quinta-feira, 8 de outubro de 2020

ARTIGO - "Fratelli Tutti" (Todos irmãos) (Padre Carlos)

 

             

 

 "Fratelli Tutti" (Todos irmãos)



 

A busca da Fraternidade: a lição de Francisco

Foi com gestos cheio de simbolismo, que o Papa Francisco chegou a Assis no dia 3 de outubro, para assinar a encíclica Fratelli Tutti. Com esta peregrinação, busca resgatar o compromisso do outro Francisco na sua dimensão de relação com o mundo natural e criado por Deus, dando continuidade as propostas da Laudato Si, e aprofundando o verdadeiro sentido dessa ecologia: o sermos todos Irmãos. À tão repetida declaração do santo de Assis, “Irmã Sol” e “Irmã Lua" , o Francisco do séc. XXI retorna oitocentos anos depois, para afirmar que todo e qualquer humano é nosso Irmão. E para esta afirmação, o Sumo Pontífice recupera no início do seu novo texto o episódio da visita ao Sultão Malik-al-Kamil, em pleno séc. XIII, num tempo de tremendas guerras religiosas.


Esta nova encíclica, busca identificar o surgimento de “novas formas de egoísmo e de perda do sentido social mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais”. A encíclica associa os discursos de ódio a regimes políticos populistas e a “abordagens económico-liberais”, que defendem a necessidade de “evitar a todo o custo a chegada de pessoas migrantes”.

Sobre o racismo, Francisco afirma ser um “vírus que muda facilmente” e “está sempre à espreita”, em “formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos”. Essas expressões devem envergonhar-nos, porque põem a descoberto o pouco que a sociedade evoluiu de fato e que esses avanços não estão garantidos.

Francisco pede, por isso, que os países abandonem esse “desejo de domínio sobre os outros” e adotem uma política “ao serviço do verdadeiro bem comum”, afirmando que os responsáveis políticos se devem preocupar mais em “encontrar uma solução eficaz” para a exclusão social e económica do que com as sondagens.

O Papa defende ainda que o “desprezo pelos vulneráveis” pode esconder-se em formas populistas que, “demagogicamente, se servem deles para os seus fins”, ou em formas liberais “ao serviço dos interesses económicos dos poderosos”, e alerta para a diferença entre populismo e popular.

Francisco considera essencial pensar a participação social, política e económica, de forma a incluírem movimentos populares e lamenta sobretudo a “intolerância e o desprezo perante as culturas populares indígenas”.

Referindo-se especificamente às plataformas digitais e redes sociais, mostra-se preocupado com as manifestações de ódio e de destruição aí propagadas, e com o visível aumento de “formas insólitas de agressividade, com insultos, impropérios, difamação, afrontas verbais” até destruir a imagem do outro.

texto realça que a conexão digital pode “isolar do mundo”, alimenta a divulgação e discussões em torno de “fake news" e aniquila a “capacidade de respeitar o ponto de vista do outro”, um pressuposto do “diálogo social autêntico”.


Quando terminei de fazer esta abordagem, desta nova encíclica, pensei como seria bom se estes movimentos populistas que tem surgido no mundo nos últimos tempos, não reunisse as mesmas características do antigo. Só assim poderíamos ficar sossegados, dizendo como em Molière: “ Senhora, tendo adormecido, escapamos por um triz”.

 

 

 

 

 

 

 


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