Lula, um democrata, um
estadista?
Era ainda a metade da década de 70 quando comecei a militar nos quadros
da Juventude Operária Católica (JOC), foi na luta que minha geração foi forjada
e por ter acompanhado um pouco da história recente do Brasil, passei a entender
que a saga
de um povo se confunde muito com a história do seu líder. Diante de tudo que
aconteceu com Lula desde as lutas no movimento operário até as masmorras de
Curitiba, podemos entender que não é fácil ficar do lado do povo e da justiça.
Diz-se que os mitos fazem parte do sistema de
crença de uma cultura, que os considera como histórias verdadeiras. Têm a
função de proporcionar um apoio narrativo às histórias centrais de uma
comunidade.
Sendo assim, Lula se
tornou um mito, não pertence mais este plano e seus feitos transcenderam
fronteiras e podemos dizer que já entrou para história. Ao constatar, que esta afirmação é um
consenso que vai da direita à esquerda, temos assim que ter clareza sobre o que
está em jogo, em disputa, é o significado desta narrativa, o que ela
representa.
A direita brasileira criou uma narrativa
sem provas que Lula é o maior corrupto da história do Brasil. Já à esquerda,
declarou e vem conseguido manter seu projeto que este homem é a principal
liderança popular que este país já teve.
Esta é a verdadeira luta que vem se travando
no cenário brasileiro. A disputa está aí. Se não existisse a rede de
computadores se não houvesse uma imprensa alternativa, poderíamos dizer que a
batalha já estaria perdida. Sabemos que não pode haver duas narrativas para a
mesma história. Ou é uma coisa ou é a outra. Cada um que escolha seu lado.
Quando o antropólogo
Claude Lévi-Strauss afirma que todo o mito deve obedecer a três atributos:
tratar de uma questão existencial, ser constituído por
contrários irreconciliáveis e proporcionar a reconciliação desses pólos para
acabar com a angústia, ele termina explicando para a gente porque todo
gesto de Lula tem dimensão simbólica, Lula pega o microfone e o país paralisa
em frente à TV. Os admiradores choram. Os jornalistas a serviço da mídia
hegemônica silenciam. Ninguém fica indiferente as suas palavras e a
personalidade que incorpora.
Ele tem consciência do seu papel na história,
diferente dos seus algozes, sabe perfeitamente que está sendo observado,
conhece muito bem o tamanho que tem e explora com extrema habilidade sua
capacidade de fabricar símbolos.