quarta-feira, 3 de junho de 2020

ARTIGO - A filosofia e a pós pandemia (Padre Carlos)




 

 

A filosofia e a pós pandemia

 

Outro dia um jovem me perguntou com filosofar dentro de um contexto de mundo infectado pelo covid-19? Pensei bastante e mesmo sabendo que iria fugir do tema que tinha proposto a falar, respondi aquela pergunta e acrescentei nova temática para minha fala.

Filosofar é ser aliado da paz, amigo da virtude e companheiro fiel da justiça. Desta forma, acredito que a filosofia é uma das disciplinas que podem ajudar a entender a atual situação do mundo globalizado e terrivelmente ameaçado pelo coronavírus. Sabemos que a globalização tem sido sobretudo tecnológica e econômico-financeira no quadro do neoliberalismo, é urgência maior pensar numa governança global (não digo um governo mundial, mas um comando global), para que o império da força da lei ponha limites ao império da lei da força do mais forte.  Na presente situação de crise global, vários polos do planeta se aliam já com intenções de domínio imperial global, a pandemia acabou por agudizar a tensão e a rivalidade entre a China e os Estados Unidos - e, neste contexto, pensar no diálogo multicultural e inter-religioso, em ordem à paz, à justiça, a uma atitude nova de respeito e cuidado da natureza, a nossa casa comum, a uma vida menos centrada no consumo imoderado, no ter, e mais no ser, nesse milagre que é ser, existir e conviver, também faz parte da filosofia.

Nestes tempos de pandemias, cada vez mais tomamos consciência disso -, quando percebe-se que o que tem de unir os seres humanos é a justiça, o amor, a solidariedade, a fraternidade, o respeito pela igualdade na diferença e pela diferença na igualdade, os seres humanos, todos, voltaram a encontrar-se e entenderam-se.

O mito da hegemonia americana do pós guerra tem perdido nos últimos tempos seu papel de mediador. Não podemos esquecer que o poderio militar nem sempre está ligado a liderança econômica que este símbolo traz, mas o mito transporta consigo uma verdade fundamental, "dá que pensar", como escreveu o grande filósofo do século XX, Paul Ricoeur.

O mundo do pós-guerra mudou, e aquela realidade bipolar que emergiu da guerra fria não existe mais. A nossa vida mudou muito com os avanços tecnológico, principalmente nas áreas das comunicações e da robótica, por isto é impossível não aceitar essa nova realidade. Mudanças que o mundo levaria décadas para passar, que a gente levaria muito tempo para implementar voluntariamente, a gente está tendo que implementar no susto, em questão de meses. É aí que o filósofo termina encontrando seu objeto de estudo, para que possa interpretar e buscar entender que mundo novo é esse. Este é o papel da filosofia neste momento tão difícil para a humanidade. São estes pensadores que ao teorizar esta realidade pós-coronavírus, ajudará outros profissionais para nos prepararmos para o que vem por aí. Porque uma coisa é certa: o mundo não será como antes.

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terça-feira, 2 de junho de 2020

ARTIGO - Pequena análise de conjuntura (Padre Carlos)




