O que é a social-democracia?
A
social-democracia apesar de continuar tendo apoio popular em diversos países
foi derrotada com um “abraço de urso” pelo capitalismo. Em vez de transformar o
capitalismo, foi transformada por ele.
Levantei
recentemente no meu blog, uma polémica sobre a social-democracia e os partidos
políticos brasileiros que nela se reveem ou que apresentam programas eleitorais
que nela se enquadram. Se avaliarmos os partidos no nosso país, poderemos
afirmar que todos os principais da esquerda brasileira tem no deu conjunto uma
ação ideológica social- democrata.
Os
partidos sociais-democratas surgiram para representar a classe operária e os
trabalhadores em geral, lutar pela sua emancipação e pelo fim do capitalismo
que daria lugar ao socialismo. Inicialmente, a estratégia considerada adequada
para atingir esse objetivo era a revolucionária, mas com o tempo e a repressão
por parte dos Estados e governos, assim fugindo desta conjuntura, começaram a
surgir vozes defendendo uma estratégia reformista e gradual. Aproveitar as
eleições para ganhar poder e assim iniciar a transição para o socialismo. Uma
das vozes que elaborou e publicou sobre o tema foi Eduard Bernstein, dirigente
do SPD (partido social-democrata alemão – partido referência do movimento
social-democrata). Bernstein formulou teoricamente uma revisão crítica de
várias teses marxistas e defendeu que no quadro do sufrágio universal (que era
o voto masculino) e dada a superioridade ética do socialismo, os trabalhadores
podiam usar as eleições, o parlamento e o governo para avançar legislativamente
rumo ao socialismo. Segundo ele, o movimento (focado nas reformas) era tudo e o
objetivo final nada. A revolução era desnecessária.
Desde
o início do século a social-democracia foi se afastamento de forma contínua em
relação à sua versão original. Foi só na conferência de Bad Godesberg, em novembro
de 1959, que o SPD mudou formalmente a sua orientação política e ideológica
abandonando o marxismo e o objetivo de superar o capitalismo. Nesta época os
partidos sociais-democratas estavam focados na defesa do pleno emprego e do
Estado Social, que estava sendo desenvolvido em vários países europeus, dentro
de uma perspectivas ideológicas, no quadro dos chamados “ os gloriosos trinta
anos”, que foram as décadas com taxas relativamente elevadas de crescimento
económico, onde as relações comerciais desiguais com os países coloniais e
ex-coloniais (as independências formais não acabaram com a exploração) e o medo
que as burguesias nacionais tinham do movimento comunista desempenharam um
papel fundamental.
A
partir da década de 1970 e da crise do petróleo, com a estagflação (estagnação
económica e inflação) e da entrada na época da ascensão do neoliberalismo, os
partidos sociais-democratas foram-se tornando defensores da necessidade de
adaptar (na prática reduzindo-o) o Estado Social, apoiando a globalização, a
liberalização e as privatizações como forma de promover o crescimento
económico. Passaram a apresentar-se como gestores do capitalismo dando-lhe uma
“face mais humana”. Esta postura consolidou-se na década de 1990 com a chamada
Terceira Via. Este foi um dos motivos que levaram FHC e seus teóricos a
perderem por completo suas origens.
Portanto,
a social-democracia numa primeira fase queria acabar com o capitalismo, na fase
seguinte quis realizar reformas rumo aos socialismos, depois aceitou o
capitalismo defendendo o Estado Social e o pleno emprego, posteriormente
abandonou a ideia de pleno emprego e uma adaptação do Estado Social às
exigências dos mercados internacionais e dos privados. Na prática, com o tempo,
muitos partidos sociais-democratas tornaram-se partidos neoliberais.
Mas
então, o que é afinal a social-democracia? Como vimos há várias versões
históricas de partidos político e fases cujo percurso é de um afastamento maior
ou menor em relação à sua génese. A social-democracia apesar de continuar tendo
apoio popular em diversos países, sua versão mais liberal está sendo derrotada
com um “abraço de urso” pelo capitalismo. Em vez de transformar o capitalismo,
foi transformada por ele. Um exemplo clássico deste fenômeno, é o PSDB aqui no
Brasil.
Se
fizermos uma análise historiográfica e sociológica sobre a
trajetória do Partido dos Trabalhadores, PT, iremos comprovar que ele cumpriu
no Brasil de forma concentrada todas as três fases que caracterizaram os
partidos social-democratas na Europa: uma primeira apoiada nas lutas operárias,
com forte conteúdo ideológico socialista e de oposição extra-parlamentar privilegiando
a ação direta, especialmente a grevista. Essa fase foi da fundação em 1980 até
1989. Uma segunda
fase é a da consolidação como partido institucional, sendo a principal força de
oposição dentro do parlamento e com grande peso de deputados e de profissionais
políticos. Ela ocorre durante uma década de fraca mobilização social, durante
os dois governos FHC, entre 1990 e 2002.
A terceira é da ascensão ao poder, indo de 2002 até hoje, com a descaracterização do ideário socialista fundador em prol de um pragmatismo e, além de uma política eleitoralmente bem sucedida de assistência social junto com uma aliança estratégica com os setores organizados da sociedade civil, financeiro e o agronegócio.
Podemos concluir que o movimento social-democrata teve um papel importante no
apoio ao capitalismo, na procura de soluções para os seus problemas, na criação
de condições para os trabalhadores (sobretudo dos países europeus) melhorarem
as suas vidas e na oposição a movimentos que tentaram construir uma alternativa
ao capitalismo (que era a meta original da social-democracia).A terceira é da ascensão ao poder, indo de 2002 até hoje, com a descaracterização do ideário socialista fundador em prol de um pragmatismo e, além de uma política eleitoralmente bem sucedida de assistência social junto com uma aliança estratégica com os setores organizados da sociedade civil, financeiro e o agronegócio.
Deveríamos
avançar nestas questões e aprofundar nossos conhecimentos nas nossas ações e
conhecer de perto todo o nosso arcabouço teórico.
Padre Carlos