Reconvexo
Caetano Veloso
Quando
ouvimos Caetano, temos a impressão que estamos em qualquer lugar do mundo.
Nesta viagem, podemos ser a chuva que lança a areia do Saara sobre os
automóveis de Roma ou a sereia que dança. A destemida Iara água e folha da Amazônia.
Assim posso viajar em meus sonhos como um menino no seu álbum de figurinhas. Posso
beber de qualquer cultura, com tanto que eu não me esqueça da Bahia da sombra
da voz da matriarca da Roma Negra com suas ladeias e o Sr. Do Bonfim.
Com os pés fincados em Santo Amaro da
Purificação. Reconvexo não é apenas uma resposta a Paulo Francis, mas uma declaração pública de amor que o poeta faz ao Brasil, a sua
cultura e ao seu povo.
Eu sou
a chuva que lança a areia do Saara, sobre os automóveis de Roma. Eu sou a
sereia que dança. A destemida Iara, água e folha da Amazônia. Eu sou a sombra
da voz da matriarca da Roma Negra.
O
menino do recôncavo, ama seu povo com todos os sentidos: Você não me pega! Você nem chega a me ver!
Meu som te cega, careta, quem é você? Que não sentiu o suingue de Henri Salvador. Acredito que o careta não sentiria por
se tratar do suingue de um negro da Guiana Francesa, Henri Salvador, perdido em
Copacabana, influenciando a bossa nova do branco Vinicius.
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô. E que não riu com
a risada de Andy Warhol E não
se encantou com suas imagens. Que
não, que não e nem disse que não. Na verdade o careta não responde, não tem
argumentos, está vendido a cultura estadunidenses.
Não conhece sua terra, despreza a sua gente.
Eu sou
um preto norte-americano forte, com um brinco de ouro na orelha. Mesmo quando
bebo em outras culturas, minha visão se volta para os que querem igualdade e
justiça.
Eu sou
a flor da primeira música, a mais velha, a mais nova espada e seu corte. Fui influenciado
e rendo homenagem a Dorival e a João, mas não fujo a responsabilidade de cuidar
dos novos baianos e da cultura que vem dos afoxés. Sou o cheiro dos livros desesperados, sim de uma cultura também dos
livros, das academias.
Sou Gitá Gogóia, seu olho me olha mas não
me pode alcançar. Sim, sou Gita sou também
esta cultura milenar, sou hindu Mahabarata, o Bhagavad Gita (A Canção do
Senhor), sou o texto sagrado mais popular do hinduísmo. Sou Bhagavad Gita,
Krishna expondo os pontos cruciais do hinduísmo. Sou a à Fruta Gogóia.
Não
tenho escolha, careta, vou descartar. Não tem jeito careta, vou ter que lhe ignorar!
Quem
não rezou a novena de Dona Canô, quem não entende a religiosidade de um povo,
não conhece sua cultura, participar de um caruru ou rezar uma novena.
Quem
não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor, pobres que
gosta de luxo!
Quem
não amou a elegância sutil de Bobô. Você não viu careta o Bahia campeão!
Quem
não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo. Só os amantes podem ser tudo e não ser nada.
Padre Carlos
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