quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

ARTIGO - O Cardeal Martini e a reforma do Papa Francisco (Padre Carlos)


Cardeal Martini e a reforma do Papa Francisco 

 

A reforma de Francisco com o levantamento do segredo pontifício tem o mérito de afirmar os valores da transparência e da abertura.

Tive como professor de História da Igreja, um dos maiores mestres nesta área e comprovadamente uma pessoa dedicada a Igreja. Frater Henrique Cristiano José Matos, ou simplesmente frater Henrique, como é conhecido pela comunidade acadêmica. Durante minha permanência na capital mineira, aprendi muito com aqueles Doutores e Mestres, responsável pela nossa formação, mas este irmãozinho teve uma influencia marcante na minha vida. Devido a minha paixão pela história, este mestre pôs o selo da História da Igreja no meu peito e segurou minhas mãos para que eu pudesse alçar grandes voos. É com esta certeza que continuo segurando sua mão, que gostaria de partilhar estes questionamentos.

Durante os cincos séculos que separam a gente da Contra-Reforma, constatamos duas correntes de pensamentos  disputando a seguinte  ideia:   a Contra-Reforma Católica é fruto de uma reação de defesa à Reforma, que conduziria ao aparecimento do protestantismo e de outras correntes dissidentes, ou se ela resulta de uma renovação que já fazia o seu caminho no interior da Igreja Romana.

O mais provável é que ambas as premissas estejam, corretas, como é certo que há muito existem vozes no interior da Igreja Católica que sonha com um Concílio Vaticano III, porque estão convencidos de que a Igreja Católica precisa de profundas reformas. Faz sete anos que perdemos um companheiro de Jesus e um dos grandes defensores desta tese. Hoje estava pensando que uma das grandes motivações e inspirações de Bergoglio, tenha sido seu irmão de congregação, o cardeal Carlo Maria Martini. Pensei muito na luta que este santo travou nestas últimas cinco décadas e fiquei triste ao constatar que ele morreu sem ter visto esse novo aggiornamento.

         O sonho de Martini está sendo realizado por meio do Pontificado do seu irmão e não podemos esquecer que é também o sonho de uma boa parte da Igreja do antigo mundo. “Existe a necessidade de um debate colegial entre todos os bispos no caminho das Igrejas”, dissera Martini, no Sínodo dos bispos europeus em 1999, elencando alguns desses pontos que gostaríamos que avançasse na pauta das Reformas: a participação democrática na vida da Igreja, os leigos, o papel das mulheres na sociedade e na Igreja, "a sexualidade", a "disciplina do matrimônio", a "relação entre democracia e valores e entre leis civis e lei moral”.

A Contra-Reforma, perdeu o trem da história e tudo que Martini assistiu durante boa parte da sua vida, está vindo a baixo:  à progressiva demolição de todas aquelas instâncias de renovação avançadas pelo Concílio Vaticano II, há 50 anos, gradual e inexoravelmente apagadas ou redimensionadas pelo Papa Wojtyla e pelo Papa Ratzinger, principais defensores da chamada "hermenêutica da continuidade", ou seja, de uma interpretação do Concílio no sinal da absoluta continuidade com a tradição e o magistério da Igreja.

Francisco desde o início de seu pontificado, tem tomado posições firmes na  defesa dos direitos dos pobres e dos marginalizados, particularmente dos presos e dos imigrantes, lembrando muito o Cardeal Martini e assumindo posições que gostaríamos de ver e vivenciar antes que os nossos olhos se fechem.Parte superior do formulário

 

Padre Carlos

 

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domingo, 22 de dezembro de 2019

ARTIGO - Os mitos sobre as privatizações nas comunicações (Padre Carlos)


