quinta-feira, 11 de março de 2021

ARTIGO - Lula, um democrata, um estadista? (Padre Carlos)

 


 

Lula, um democrata, um estadista?

 


Era ainda a metade da década de 70 quando comecei a militar nos quadros da Juventude Operária Católica (JOC), foi na luta que minha geração foi forjada e por ter acompanhado um pouco da história recente do Brasil, passei a entender que a saga de um povo se confunde muito com a história do seu líder. Diante de tudo que aconteceu com Lula desde as lutas no movimento operário até as masmorras de Curitiba, podemos entender que não é fácil ficar do lado do povo e da justiça.

 


    Como militante político há mais de quarenta e cinco anos e professor de filosofia, posso afirmar que Lula há muito tempo deixou de ser homem e se tornou uma narrativa ou como costumamos chamar no campo filosófico, um mito. Do grego mythos (“conto”), um mito remete para um relato de feitos maravilhosos cujos protagonistas são personagens sobrenaturais extraordinários (heróis).

Diz-se que os mitos fazem parte do sistema de crença de uma cultura, que os considera como histórias verdadeiras. Têm a função de proporcionar um apoio narrativo às histórias centrais de uma comunidade.

Sendo assim, Lula se tornou um mito, não pertence mais este plano e seus feitos transcenderam fronteiras e podemos dizer que já entrou para história. Ao constatar, que esta afirmação é um consenso que vai da direita à esquerda, temos assim que ter clareza sobre o que está em jogo, em disputa, é o significado desta narrativa, o que ela representa.

 A direita brasileira criou uma narrativa sem provas que Lula é o maior corrupto da história do Brasil. Já à esquerda, declarou e vem conseguido manter seu projeto que este homem é a principal liderança popular que este país já teve.

Esta é a verdadeira luta que vem se travando no cenário brasileiro. A disputa está aí. Se não existisse a rede de computadores se não houvesse uma imprensa alternativa, poderíamos dizer que a batalha já estaria perdida. Sabemos que não pode haver duas narrativas para a mesma história. Ou é uma coisa ou é a outra. Cada um que escolha seu lado.

Quando o  antropólogo Claude Lévi-Strauss afirma que todo o mito deve obedecer a três atributos: tratar de uma questão existencial, ser constituído por contrários irreconciliáveis e proporcionar a reconciliação desses pólos para acabar com a angústia, ele termina explicando para a gente porque  todo gesto de Lula tem dimensão simbólica, Lula pega o microfone e o país paralisa em frente à TV. Os admiradores choram. Os jornalistas a serviço da mídia hegemônica silenciam. Ninguém fica indiferente as suas palavras e a personalidade que incorpora.

Ele tem consciência do seu papel na história, diferente dos seus algozes, sabe perfeitamente que está sendo observado, conhece muito bem o tamanho que tem e explora com extrema habilidade sua capacidade de fabricar símbolos.

 


    O certo, é que Lula é mais que uma idéia: é uma narrativa. Lula inventou e praticou sentidos. Ele mostrou - pela - sua trajetória - que um mundo melhor é possível. Lula é um mito. Não um mito do povo brasileiro, e sim, um mito - agora - da humanidade. A prisão de Lula se tornou um escândalo depois das revelações da Vasa Jato e da Operação Spoofing, ao mesmo tempo em que se realiza um dos maiores ataques a conquistas sociais dos trabalhadores e das trabalhadoras, isto reforça a imagem de Lula e do PT e seus aliados, como os únicos defensores dos trabalhadores e isto, com certeza, terá grande impacto nas eleições 2022.

 

 

 

 


Nenhum comentário:

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...