Pequena análise de conjuntura



Sempre alguém me pergunta se estamos vivendo em um Estado Fascista e se existe a possibilidade de isto vir acontecer. Assim, resolvi escrever sobre o assunto e como avalio a atual conjuntura.  No Brasil de hoje é improvável um Estado fascista, mesmo que generais de extrema-direita estejam ao redor do presidente, porque a formação ideológica restrita da maioria da sociedade civil, não respalda essa possibilidade. Os contextos externos e internos também não são desfavoráveis a aventuras como esta. Podemos dizer que estamos caminhando a passos largos, para um Estado fora da lei, ou poderia ser, um Estado policialesco, ou quem sabe, um Estado miliciano. Mas, uma coisa eu tenho certeza, qualquer que seja o Estado, será sempre aquele que sirva aos interesses de uma família, de um grupo, de uma ideia de “limpeza” social que se concilie com a ocultação dos malfeitos do governo.
Temos cada vez mais a certeza, que este projeto tem a pretensão de criar um Estado que atropele a Constituição, algeme as instituições e tente silenciar a oposição. Por isto, presenciamos a direita “democrática” querendo formar uma frente para tirar Bolsonaro e não uma aliança em cima de um projeto de Nação. Este Governo de extrema-direita já destruiu mais direitos do povo do que a ditadura nos vinte anos que esteve no poder. Mesmo assim, acredito que antes de sair, este grupo vai promover estrago tanto financeiro como político, que levaremos muitos anos para recuperar estas perdas.
 Bolsonaro entregou de mão beijada a maior QUADRILHA DE BANDIDOS CORRUPTOS a estrutura financeira do governo. Foi para as “crianças” inocente DO CENTRÃO que ele entregou o nosso orçamento que ultrapassa a casa dos 80 bilhões de reais. Sexta-feira, Bolsonaro entregou o Banco do Nordeste a um discípulo do réu confesso, preso mais de uma vez por corrupção, Valdemar da Costa Neto, um dos arquitetos do Centrão. Sim meus senhores, a raposa vai cuidar do cofre do BNB. Falar dos demais bandidos como Roberto Jefferson, Artur Lira, Ciro Nogueira, até o padrinho de Herzem, Geddel, o das malas de R$ 51 milhões, emplacou um ex-assessor no Iphan.
O receio que existe de enfrentar estas pessoas por parte das forças democráticas não tem sentido e as esquerdas e os movimentos populares, tem que sair da quarentena política e não se amedrontar com as frequentes ameaças destes extremistas. Atacar a imprensa e jornalistas, macular adversários e apontar conspiração inimiga nas instituições que limitam as ações ilegais parecem parte da estratégia de poder. Ameaçar descumprir ordens do STF seria, porém, o gesto mais irracional de Bolsonaro. Não seriam as milícias digitais ou as armadas que dariam segurança a um Estado fora da lei. Muito menos os generais leais iriam querer ser confundidos. O jogo de Bolsonaro e seus radicais correria o risco de não suportar uma aposta alta.
Desta forma, sem que o Brasil se dê conta disso, a noite que cai sobre Brasília está em vias de obscurecer todo o país. Se não fizermos nada e se, passado o sinal de alerta, voltarmos às nossas vidas como se saíssemos de uma quarentena, então seremos todos vencidos. Se vocês que se dizem democráticos não fizerem nada nesse momento e cruzarem os braços como fizeram na eleição passada, então seremos todos derrotados. Se não pretendem fazer nada pelo povo, ao menos façam alguma coisa por vocês mesmo e pelo futuro dos seus filhos.



segunda-feira, 1 de junho de 2020

ARTIGO - Nossa obrigação deveria ser salvar vidas! (Padre Carlos)




Nossa obrigação deveria ser salvar vidas!

Nesta segunda-feira 1º de junho, fica autorizado o atendimento ao público nos estabelecimentos comerciais da nossa cidade. Vitória da Conquista tomou no início da pandemia, todas as medidas necessárias para combater o vírus no momento certo e é por isso que a nossa cidade, ao contrário de outras localidades, não entrou em colapso e ninguém deixou de ser atendido ou veio a óbito por falta de estrutura hospitalar até hoje. Por isto, não justifica a o Decreto 20.323, publicado no Diário Oficial do Município, que estabelece novas medidas considerando a situação atual em que se encontra Vitória da Conquista.
 Segundo as autoridades da OMS (Organização Mundial da Saúde), O pior da pandemia ainda não chegou para o Brasil. Por isto, não entendemos o comportamento das nossas lideranças.
No momento em que o Brasil passa a se encontrar entre os países que têm registrado os maiores aumentos diários de casos da doença, com transmissão ainda fora de controle, não justifica tal medida. É por estas razões, que o Conselho de Saúde da nossa cidade é contra esta medida, eles sabem que o pico do contágio ainda não chegou, e no momento não é possível prever quando chegará. Até domingo (31), o Brasil tinha 514.849 casos confirmados de coronavírus e 29.314 mortes, com 480 novos mortos nas 24 horas anteriores.
Nós deveríamos ter tomado as medidas corretas com base em dados científicos e motivados pelo crescimento vertiginoso da propagação do vírus em toda a região do sudoeste baiano. E não em posicionamentos políticos, ideológicos, mercadológicos ou eleitoreiros. Tem gente que tem interesses próprios de mercado ou já armou o palanque para disputas de prefeitos e vereadores e professavam a abertura irresponsável – em um momento que a doença está em uma curva ascendente – sem preocupar-se com vidas humanas e com o colapso no sistema de saúde pública e privada que isso poderá causar neste momento.
 Por isto, não justifica o Decreto 20.323, publicado no Diário Oficial do Município, que estabelece novas medidas considerando a situação atual em que se encontra Vitória da Conquista. Não podemos criar um Protocolo tendo só como ponto principal à capacidade do sistema de saúde pública para atender a população. Todo o trabalho conjunto entre poderes público e a comunidade conquistense, controlado a disseminação do coronavírus no município e minimizado a taxa de progressão da doença, poderá se perder com esta flexibilização.


