quinta-feira, 14 de novembro de 2019

ARTIGO - Ciro, aliado ou inimigo da esquerda? (Padre Carlos)




Ciro, aliado ou inimigo da esquerda?



Dois dias depois do ex-presidente Lula discursar para a sua militância em São Bernardo, e reacendendo assim a polarização política com o presidente Bolsonaro, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) fez duras críticas ao petista, a quem chamou de “sem escrúpulo”. “Lula é um encantador de serpentes. A presunção dele é que as pessoas podem, usando fetiches, intrigas e a absoluta falta de escrúpulos que o caracteriza, navegar nisso. O mal que Lula está fazendo ao Brasil é muito grave e extenso”, afirmou o ex-presidenciável.
Como disse o próprio Lula, faz-se grande quem sabe pensar grande. Se ele estivesse pensando como Ciro Gomes, em apenas eleição e no poder em si, e ficasse cego ao horizonte que descortinou com sua saída da prisão, passaria a ser mais uma estrela sem brilho no universo da vida política. E o que é pior, arrastaria consigo a esperança de milhões que esperavam ansioso a sua volta. Este comportamento irresponsável, só proporcionaria as condições para que o fascismo e o fundamentalismo religioso consolidassem o poder e roubasse as espeças que ainda resta no povo.
Desta forma, Lula não pode se dar ao luxo dos arroubos de adolescente que Ciro vem tendo. Ele tem certeza que a única política que poderá conter este risco é promover mudanças significativas para proporcionar um crescimento econômico acompanhado com a geração de emprego e um maciço investimento em educação e tecnologia. Não existe outra forma a não ser fazer a roda da economia girar, basta de paliativos, sem estas medidas não há saída. Salvar o Brasil implica em criar condições jurídicas e políticas para que Lula possa participar do processo eleitoral em 2022. Como articulador, Lula tem que buscar uma oposição “coesa”. Uma frente unida em prol de um objetivo comum: a derrota do inimigo comum. Todas as forças políticas oriundas dos mais diversos espectros da oposição – que não tem absolutamente nada de homogênea – se aglutinarão nesse projeto para derrotar o fascismo
Por isto, o coronel de Sobral vem tentando de todas as formas criar empecilho para que isto não aconteça. Assim como Ciro, pensava a Social-Democracia alemã, ao fechar os olhos e tornasse omissa quando Hitler perseguia e exterminava os comunistas alemães. Achava estes sociais democratas, que o pós-Nazismo não demoraria e que com a saída dos vermelhos da cena política, seria mais fácil chegar ao poder. O que Ciro esquece, é que aqueles que enganam, mente e pratica a falsidade e a traição como forma de crescer politicamente, um dia terá que prestar contas aos eleitores. Esta é a lógica de Ciro Gomes e o que mais nos espanta, é que por oportunismo, setores da esquerda venham alimentando os desejos de poder deste homem. O provérbio “o inimigo do meu inimigo é meu amigo” é quase sempre invocado em referência a questões políticas e nem sempre corresponde à verdade e este comportamento de Ciro termina fortalecendo o projeto da direita. Aí então começaremos a ver o desenrolar da armadilha que essa lógica do “inimigo do meu inimigo é meu amigo” sempre traz consigo.
Quando está motivado por essa lógica – que remonta a uma mentalidade tribal – que cai como uma luva no sistema político brasileiro, não se realiza alianças com “amigos”, se busca assumir o seu lugar. O que une os atores, como já vimos, é simplesmente o desejo de se derrotar um inimigo comum e para Bolsonaro e Ciro, este é sem dúvida alguma Lula e o PT. A política de Ciro para o campo da esquerda, é de autofagia e lutas internas até alcançar seus objetivos.
Temos que tomar consciência que tudo o que temos passado, tem um proposito para que nos sirva de lição. Quando não há clareza de quem são verdadeiramente os nossos adversários, corremos o risco de nos comportarmos como eles. De generalizarmos nossa ética e conduta e carregar o pragmatismo como a única verdade.
A inveja é o resultado de pequenos desejos. Ela não se faz senão através de detalhes que lhe acumulam na alma: desejar algo que não é seu, apropriar-se de algo que não lhe pertence, trair a confiança de um amigo, tudo isto são gestos de um covarde para ocupar o espaço do outro na história. Não é os bens nem o dinheiro que constitui a inveja. É a ganância, a arrogância, a convicção de que é mais importante e merece mais que o seu oponente.
Desta forma, o ex-ministro de Lula, jamais será um estadista se não tiver humildade, tem que ter noção do tamanho que é, nem maior nem menor do que ninguém. E sustentar a esperança na certeza de que só haverá colheita se desde agora se cuidar, delicada e anonimamente da semeadura. Como diz o poeta, não basta sair caçando borboletas é necessário ficar e cuidar do jardim, para que elas retornem.


Padre Carlos

Visite e ajude a divulgar nosso trabalho, partilhando em suas redes.





Nenhum comentário:

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...