Os mitos sobre as privatizações nas comunicações


Outro dia um amigo está conversando sobre as vantagens das privatizações nas comunicações, discursava como se todo o mal que se abateu a este setor com a reserva de mercado, fosse causado pelas empresas estatais. Segundo sua linha de raciocínio, só alcançamos os avanços que hoje desfrutamos, porque houve abertura do mercado para as multinacionais deste seguimento.
Quando ouvir aquele testemunho vazio e desprovido de argumentos técnicos e a falta de conhecimento como era as comunicações, compreendi a pobreza histórica desta juventude. Como éramos carentes de tecnologia na época em que as empresas estrangeiras exploravam este setor.
Assim, com o Golpe de 1964, os militares passaram a pensar em uma política de comunicação.  Retirar este setor das mãos das empresas estrangeiras era uma questão de segurança nacional. Pois até então, o setor de telecomunicação era controlado pelo setor privado.  Diante disto, em 1965 foi criada a Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL), para assumir o controle das concessionárias privadas e os serviços nacionais e internacionais das multinacionais. Mesmo com toda política de segurança nacional e capital para empreender este projeto, só no início da década de setenta, o governo consegue o controle total das comunicações.  
 Me lembro da empresa americana que prestava serviços de radiotelefonia interurbana e com o exterior, através da Companhia Rádio Internacional do Brasil (Radional). Suas torres eram localizadas onde hoje se encontra o Parque Júlio Cesar, no bairro da Pituba. Para os menos avisados, quando precisávamos fazer um interurbano para outro estado, tínhamos que requisitar pela manhã para conseguir na parte da tarde. No horário marcado, a telefonista ligava para sua casa e completava a ligação. Este era o serviço prestado pelas empresas estrangeiras.


Já o serviço de telegrama, pertencia à empresa britânica WESTERN TELEGRAPH, responsável pela transmissão de telegramas. Era usado pelos brasileiros que não tinha acesso ao telefone. Levava vinte e quatro horas para chegar ao destino e era considerado um dos serviços mais rápido do seu seguimento.
Olhando para traz, podemos constatar que não foi a abertura do mercado para as multinacionais, mas sim, as novas tecnologias que proporcionaram toda esta revolução.

Padre Carlos


sábado, 21 de dezembro de 2019

ARTIGO - O Natal e o Cristo de Mario Cravo (Padre Carlos)



O Natal e o Cristo de Mario Cravo




O Natal é o grande acontecimento na história da humanidade. Na nossa jornada, ele deve ser um evento diário na nossa vida. É uma pena que não mantemos este espírito natalino no nosso dia-a-dia e desta forma, os natais vão passando despercebidos. Irmão Pascoal, um monge santo que tive o privilégio de conhecer, quando trabalhei no Mosteiro de São Bento, me dizia que temos que apreciar as pequenas coisas, não olhando através de uma tela, mas ao seu redor. Hoje, entendo o que aquele sábio monge queria dizer: os natais acontecem nas nossas vidas, todos os dias, apesar de não percebermos, este grande acontecimento da história.
         Neste período que o calendário litúrgico, comemora o nascimento do Messias, temos que ter clareza que o Natal é fruto de um caminho preparativo, caminho objetivo nas nossas celebrações no tempo do advento, são semanas que antecedem a grande festa do nascimento do Menino Jesus.
         Desta forma, ao constatar a falta de amor, a falta de misericórdias na nossa vida, vivenciamos uma overdose destes sentimentos, como de alguma forma quiséssemos mudar o nosso passado. Se não vivenciarmos o Natal no nosso cotidiano, nada disso terá sentido. É no dia-a-dia, no partir do pão, que o Menino se faz presente, que o milagre acontece e que o Messias se revela. Apesar do esvaziamento do sentido do Natal, o cristão deve fazer este caminho da mistagogia do encontro com Jesus Cristo.
         O Natal não é só o encontro dos meus familiares e as pessoas amigas, mas também com o servo sofredor é através dos que sofrem, é através dos que são perseguidos por causa da justiça, por todos aqueles que passam fome é que eu encontro aquele que é capaz de proporcionar vida plena para os que nele creem.
         Todo este clima natalino, deve ser oportunidade privilegiada, do encontro com a pessoa de Jesus Cristo. Apesar do Prefeito da nossa cidade, preferir a arvore de natal, que o próprio Cristo. Acredito que esta preferência se deva ao fato de Mario Cravo ter homenageado os pobres operários através do Salvador, que passavam por nossa cidade, rumo a São Paulo. Este povo tem horror a pobre, por isto tentou esconder o rosto sofrido do Cristo operário.
         Sei da importância do comercio na nossa região, mas um símbolo sagrado não pode ser substituído pela mera cultura do consumismo. O verdadeiro presente deve ser o Senhor da história, aquele que dá sentido autentico para a vida das pessoas, mesmo sabendo da importância que as celebrações de final de ano representam para as famílias.
      
