São
Jorge dos Amado
Resgatar
a memória de Jorge Amado (1912-2001) é
reconhecer a importância de quem levou o nome do Brasil para os quatro cantos
do mundo. Hoje me lembrei que faz dezoito
anos que perdemos nosso Jorge, tão amado para falar em poucas linhas. É impossível falar deste escritor, sem citar
sua militância política e buscar entender como foi forjado este quadro do
partido. O período pós-revolução de 30 até a suicídio de Getúlio, constitui um
dos elementos-chave para a compreensão de parte substantiva de sua trajetória
como escritor militante. Basta lembrar que, dos mais de sessenta anos de
carreira, quase 25 foram dedicados à construção de uma prática associados ao
seu engajamento no Partido Comunista Brasileiro (pcb).
Jorge Amado fez das mulheres
e dos homens, de diferentes gerações e de todo o mundo, o seu laboratório para as
milhares de personagens de suas obras. Ele era mestre em derrubar fronteiras
políticas, culturais e sociais, sempre com uma visão além do seu tempo. O seu
chão era do tamanho da extensão e das profundezas da Bahia de Todos os Santos.
Do homem moldado pela miscigenação, por deuses trazidos nos navios negreiros,
cenários da escravatura do cacau, poéticas da resistência e do quotidiano, se
fez literatura. Nela o mundo pode conhecer o Brasil e ele pode se vê no
espelho. Nela cabem o imaginário e os olhares de geografias tão diferentes.
Como poderíamos
saber ou contar as milhares de vidas que cabem no coração de Jorge Amado. Milhares
de supostas almas aparecem nas páginas: prostitutas, diplomatas e poetas
populares, orixás e santos com pés de barro, políticos, intelectuais, amigos e
facínoras de várias espécies (por vezes acumulando) e até a chuva de cravos que
conquistou Zélia.
Envolvidos em trabalho
árduo, ideais, entre amigos e uma rede na genuína “preguiça baiana” desfilam
Neruda, Saramago, regimes, encantamentos e desilusões resumidos em poucas palavras.
“Socialismo sem democracia é ditadura e nenhuma presta, nem de direita nem de
esquerda, é a mesma merda.” Palavras de Jorge, amado e ainda menorizado por
académicos, sempre com o povo, mas nunca no meio do povo.
Naquela
segunda feira de um agosto de 2001, fui ao velório, 15 mil pessoas despediram-se
do escritor que refletira parte da história dessas gentes em mais de 40 obras,
49 idiomas e 80 milhões de livros vendidos. Entre plantas na velha Casa do Rio
Vermelho (Salvador) repousam as cinzas, mas sobram páginas inacabadas. Jorge
Amado é uma área de investigação interminável, que ainda deve ser explorada em
muitos campos. Se há vidas que nunca se acabam, está com certeza é a do nosso
Amado.
Padre Carlos
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