sábado, 30 de maio de 2020

ARTIGO - Francisco e o Pentecostes (Padre Carlos)



Francisco e o Pentecostes

Domingo, dia 30 de maio, neste dia a Igreja lembra e celebra o início da missão da Igreja no mundo, após os apóstolos terem recebido o dom do Espírito Santo. A Comemoração de Pentecostes acontece 50 dias após o Domingo da Ressurreição. O Espírito Santo desceu sobre a comunidade cristã de Jerusalém na forma de línguas de fogo. Aí todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas.
Nestes dias de quarentena minhas orações estiveram voltadas a uma unidade entre a natureza e o divino. Assim, não pude deixar de reconhecer a profundidade que a espiritualidade franciscana ensina-nos: obediência  a  Deus e à Igreja. Com o passar dos anos e os cabelos brancos como testemunho desta caminhada, vou descobrindo a necessidade desta ao Senhor. Esta tomada de consciência traz uma maturidade sobre a necessidade de carregar a cruz e a certeza desconcertante que ela é pesada.
A vida cristã tem que passar pela cruz, senão não é cristã. Jesus cumpriu sua missão de obediência ao Pai carregando a cruz dos nossos pecados e no calvário ofereceu-se pela humanidade. Um cristão, não deve fugir da cruz. São Francisco de Assis, o Arauto da Paz, encontrou a razão da sua vida e a força da sua vocação missionária diante do Crucificado. Portanto, a teologia da cruz está presente nas minhas orações diária. É nela, na cruz, que a vida dá-se e dela é que a vida prepara-se para renascer na ressurreição. Esse tempo pascal, que terminou no Domingo de Pentecostes, ajudou-nos a viver este mistério da vitória do Cristo.
Francisco, falando com o Crucificado, ouviu dele um pedido: “Vai, reconstrói a minha Igreja”. Ele obedeceu! Saiu dali e foi cumprir o pedido do Crucificado, começando sua atividade evangelizadora e foi atraindo irmãos, com os quais formou uma fraternidade missionária e ajudou a Igreja a se renovar. Acredito que foi este o contexto que Jorge Mário Bergólio vivenciou: “que queres que eu faça?”. O Senhor disse: “ide aos meus irmãos” aos pequeninos aos que sofrem aos pobres  para anunciar o Evangelho da esperança, apascentar o meu povo com o coração do Bom Pastor, santificar os fieis com os sacramentos da vida.
O apóstolo Paulo transmitiu “as decisões que os apóstolos e anciãos de Jerusalém haviam tomado. E recomendavam que fossem observadas. As Igrejas fortaleciam-se na fé e, de dia para dia, cresciam em número” (At 16, 4). Eles eram conduzidos pelo Espírito Santo e iam onde o Espírito levava-os. Por isso foram à Macedônia. E fizeram muito bem àquela Igreja. 
    Um jesuíta argentino chegou em Roma porque o Espírito Santo, que governa a Igreja, levou-o para fazer o bem aos seus irmãos. Não fui ele que escolheu a Cúria. Foi o Espírito Santo que  convocou-o em nome de Cristo e ele de bom grado veio como Companheiro de Jesus e a responsabilidade de Francisco, com a força do Espírito Santo para reconstruir a Igreja, que o Senhor lhe confiou.


ARTIGO - Quem não é visto não é lembrado (Padre Carlos)




