava de luto com a perda do próprio filho, falei de um velho provérbio judaico que diz: “Os filhos que deixamos para trás são nossas boas ações.” Meu amigo, não podemos esquecer que o impacto positivo que causamos naqueles que amamos e convivem com a gente é eterno. Toda boa ação que fazemos, por mais insignificante que possa parecer, deixa uma marca permanente no mundo. E a bondade acumulada no decorrer de uma vida inteira de moral é uma força de energia positiva que deixa uma impressão duradoura que jamais pode se perder...
            Depois que ouviu todas estas coisas, aquele homem agradeceu por tudo e foi embora.


Padre Carlos




ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...