sexta-feira, 8 de novembro de 2019

ARTIGO - São Jorge dos Amado (Padre Carlos)






São Jorge dos Amado


Resgatar a memória de Jorge Amado (1912-2001) é reconhecer a importância de quem levou o nome do Brasil para os quatro cantos do mundo. Hoje me lembrei que faz  dezoito anos que perdemos nosso Jorge, tão amado para falar em poucas linhas.  É impossível falar deste escritor, sem citar sua militância política e buscar entender como foi forjado este quadro do partido. O período pós-revolução de 30 até a suicídio de Getúlio, constitui um dos elementos-chave para a compreensão de parte substantiva de sua trajetória como escritor militante. Basta lembrar que, dos mais de sessenta anos de carreira, quase 25 foram dedicados à construção de uma prática associados ao seu engajamento no Partido Comunista Brasileiro (pcb).
Jorge Amado fez das mulheres e dos homens, de diferentes gerações e de todo o mundo, o seu laboratório para as milhares de personagens de suas obras. Ele era mestre em derrubar fronteiras políticas, culturais e sociais, sempre com uma visão além do seu tempo. O seu chão era do tamanho da extensão e das profundezas da Bahia de Todos os Santos. Do homem moldado pela miscigenação, por deuses trazidos nos navios negreiros, cenários da escravatura do cacau, poéticas da resistência e do quotidiano, se fez literatura. Nela o mundo pode conhecer o Brasil e ele pode se vê no espelho. Nela cabem o imaginário e os olhares de geografias tão diferentes.
Como poderíamos saber ou contar as milhares de vidas que cabem no coração de Jorge Amado. Milhares de supostas almas aparecem nas páginas: prostitutas, diplomatas e poetas populares, orixás e santos com pés de barro, políticos, intelectuais, amigos e facínoras de várias espécies (por vezes acumulando) e até a chuva de cravos que conquistou Zélia.
Envolvidos em trabalho árduo, ideais, entre amigos e uma rede na genuína “preguiça baiana” desfilam Neruda, Saramago, regimes, encantamentos e desilusões resumidos em poucas palavras. “Socialismo sem democracia é ditadura e nenhuma presta, nem de direita nem de esquerda, é a mesma merda.” Palavras de Jorge, amado e ainda menorizado por académicos, sempre com o povo, mas nunca no meio do povo.
Naquela segunda feira de um agosto de 2001, fui ao velório, 15 mil pessoas despediram-se do escritor que refletira parte da história dessas gentes em mais de 40 obras, 49 idiomas e 80 milhões de livros vendidos. Entre plantas na velha Casa do Rio Vermelho (Salvador) repousam as cinzas, mas sobram páginas inacabadas. Jorge Amado é uma área de investigação interminável, que ainda deve ser explorada em muitos campos. Se há vidas que nunca se acabam, está com certeza é a do nosso Amado.


Padre Carlos

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