Quem não é visto não é lembrado

Tem uma frase que sintetiza muito bem a experiências vividas por algumas pessoas que se sentem esquecidas: “quem não é visto não é lembrado,” com esta frase gostaria de começar este nosso texto.
Eventualmente, alguns padres terminam deixando de exercer o sacramento da Ordem para viverem novas experiências na sua vida e por afastar-se e deixar de fazer parte do clero, seja por falta de vocação ou não, terminam aceitando um certo tipo de exílio. Eles acabam abdicando de um lugar que era inerente a eles. Quando sai, um vazio toma conta do seu lugar.
 Com isso, eles acaba sendo esquecidos aos poucos pelos outros sacerdotes, mesmo que estes ainda se importem com eles. Sim, como diz a frase: Quem não é visto não é lembrado significa literalmente que alguém termina perdendo a atenção quando se ausenta.
De início é comum que os companheiros de seminários e a irmandade do presbitério, faça com que alguns lhe procurem nos primeiros anos, tentando repor a sua ausência. Contudo, quando um indivíduo se afasta, é bem mais fácil deixá-lo ir do que tentar mantê-lo. Aos poucos, os companheiros acabam abrindo mão de sua companhia. Se antes a ausência era um incômodo, hoje ela passa a ser tolerável.
Da mesma forma que acontece com a partida, o retorno a igreja também é feito de modo estranho. As pessoas já se acostumaram com o vazio que a saída destes deixaram e recebem de forma estranha o seu retorno. Não que vocês não sejam mais bem-vindo, nada disso. Entretanto, a comunidade de fé termina tendo que reaprender a ter vocês de volta, o que é desconfortável para ambos.
Como quem não é visto não é lembrado, é preciso fazer valer a sua presença e mostrar que a sua história de vida está ligada aquele grupo. Claro, isso não pode ser feito de qualquer forma, já que existe um linha que divide narcisismo de companheirismoEm falar em companheirismo, a palavra companheiro remete ao latim cum – pane; o seu significado é comunhão, isto é "o que come do mesmo pão, na mesma mesa. Sim, comemos do mesmo pão e fomos ungidos no mesmo altar, fomos investidos de autoridade por meio da mesma unção,







sexta-feira, 29 de maio de 2020

ARTIGO - Estado de emergência e o jogo da fraude e da corrupção (Padre Carlos)




Estado de emergência e o jogo da fraude e da corrupção


 

Não há nada melhor para um corrupto do que uma boa oportunidade!


Já diz o velho e conhecido ditado popular: “a ocasião faz o ladrão”. Afirmando que, de algum modo, a vítima do roubo ou furto facilitou a ação criminosa. O que queremos chamar a atenção do leitor é que a fraude e a corrupção “nascem” dentro de um contexto e diante da atual situação em que se encontra o pais, podemos afirmar que a conjuntura que se formou com a pandemia, termina criando dois fatores que podem proporcionar este crime. Um de natureza objetiva, a Oportunidade, e outro de natureza subjetiva, o Índice de Integridade e de Motivação do agente – o corrupto – para alcançar esse propósito.
Do ponto de vista do fraudador, a fraude e a corrupção são uma espécie de jogos em que participa com um único propósito. Ganhar sempre e o mais possível!
É como um jogo qualquer, se busca uma estratégia em função do contexto próprio de cada jogada, analisando e explorando com muito cuidado e friamente as oportunidades de êxito que elas lhe oferecem. Não há nada melhor para um corrupto do que uma boa oportunidade!
O contexto de pandemia gerado pela Covid-19, sobretudo as medidas preventivas que tem sido adotadas para lhe fazer frente, tem sido também uma grande oportunidade para o aparecimento dos fenómenos da fraude e da corrupção.
Todos nós recordamos como nas primeiras semanas se verificou uma falta generalizada de máscaras, de produtos de desinfecção e de ventiladores nos  prestadores de serviço do SUS, e também nas lojas, e nos fornecedores destes produtos, criando uma busca desesperada e se apropriando de uma situação em resultado do desequilíbrio repentino entre a oferta e a procura desses bens, como esse contexto foi de imediato explorado por alguns operadores de mercado como uma oportunidade para incrementarem de forma rápida e fraudulenta os lucros com a venda de tais produtos.
Por outro lado, os Estados se viram confrontados com a necessidade de adotar medidas restritivas dos contatos sociais, a fim de reduzir o risco de contágio, o processo de confinamento e os efeitos que ele tem provocado tornaram-se também objeto de fortes e necessários apoios financeiros. Estes apoios têm procurado assegurar fundamentalmente:
-              A garantia e o reforço da prestação de cuidados de saúde, através do (1) internamento e tratamento dos doentes infetados, e; (2) do controlo e prevenção da propagação do surto infeccioso;
-              A existência de campanhas sociais para os desempregados, às famílias e às empresas, devido sobretudo às situações das medidas que levaram ao confinamento, e;
-              A necessidade de apoiar a retomada da economia, com particular incidência nos setores que ficaram mais afetados com a crise.
Não se questiona, nem se pode questionar, a necessidade e utilidade destas ações! São momentos como este que nos mostram a importância de um Estado forte e a necessidade da existência destas estruturas em função dos nossos interesses coletivos! Se existissem alguma dúvida sobre a importância do Estado, estes contexto em que nos encontramos é suficientemente fortes para desfazer  qualquer discurso  liberal.
Mas, claro, todas estas medidas tem custos financeiros que tem de ser pagos! Nosso objetivo é chamar a atenção para os órgãos fiscalizador para acompanhar de perto estas despesas.
Não podemos esquecer, que a pandemia de Covid-19 pressiona prefeitos e governadores a agir de forma rápida para assegurar a aquisição de insumos necessários ao enfrentamento da doença. Respiradores, máscaras e demais equipamentos de proteção individual entraram para a lista prioritária de compras realizadas sem licitação em função do novo coronavírus. É uma guerra comercial, mas que revela implicações diante dos valores que são cobrados. Desde abril, investigações por mau uso do dinheiro público se espalharam por todo o país e por se tratar de verba federal a polícia federal deverá ser acionada.
Não podemos esquecer, que mesmo diante de tantas perdas fatais por covid-19, ainda há quem tenha coragem de aplicar golpes contra a administração pública.


