O papel do articulista.
Certa vez alguém me disse que são os artigos que nos
escolhem. Que há temas que nos obrigam a tropeçar neles para serem escritos.
Somos pontes para quem precisa das palavras que serão documentadas, como se
tratasse de uma mensagem.
Existem
artigos que podem mudar uma vida, como também podem marcar ou recordar um tempo
ou uma geração. Para quem viveu esta experiência, há sempre um que fica na
nossa memória mais afastada e de que, por alguma razão, nos recordamos com
especial gosto quando lemos certa matéria.
Outro
dia perguntei a um jovem se tinha hábito de leitura e quais suas preferidas? Ele me mostrou uma série de obras
e revistas que deveria ler para o vestibular. Este exemplo confirma-nos, por si
só, que andamos lendo o indispensável e obrigatório, não temos prazer na
leitura, apenas cumprirmos de forma rígida, um planejamento acadêmico.
Os
artigos que escrevo, são dirigidos para diversos públicos e idade, eles vão se
revelando e dialogando com os coletivos de tal forma, que foge o controle do
articulista. Meus leitores são compostos de várias idades e gerações, eles se
aproximam do texto, devido ao estado de espírito que comunga com o assunto que
aparece pela frente. Será que são os artigos que nos escolhem, em vez de sermos
nós? Acredito que sim: um artigo pode contar uma narrativa que poderia ser a
nossa própria história. Estes não precisam ser de auto-ajuda ou cartas de amor
ou dramas reais. Qualquer texto, mesmo os político que costumo escrever,
termina assumindo uma linguagem mais precisa, e são escritos com carinho sobre
um tema concreto. Desta forma, podem ser a chave para uma situação real que
leitor pode está passando.
Escrevo para construir minha própria identidade. Eles
obrigam-me a pensar sobre os temas abordados, originando nos meus neurônios
várias ligações que permitem descodificar a leitura, adaptando-a aos meus
conhecimentos e experiências.
Os
valores de hoje são diferentes dos quais fui forjado no seminário. Os relatos e
as narrativas servem para manter presentes as lutas e histórias de um povo ou
individuo que simbolizaram a vitória das virtudes e do esforço sobre as fracas
qualidades do ser humano, como temos vivenciado na política.
Uma
narrativa bem contada traz esperança para os oprimidos, mesmo quando estamos vivenciando
períodos negros da nossa história. O articulista ajuda seu publico a atravessar
este deserto e manter a utopia viva. Ele tem a obrigação de falar para os seus
leitores, que os seus sofrimentos terão fim no dia seguinte à derrota do mal.
Padre Carlos