Ciro,
aliado ou inimigo da esquerda?
Dois dias depois do
ex-presidente Lula discursar para a sua militância em São Bernardo, e reacendendo
assim a polarização política com o presidente Bolsonaro, o ex-ministro Ciro
Gomes (PDT) fez duras críticas ao petista, a quem chamou de “sem escrúpulo”.
“Lula é um encantador de serpentes. A presunção dele é que as pessoas podem,
usando fetiches, intrigas e a absoluta falta de escrúpulos que o caracteriza,
navegar nisso. O mal que Lula está fazendo ao Brasil é muito grave e extenso”,
afirmou o ex-presidenciável.
Como disse o
próprio Lula, faz-se grande quem sabe pensar grande. Se ele estivesse pensando
como Ciro Gomes, em apenas eleição e no poder em si, e ficasse cego ao
horizonte que descortinou com sua saída da prisão, passaria a ser mais uma
estrela sem brilho no universo da vida política. E o que é pior, arrastaria
consigo a esperança de milhões que esperavam ansioso a sua volta. Este
comportamento irresponsável, só proporcionaria as condições para que o fascismo
e o fundamentalismo religioso consolidassem o poder e roubasse as espeças que
ainda resta no povo.
Desta forma, Lula
não pode se dar ao luxo dos arroubos de adolescente que Ciro vem tendo. Ele tem
certeza que a única política que poderá conter este risco é promover mudanças
significativas para proporcionar um crescimento econômico acompanhado com a
geração de emprego e um maciço investimento em educação e tecnologia. Não
existe outra forma a não ser fazer a roda da economia girar, basta de
paliativos, sem estas medidas não há saída. Salvar o Brasil implica em criar
condições jurídicas e políticas para que Lula possa participar do processo
eleitoral em 2022. Como articulador, Lula tem que buscar uma oposição “coesa”.
Uma frente unida em prol de um objetivo comum: a derrota do inimigo comum.
Todas as forças políticas oriundas dos mais diversos espectros da oposição –
que não tem absolutamente nada de homogênea – se aglutinarão nesse projeto para
derrotar o fascismo
Por isto, o coronel
de Sobral vem tentando de todas as formas criar empecilho para que isto não
aconteça. Assim como Ciro, pensava a Social-Democracia alemã, ao fechar os
olhos e tornasse omissa quando Hitler perseguia e exterminava os comunistas
alemães. Achava estes sociais democratas, que o pós-Nazismo não demoraria e que
com a saída dos vermelhos da cena política, seria mais fácil chegar ao poder. O
que Ciro esquece, é que aqueles que enganam, mente e pratica a falsidade e a
traição como forma de crescer politicamente, um dia terá que prestar contas aos
eleitores. Esta é a lógica de Ciro Gomes e o que mais nos espanta, é que por
oportunismo, setores da esquerda venham alimentando os desejos de poder deste
homem. O provérbio “o inimigo do meu inimigo é meu amigo” é quase sempre
invocado em referência a questões políticas e nem sempre corresponde à verdade
e este comportamento de Ciro termina fortalecendo o projeto da direita. Aí
então começaremos a ver o desenrolar da armadilha que essa lógica do “inimigo
do meu inimigo é meu amigo” sempre traz consigo.
Quando está
motivado por essa lógica – que remonta a uma mentalidade tribal – que cai como
uma luva no sistema político brasileiro, não se realiza alianças com “amigos”,
se busca assumir o seu lugar. O que une os atores, como já vimos, é
simplesmente o desejo de se derrotar um inimigo comum e para Bolsonaro e Ciro,
este é sem dúvida alguma Lula e o PT. A política de Ciro para o campo da
esquerda, é de autofagia e lutas internas até alcançar seus objetivos.
Temos que tomar
consciência que tudo o que temos passado, tem um proposito para que nos sirva
de lição. Quando não há clareza de quem são verdadeiramente os nossos
adversários, corremos o risco de nos comportarmos como eles. De generalizarmos
nossa ética e conduta e carregar o pragmatismo como a única verdade.
A inveja é o
resultado de pequenos desejos. Ela não se faz senão através de detalhes que lhe
acumulam na alma: desejar algo que não é seu, apropriar-se de algo que não lhe
pertence, trair a confiança de um amigo, tudo isto são gestos de um covarde
para ocupar o espaço do outro na história. Não é os bens nem o dinheiro que
constitui a inveja. É a ganância, a arrogância, a convicção de que é mais
importante e merece mais que o seu oponente.
Desta forma, o
ex-ministro de Lula, jamais será um estadista se não tiver humildade, tem que
ter noção do tamanho que é, nem maior nem menor do que ninguém. E sustentar a
esperança na certeza de que só haverá colheita se desde agora se cuidar,
delicada e anonimamente da semeadura. Como diz o poeta, não basta sair caçando
borboletas é necessário ficar e cuidar do jardim, para que elas retornem.
Padre Carlos
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