"Fratelli Tutti" (Todos
irmãos)
A busca da Fraternidade: a lição de Francisco
Foi com gestos cheio de
simbolismo, que o Papa Francisco chegou a Assis no dia 3 de outubro, para assinar
a encíclica Fratelli Tutti. Com esta peregrinação, busca resgatar o
compromisso do outro Francisco na sua dimensão de relação com o mundo natural e
criado por Deus, dando continuidade as propostas da Laudato Si, e aprofundando
o verdadeiro sentido dessa ecologia: o sermos todos Irmãos. À tão repetida declaração do santo de Assis, “Irmã
Sol” e “Irmã Lua" , o Francisco do séc. XXI retorna
oitocentos anos depois, para afirmar que todo e qualquer humano é nosso Irmão.
E para esta afirmação, o Sumo Pontífice recupera no início do seu novo texto o
episódio da visita ao Sultão Malik-al-Kamil, em pleno séc. XIII, num tempo de
tremendas guerras religiosas.
Esta nova encíclica, busca
identificar o surgimento de “novas formas de egoísmo e de perda do sentido
social mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais”. A encíclica
associa os discursos de ódio a regimes políticos populistas e a “abordagens
económico-liberais”, que defendem a necessidade de “evitar a todo o custo a
chegada de pessoas migrantes”.
Sobre o racismo, Francisco
afirma ser um “vírus que muda facilmente” e “está sempre à espreita”, em
“formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até
maus-tratos”. Essas expressões devem envergonhar-nos, porque põem a descoberto
o pouco que a sociedade evoluiu de fato e que esses avanços não estão
garantidos.
Francisco pede, por isso, que
os países abandonem esse “desejo de domínio sobre os outros” e adotem uma
política “ao serviço do verdadeiro bem comum”, afirmando que os responsáveis
políticos se devem preocupar mais em “encontrar uma solução eficaz” para a
exclusão social e económica do que com as sondagens.
O Papa defende ainda que o
“desprezo pelos vulneráveis” pode esconder-se em formas populistas que,
“demagogicamente, se servem deles para os seus fins”, ou em formas liberais “ao
serviço dos interesses económicos dos poderosos”, e alerta para a diferença entre
populismo e popular.
Francisco considera essencial
pensar a participação social, política e económica, de forma a incluírem
movimentos populares e lamenta sobretudo a “intolerância e o desprezo perante
as culturas populares indígenas”.
Referindo-se especificamente
às plataformas digitais e redes sociais, mostra-se preocupado com as
manifestações de ódio e de destruição aí propagadas, e com o visível aumento de
“formas insólitas de agressividade, com insultos, impropérios, difamação,
afrontas verbais” até destruir a imagem do outro.
O texto realça que a conexão digital
pode “isolar do mundo”, alimenta a divulgação e discussões em torno de “fake
news" e aniquila a “capacidade de respeitar o ponto de vista do
outro”, um pressuposto do “diálogo social autêntico”.
Quando terminei de fazer esta
abordagem, desta nova encíclica, pensei como seria bom se estes movimentos
populistas que tem surgido no mundo nos últimos tempos, não reunisse as mesmas características
do antigo. Só assim poderíamos ficar sossegados, dizendo como em Molière: “
Senhora, tendo adormecido, escapamos por um triz”.