   No mundo em que vivemos, cheio de violência e de desrespeito aos direitos humanos de grave desmando dos poderes públicos, de falta de testemunho dos próprios cristãos, devemos criar no Natal, este espaço de esperança e demostrar que um Brasil diferente é possível. Para isto é preciso transformar a cultura da violência, transformando as armas em instrumento de trabalho, colocando o projeto de vida, como a meta a seguir.

         Um Feliz Natal e um Próximo Ano Novo!



         Padre Carlos


quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

ARTIGO - Memorial ao Coral da Juventude do Mosteiro de São Bento (Padre Carlos)


 

 Memorial ao Coral da Juventude do Mosteiro de São Bento


Muito já se falou da abertura da Ação Católica brasileira e como este movimento foi importante não só para uma geração, mas para mudar através de seus quadros a própria história do país.  O trabalho com a juventude, agrária ou urbana de classe média e operária, teve como base, o trabalho do padre, Cardjin e a JOC belga. Foi através de experiências bem-sucedidas como esta, que os movimentos e pastorais aqui no Brasil, foram criados.

Gostaríamos de ressaltar neste pequeno artigo, o trabalho com a juventude, realizado pelos monges beneditinos do Mosteiro de São Bento da Bahia.

Quem não viveu os anos de chumbo, não tem ideia como este perigo esteve presente não só no imaginário dos nossos jovens, mas como era de fato, uma ameaça constante. Diante disto, o Mosteiro criou entre suas atividades sociais desenvolvidas em 1964, o coro de jovens, como uma forma de contribuir com a formação da nossa juventude.

Assim, chamamos à atenção para o fato da ligação entre a vida espiritual e o canto. Quando alguém busca sua espiritualidade através da música, transforma a melodia em oração e quando mais de uma pessoa está em sintonia com Deus, torna-se o canto coral - envolve tudo que se refere a um coro ou a uma capela, ou seja, a um conjunto de músicos vinculados ao recinto religioso da Igreja. Pode-se afirmar que vários destes textos antigos estabelecem uma ligação entre cerimônias de natureza espiritual, danças religiosas e o canto coral.

Memorial é resgatar a memória é lembrar um determinado dia é fazer com que nós não esqueçamos jamais deste acontecimento e a criação do Coral da Juventude do Mosteiro e São Bento precisa ser resgatado. Este trabalho desenvolvido pelos monges beneditinos, teve um papel fundamental na formação ética, moral e acadêmica de seus membros. O trabalho desenvolvido pelos monges e em especial, Dom Bernardo, criou naquela geração  um senso crítico e proporcionou a criação de uma arte como busca e instrumento de luta por justiça social.

        Entre os componentes do coral, podemos constatar várias gerações de profissionais liberais comprometidos com a transformação da sociedade: professores, enfermeiros, psicólogos, advogados, médicos, atrizes, donas de casa, jovens estudantes e adultos que ingressaram na faculdade muitas vezes com ajuda da instituição.

   
    O agente que traz a esperança e traduz os sonhos as emoções, dores e nostalgias da nossa juventude é sem dúvida o canto e a música. Só através das vozes e das partituras destes anjos, poderemos entender e traduzir todos estes sentimentos. 

Padre Carlos
 

 

 

 




terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Natal, uma teologia literária! (Padre Carlos)




Natal, uma teologia literária!

 

 

Como dizia meu professor de exegese, Padre Wolfgang Gruen, SDB, não se deve procurar, nos contos da chamada infância de Jesus, uma história segundo os moldes atuais, nem ver neles uma estranha biologia divina ou um tratado de astronomia. São muito mais do que um álbum da família de Nazaré, fixado como quadro exemplar de família.

