quarta-feira, 10 de março de 2021

ARTIGO - A responsabilidade com os leitores (Padre Carlos)

 A responsabilidade com os leitores




Já faz algum tempo que encontrei com alguns amigos em uma manifestação no centro da cidade e na oportunidade, falávamos sobre a necessidade de ampliar o número de companheiros dentro e fora do partido que pudessem contribuir na produção de artigos que levassem a nossa juventude a discernir melhor. Assim, fiquei pensando cá com os meus botões sobre esta questão. Como falar para uma juventude sem passar os vícios e certezas, impondo assim minhas verdades? Não há como ser neutro ou imparcial. Toda escrita expressa visão de mundo, concepções sobre a realidade social. Escrever é posicionar-se perante si mesmo, os outros e o mundo no qual vivemos.


Todo aquele que escreve tem que ter responsabilidade com os seus leitores. Escrever tem consequências! As palavras constroem, mas também podem gerar males irreparáveis. Elas podem causar dores, sofrimentos e fazer sangrar. * Elas podem ferir susceptibilidades, alimentar incompreensões mútuas. Desta forma, fui aprendendo com o tempo, tratar as palavras com carinho, muito carinho. Ao escrever, é necessário ponderar, refletir e refletir… Uma palavra equivocada, descontextualizada, mal interpretada, compromete a comunicação, o sentido geral do texto. Quem escreve, portanto, arrisca-se, ainda que involuntariamente, a detonar pontes e/ou contribuir com a patrulha do bem especializada em dicotomias, maniqueísmos, cujos egos inflados os incapacitam para reconhecer a complexidade do real.

Gosto de pensar a escrita com a metáfora de pontes que possibilitam a relação entre indivíduos diversos. Acho que Lenine consegue expressar o que sinto quando escrevo: “A ponte não é de concreto, não é de ferro. Não é de cimento. A ponte é até onde vai o meu pensamento.” Com isto, as pontes podem ter uma atitude positiva, construtiva. As palavras, é claro, também podem ter conotação negativa, ou seja, também se presta a destruir pontes, separar pessoas, detonar relações humanas. De fato, mesmo quando escrevemos com intenções construtivas, o resultado pode ser o inverso. Costumo dizer que existem penas mais afiadas que uma espada e tão venenosa quanto qualquer serpente.


É claro que somos passíveis de falhas na comunicação. Uma palavra, uma expressão pode se revelar inadequada e induzir o leitor a interpretar no sentido até mesmo inverso ao que pretendemos comunicar. Neste caso, o risco é não estabelecer ponte, não comunicare. O verbo comunicar deriva do latim comunicare e significa “tornar comum”, “fazer saber”, “ligar”, “unir”. Escrever é, portanto, “construir pontes” capazes de “ligar” pensamentos. Tenho certeza que era isto o que meu amigo se referia.

 

 

 

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