O espírito de comunidade e o covid-19
Quando foi decretada a obrigatoriedade do uso da
máscara facial de proteção para prevenir o avanço da covid-19 no interior dos
estabelecimentos comerciais e nos transportes públicos, passamos entender a
importância destas medidas e o que é mais importante, passamos a ciar uma nova
cultura.
Diante da gravidade do problema e com a intenção do
prefeito de flexibilizar o decreto municipal é necessário determinar que todos os
habitantes do município sejam obrigados a usar máscaras faciais quando saírem
de casa e sempre que frequentar locais públicos.
A decisão de massificar a utilização das máscaras
faciais tem que partir das autoridades, mas está sendo quase um consenso a adesão a este tipo de proteção, que
antecede esta decisão política, que teve por base as pressões que os
empresários desta cidade vem fazendo junto aos poderes público. Estes atos,
colocarão com certeza em risco a ´população de Vitória da Conquista. Não
podemos fechar os olhos para o que vem acontecendo em Feira de Santana, a
segunda maior cidade da Bahia.
O que na verdade precisamos é criar na nossa cidade o espírito de
comunidade inerente ao slogan que promove a ideia do uso massivo de máscaras:
My mask protects you. Your mask protects me (A minha máscara protege-te. A tua
máscara protege-me).
Num tempo em que, muitas vezes, o individualismo se
sobrepõe, em que enfrentamos uma doença para a qual não existe tratamento ou
vacina, mas que nos pode levar a temer e a rejeitar o próximo, esta ideia de
que uma ação individual tem por fim proteger o outro e subjacente a ela tem a
confiança de que o outro me protegerá a mim é uma afirmação cultural.
Esta nova realidade, em que usar máscara e manter o distanciamento, termina sendo para toda comunidade, um tempo de aceitação e de
afirmação de cultura cívica.
O cumprimento das regras de confinamento e de
distanciamento social, a utilização da máscara facial e o cuidado nas rotinas
de higienização são sacrifícios que cada um faz, não apenas por si, mas pela
comunidade, confiando que cada um dos membros desta zelará pela nossa segurança.
Além de colocar à prova a forma como a comunidade
enfrenta e encontra formas de superar esta crise global de saúde pública, esta
pandemia é um teste à natureza da própria comunidade, ou seja, de como os
indivíduos interpretam a sua participação no que é comum.
Para vencer o alto grau de exposição ao vírus que o
prefeito e o seu comitê estará impondo a nossa comunidade a partir de
primeiro de junho, temos como sociedade civil
de educar a população de tal forma que o
uso de máscara precisa passar a ser entendido como um comportamento socialmente
responsável, enquanto, pelo contrário, sair à rua ou usufruir do espaço público
sem qualquer proteção tem que ser entendido como um comportamento antissocial,
um desrespeito para com o outro que constitui um risco para a comunidade.
Este é o teste que a flexibilização do decreto nos
traz e, para superá-lo, é necessário, primeiro, reconhecê-lo como tal e saber,
depois, se estamos dispostos ao salto cívico que temos de dar para sermos uma
comunidade e não, apenas, um conjunto de indivíduos.
Aceitar os imperativos desta realidade de proteção
mútua num contexto de sociedades individualizadas e de baixa densidade social,
é compreender que é preciso preocuparmo-nos com o outro, para que faça sentido
ao outro preocupar-se conosco. Só há uma forma de superarmos uma crise desta
natureza: juntos.
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