Foi na vida adulta que o Nazareno testemunhou a sua missão. As mais belas representações do Natal servem para mostrar que ele não é um meteorito caído do céu. Nasce e vive segundo o Espírito de Deus, mas como todos os seres humanos. As narrativas sobre o curral em que nasceu, sobre as visitas entusiasmadas dos pastores que não eram frequentadores do Templo, dos Magos estrangeiros, do susto de Herodes, da matança das crianças, da fuga para o Egito e do bom comportamento das estrelas, significam que nasceu na história humana, em data aproximadamente conhecida, à margem dos poderes de dominação, mas aberto ao mundo e aos marginalizados da sociedade e da religião oficial.
Quando se procurou ler esses contos em registo histórico, foi que demos conta da vontade de verificar se foi mesmo assim que as coisas aconteceram. Quem acreditava que eram narrativas literalmente ditadas por Deus infalível tinha de confessar que lhe era exigida uma fé irracional, pois as narrativas não coincidem. Se metermos por esse caminho, acabamos em escandalosos becos sem saída.Talvez seja mais adequado reconhecer esses textos magníficos, que os cristãos vão ler na época natalícia, como obras de literatura religiosa. Merecem ser abordadas como teologia literária e não como teologia escolástica.Neste sentido, tenho uma devoção especial pela imaginação poética de Kahlil Gibran no seu Jesus, o Filho do Homem . Coloca no século XX todas as figuras que tiveram a ver com o mundo de Jesus, para nos dizerem o que as comoveu e que nos continuam a interrogar. Gibran escreveu um novo e antigo evangelho sobre o momento, sem limites de tempo, em que humanidade tomou a mais alta forma humana.
        
Um dos melhores presentes deste Natal, seria entender o significado desta data para uma fé adulta. com certeza seria uma revisão de vida. No entanto, S. João propôs ao velho Nicodemos a sabedoria que nos falta: nascer de novo. Por isso, o nosso batismo, o nosso radical renascimento, é o Natal que nos esquecemos sempre de celebrar, mesmo no Natal.
BoasFestas
Padre Carlos



segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

ARTIGO - O PT baiano pode voar mais alto! (Padre Carlos)


O PT baiano pode voar mais alto!


Parafraseando um grande empresário conquistense, o PT do Nordeste Pode Voar Mais Alto!
Desta forma, a principal base eleitoral do PT, o Nordeste está reivindicando não só,  mais protagonismo na direção nacional do Partido dos Trabalhadores, como a cabeça de chapa se o candidato não for Lula.
       
  A região não apresentou nenhum candidato à presidência da sigla,  já que Gleisi Hoffmann (PR) foi reconduzida ao cargo no mês passado, com o apoio do ex-presidente Lula. As lideranças nordestinas, tem cada vez mais tomado consciência, que precisa de uma organização partidária que transcenda a caatinga e possa compor com os pampas e outras correntes independentes do Sul e Sudeste, uma aliança que possa fazer frente a influência do PT paulistano em relação ao partido nas outras regiões do país. Assim, não restou outra alternativa ao governador e a sua corrente interna chamada Reencantar, do PT baiano, buscar se nacionalizar, este foi o verdadeiro motivo para o evento de Lauro de Freitas, só fortalecendo uma estrutura partidária a nível nacional, o Nordeste será ouvido.
 Mas além da presidência, o rolo compressor foi usado para ficar com a tesouraria para São Paulo e a secretaria de organizações para o estado de Minas Gerais.
A reivindicação do PT do Nordeste e principalmente da Bahia foi  um dos assuntos de pé de ouvido no 7º Congresso Nacional do PT, que reuniu os principais caciques do partido em São Paulo no mês passado.
A entrevista de Rui Costa, ao jornal Folha de São Paulo, colocou na linha direta de sucessão o governador baiano como um forte pré-candidato.
Depois daquela entrevista onde levantava como um erro o PT não ter apoiado Ciro Gomes, no último pleito, vemos agora um novo Rui, com um discurso mais a esquerda e com posições mais definidas. Ao expor seu ponto de vista, exalta a forma conciliadora do presidente Lula e ao divergir de alguma posição do partido, valoriza o legado que os mandatos presidenciais trouxeram para o Brasil.
         Não podemos negar a importância do PT da Bahia, principalmente do Senador Jacques Wagner e da sua relação de amizade com Lula e as lideranças do partido. Por outro lado, não podemos negar, que houve um desgaste das lideranças baiana, em relação as declarações prestadas a imprensa por parte de seus membros. Acredito que com esta entrevista, possamos ver um posicionamento mais eficaz do PT baiano em relação a um protagonismo maior destas lideranças.
         Rui passou a entender, que para reencantar o país, precisa primeiro, reencantar o PT e isto não se dará, se o partido abrir mão do protagonismo do projeto e deixar de ser a força hegemónica da esquerda.
Havendo impedimento da candidatura de Lula, tínhamos três nomes como prováveis candidatos: Flávio Dino, Haddad e Wagner. Com esta entrevista a Folha no dia 14 deste mês, o grupo baiano se fortalece e pode contar com a força do governador do Maranhão favorecendo assim, o Nordeste neste tabuleiro político.
      
