terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Natal, uma teologia literária! (Padre Carlos)




Natal, uma teologia literária!

 

 

Como dizia meu professor de exegese, Padre Wolfgang Gruen, SDB, não se deve procurar, nos contos da chamada infância de Jesus, uma história segundo os moldes atuais, nem ver neles uma estranha biologia divina ou um tratado de astronomia. São muito mais do que um álbum da família de Nazaré, fixado como quadro exemplar de família.

Foi na vida adulta que o Nazareno testemunhou a sua missão. As mais belas representações do Natal servem para mostrar que ele não é um meteorito caído do céu. Nasce e vive segundo o Espírito de Deus, mas como todos os seres humanos. As narrativas sobre o curral em que nasceu, sobre as visitas entusiasmadas dos pastores que não eram frequentadores do Templo, dos Magos estrangeiros, do susto de Herodes, da matança das crianças, da fuga para o Egito e do bom comportamento das estrelas, significam que nasceu na história humana, em data aproximadamente conhecida, à margem dos poderes de dominação, mas aberto ao mundo e aos marginalizados da sociedade e da religião oficial.
Quando se procurou ler esses contos em registo histórico, foi que demos conta da vontade de verificar se foi mesmo assim que as coisas aconteceram. Quem acreditava que eram narrativas literalmente ditadas por Deus infalível tinha de confessar que lhe era exigida uma fé irracional, pois as narrativas não coincidem. Se metermos por esse caminho, acabamos em escandalosos becos sem saída.Talvez seja mais adequado reconhecer esses textos magníficos, que os cristãos vão ler na época natalícia, como obras de literatura religiosa. Merecem ser abordadas como teologia literária e não como teologia escolástica.Neste sentido, tenho uma devoção especial pela imaginação poética de Kahlil Gibran no seu Jesus, o Filho do Homem . Coloca no século XX todas as figuras que tiveram a ver com o mundo de Jesus, para nos dizerem o que as comoveu e que nos continuam a interrogar. Gibran escreveu um novo e antigo evangelho sobre o momento, sem limites de tempo, em que humanidade tomou a mais alta forma humana.
        
Um dos melhores presentes deste Natal, seria entender o significado desta data para uma fé adulta. com certeza seria uma revisão de vida. No entanto, S. João propôs ao velho Nicodemos a sabedoria que nos falta: nascer de novo. Por isso, o nosso batismo, o nosso radical renascimento, é o Natal que nos esquecemos sempre de celebrar, mesmo no Natal.
BoasFestas
Padre Carlos



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