quinta-feira, 28 de maio de 2020

ARTIGO - O espírito de comunidade e o covid-19 (Padre Carlos)




O espírito de comunidade e o covid-19


Quando foi decretada a obrigatoriedade do uso da máscara facial de proteção para prevenir o avanço da covid-19 no interior dos estabelecimentos comerciais e nos transportes públicos, passamos entender a importância destas medidas e o que é mais importante, passamos a ciar uma nova cultura.
          Diante da gravidade do problema e com a intenção do prefeito de flexibilizar o decreto municipal é necessário determinar que todos os habitantes do município sejam obrigados a usar máscaras faciais quando saírem de casa e sempre que frequentar locais públicos.
A decisão de massificar a utilização das máscaras faciais tem que partir das autoridades, mas está  sendo quase um consenso  a adesão a este tipo de proteção, que antecede esta decisão política, que teve por base as pressões que os empresários desta cidade vem fazendo junto aos poderes público. Estes atos, colocarão com certeza em risco a ´população de Vitória da Conquista. Não podemos fechar os olhos para o que vem acontecendo em Feira de Santana, a segunda maior cidade  da Bahia.
O que na verdade precisamos é criar na nossa cidade o espírito de comunidade inerente ao slogan que promove a ideia do uso massivo de máscaras: My mask protects you. Your mask protects me (A minha máscara protege-te. A tua máscara protege-me).
Num tempo em que, muitas vezes, o individualismo se sobrepõe, em que enfrentamos uma doença para a qual não existe tratamento ou vacina, mas que nos pode levar a temer e a rejeitar o próximo, esta ideia de que uma ação individual tem por fim proteger o outro e subjacente a ela tem a confiança de que o outro me protegerá a mim é uma afirmação cultural.
Esta nova realidade, em que usar máscara e manter o distanciamento, termina sendo para toda comunidade, um tempo de aceitação e de afirmação de cultura cívica.
O cumprimento das regras de confinamento e de distanciamento social, a utilização da máscara facial e o cuidado nas rotinas de higienização são sacrifícios que cada um faz, não apenas por si, mas pela comunidade, confiando que cada um dos membros desta zelará pela nossa segurança.
Além de colocar à prova a forma como a comunidade enfrenta e encontra formas de superar esta crise global de saúde pública, esta pandemia é um teste à natureza da própria comunidade, ou seja, de como os indivíduos interpretam a sua participação no que é comum.
Para vencer o alto grau de exposição ao vírus que o prefeito e o seu comitê estará impondo a nossa comunidade a partir de primeiro  de junho, temos como sociedade civil de educar a população de  tal forma que o uso de máscara precisa passar a ser entendido como um comportamento socialmente responsável, enquanto, pelo contrário, sair à rua ou usufruir do espaço público sem qualquer proteção tem que ser entendido como um comportamento antissocial, um desrespeito para com o outro que constitui um risco para a comunidade.
Este é o teste que a flexibilização do decreto nos traz e, para superá-lo, é necessário, primeiro, reconhecê-lo como tal e saber, depois, se estamos dispostos ao salto cívico que temos de dar para sermos uma comunidade e não, apenas, um conjunto de indivíduos.
Aceitar os imperativos desta realidade de proteção mútua num contexto de sociedades individualizadas e de baixa densidade social, é compreender que é preciso preocuparmo-nos com o outro, para que faça sentido ao outro preocupar-se conosco. Só há uma forma de superarmos uma crise desta natureza: juntos.


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...