domingo, 11 de outubro de 2020

ARTIGO - Ciro e o projeto de direita (Padre Carlos)

 

 

Ciro e o projeto de direita

 


 

Faz um mês que venho tentando entender Ciro Gomes e o PDT neste tabuleiro da política brasileira. Assim, quando tomei conhecimento dos elogios que ele fez ao prefeito, ACM Neto na convenção municipal do PDT em Salvador, pude entender que quando a ideologia deixa de existir em um partido, as únicas coisas que podem preencher estes vazios, são os projetos pessoais. A família Gomes se comprometeu junto com o DEM, a construir “um projeto alternativo a essa quadra de desmantelo, entreguismo, destruição das nossas riquezas”.

 


Qual seria o projeto e qual ideologia iria alicerçar esta aliança? Ora, uma ideologia assenta num sistema de ideias, princípios e valores que apontam para uma certa visão do mundo ou de uma sociedade concreta e que determina a intervenção de pessoas ou de grupos organizados de pessoas nos planos político, partidário, econômico, jurídico e social. Assim, não encontro dentro de uma visão ideológica, como poderia conciliar o trabalhismo e o liberalismo. Outra coisa que eu também  não consigo entender, é a lógica no discurso que os Gomes fazem contra o Partido dos Trabalhadores e suas alianças espúria com as forças golpistas. Nesta convenção foi selado a aliança entre o PDT e o DEM na capital baiana: o candidato de ACM Neto, o vice-prefeito Bruno Reis, é do DEM; e sua candidata a vice, Ana Paula Matos, é do PDT.

O pedetista se rasgou em elogios ao partido de ACM, o avô de Neto, a quem se referiu como seu “velho amigo” – nem parecia o mesmo que chamou Neto de “tampinha” e “anão moral” e ouviu de ACM que era “covarde”, “sem caráter” e “escória da política brasileira”. Enquanto assistia Ciro joga toda a história trabalhista de Brizola no lixo, me veio à mente as palavras de Maquiavel: “Em política, os aliados de hoje são os inimigos de amanhã”.

 

Não consigo entender como, o PDT e o DEM possam compartilhar uma mesma visão de país.  Em Fortaleza, o PSDB desistiu de ter candidatura própria para apoiar o candidato do PDT, selando a reaproximação entre Ciro e o seu mentor político, o tucano Tasso Jereissati. Estas movimentações indicam que o candidato do PDT está costurando uma aliança para 2022 com as forças de direita e parte do centro, desde o DEM até o PSDB e PSB.


O que tem chamado minha atenção, é a incoerência de Ciro. O pedetista tem atacado o PT pelas alianças que fez. Mas por outro lado, está costurando uma aliança pior ainda, com as forças de direita e conservadoras.  Nos últimos anos, e sobretudo desde que perdeu a eleição em 2018, o pedetista e seus correligionários nas redes sociais têm se esforçado em atacar o PT pelas alianças que fez, assim quando age desta forma, o coronel de Sobral perde a força do discurso.

Para ser presidente é necessário abandonar a hipocrisia que o tem guiado, apontando o dedo para as alianças dos outros enquanto não mostra tantos pruridos ao construir as suas próprias. Não há possibilidade de governar o país sem fazer alianças e Ciro sabe disso. Ao se associar ao DEM, partido dos coronéis do Nordeste, acredito que ele esteja agora em uma posição mais confortável e familiar.

  


 


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