quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

ARTIGO - O papel do articulista. (Padre Carlos)




O papel do articulista.


Certa vez alguém me disse que são os artigos que nos escolhem. Que há temas que nos obrigam a tropeçar neles para serem escritos. Somos pontes para quem precisa das palavras que serão documentadas, como se tratasse de uma mensagem.
Existem artigos que podem mudar uma vida, como também podem marcar ou recordar um tempo ou uma geração. Para quem viveu esta experiência, há sempre um que fica na nossa memória mais afastada e de que, por alguma razão, nos recordamos com especial gosto quando lemos certa matéria.
Outro dia perguntei a um jovem se tinha hábito de leitura e quais suas  preferidas? Ele me mostrou uma série de obras e revistas que deveria ler para o vestibular. Este exemplo confirma-nos, por si só, que andamos lendo o indispensável e obrigatório, não temos prazer na leitura, apenas cumprirmos de forma rígida, um planejamento acadêmico.
Os artigos que escrevo, são dirigidos para diversos públicos e idade, eles vão se revelando e dialogando com os coletivos de tal forma, que foge o controle do articulista. Meus leitores são compostos de várias idades e gerações, eles se aproximam do texto, devido ao estado de espírito que comunga com o assunto que aparece pela frente. Será que são os artigos que nos escolhem, em vez de sermos nós? Acredito que sim: um artigo pode contar uma narrativa que poderia ser a nossa própria história. Estes não precisam ser de auto-ajuda ou cartas de amor ou dramas reais. Qualquer texto, mesmo os político que costumo escrever, termina assumindo uma linguagem mais precisa, e são escritos com carinho sobre um tema concreto. Desta forma, podem ser a chave para uma situação real que leitor pode está passando.
Escrevo para construir minha própria identidade. Eles obrigam-me a pensar sobre os temas abordados, originando nos meus neurônios várias ligações que permitem descodificar a leitura, adaptando-a aos meus conhecimentos e experiências.
Os valores de hoje são diferentes dos quais fui forjado no seminário. Os relatos e as narrativas servem para manter presentes as lutas e histórias de um povo ou individuo que simbolizaram a vitória das virtudes e do esforço sobre as fracas qualidades do ser humano, como temos vivenciado na política.
Uma narrativa bem contada traz esperança para os oprimidos, mesmo quando estamos vivenciando períodos negros da nossa história. O articulista ajuda seu publico a atravessar este deserto e manter a utopia viva. Ele tem a obrigação de falar para os seus leitores, que os seus sofrimentos terão fim no dia seguinte à derrota do mal.

Padre Carlos

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