   O grande problema nesta engenharia política é saber se o PT paulista vai abrir mão da cabeça de chapa. A máquina partidária dos paulistanos é infalível, só Lula poderia parar.
         Diante desta briga de titãs, vamos torcer para o PT do Nordeste possa voar verdadeiramente, mais alto!


          PadreCarlos


sábado, 14 de dezembro de 2019

ARTIGO - Nostalgia de um padre sem ministério (Padre Carlos)


Nostalgia de um padre sem ministério



Não. Não vou falar da falta que faz o Ministério Sacerdotal na minha vida. Não vou falar das amizades que eu achava que eram minhas e não do pároco. Não vou falar da dificuldade que é reconstruir a vida aqui fora depois de dedicar boa parte da sua vida a instituição. Também não vou falar do preconceito que os próprios leigos têm com os padres que deixaram o ministério. Não vou falar em nada disto porque as crônicas estão cheias destas constatações, os comentários a respeito destes assuntos proliferam, as análises sobrepõem-se e resta aguardar que as mudanças propostas por Francisco se confirmem e esperar que a realidade das coisas nos surpreenda.
Hoje vou falar do sentimento da perda que registei com particular evidência. A exclusão do clero é evidente agora, você depois de alguns anos percebe que aqueles camaradas lhe esqueceram e você não faz mais parte nem do passado delas. Quantos anos morei com aquelas pessoas, dividir o espaço do quarto, da sala, do refeitório e hoje você constata que tudo aquilo não representa mais nada. O carinho que você sente por estes, suas lembranças da filosofia e da teologia, são na verdade seus fantasmas que ficam povoando suas memórias.
A irmandade, a amizades de décadas e as histórias de vida se perderam no tempo, só você é que não percebeu. Mesmo sentindo a indiferença, confesso a vocês que não posso negar que me alegra ao ver aqueles companheiros. É uma geração que vai dando sinal que está envelhecendo e, com ela, um certo jeito de ser Igreja, de se relacionar, de celebrar, de cantar.
No fundo, acho que sublimei o conceito de clero e de presbitério , esse conceito de irmandade, transcende aquele outro mais comum: a de que irmão é alguém com quem temos afinidade, alguma forma de amor não sexual, alguém com quem podemos contar no infortúnio, na tristeza, pobreza, doença ou desconsolo. Claro que isso é também irmandade, mas o sentido profundo desse sentimento desafiador chamado amizade é proveniente de pessoas, conhecidas e que você partilhou boa parte da sua vida, elas podem estar distantes ou próximas, mas com seu carinho, nos levam ao melhor de nós. Precisamos ter a capacidade, de refazer percursos e vidas – privilégio de alguns, poucos, abençoados – hoje fui tocado pela orfandade, fiquei mais frágil e desamparado nesta época estranha em que a imagem dos que partiram realmente destoava.
Dei por mim a ouvir obsessivamente Cohen. Como se eu quisesse reencontrar um mundo que parece ter acabado. Como se conseguisse rebobinar a vida e reencontrar-me com uma certa forma de ser e de estar que estes últimos 30 anos de tanta voracidade consumiram. E ressuscitar tempos, valores, sentimentos, modelos de sociedade que sucumbiram a esta loucura cujo destino ignoramos, mas tememos!

Padre Carlos


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...