“Não posso deixar de escrever… nem de amar.”
Acredito que todos gostariam de
escrever um pouco sobre suas vidas, sua história e estória que marcaram sua
trajetória neste mundo e como diz o filósofo: “Foram à soma de todos os sim e
não que demos ao longo da nossa vida que constituiu a pessoa que sou
hoje”. Como não fujo da regra deste desejo dos pobres mortais, vou tentar
colocar um pouco destas
minhas façanhas, na esperança que alguém um dia ao ler esta crônica possa assim
lembrar um pouco deste sonhador e caminheiro.
Quando
falamos das nossas vidas passadas e quando falo vidas me refiro as suas fases,
temos que entender que as lembranças e saudades de pessoas e épocas se
entrelaçam com pitadas de nostalgia. Por isto, peço ao leitor que tenha um
pouco de paciência, pois não posso separar quatro coisas nesta caminhada: a família,
os amigos, a Igreja e a Política; foram eles que em parte constituíram e
conseguiram forjar o homem que me tornei. O meu destino é feito de paixões,
entregas, êxitos e perdas; não é fácil contá-lo em duas ou três frases.
Suponho que em
todas as histórias de vida há
acontecimentos nos quais nossa sorte muda e em decorrência disto, nossas vidas
seguem outros rumos. Na minha isto ocorreu diversas
vezes, mas um dos acontecimentos mais definitivo talvez tenha sido minha
militância no movimento estudantil no período de chumbo. Outro fato importante
foi conhecer uma Igreja que se abria para os pobres através dos padres
Jesuítas, cheia de carismas e aberta para o mundo.
Sei que em
algum lugar, perdido no passado tive outras vidas, seja na Pituba ou no
Nordeste de Amaralina, da Paróquia Santo André; com muitas histórias,
sonhos e amores. Conheci tanta gente, aprendi e ensinei muitas lições que foram
de certa forma, cravadas em minha alma. Como um jovem de periferia, tinha
vários caminhos, alguns de luz, outros de trevas. E hoje, visitando minhas
memórias, reencontro antigas amizades e velhos amores, formados num passado
longínquo. E vou resgatando laços afetivos construídos durante minha existência
nesta vida. Almas perdidas que tema de toda forma nas minhas memórias se
reencontrar e embora seja fruto das minhas lembranças, querem ganhar asas. A
nossa memória está condicionada pela emoção; recordamos mais e melhor os
acontecimentos que nos comovem, como o reencontro de um grande amor, a dor de
uma morte próxima ou o trauma de uma perda. Não sei qual foi minha motivação,
acredito que tenha sido o amor, porque só ele nos salva da loucura do egoísmo,
da violência, da injustiça, do descaso com a verdade. Só o amor nos salva da
ignorância e da maldade.
“Qualquer amor já é um pouquinho
de saúde, um descanso na loucura”. Guimarães Rosa. Se estou escrevo alguma coisa
que foge das redações política, talvez seja este velho coração transbordando de
paixão, como disse Isabel Allende, “não posso deixar de escrever… nem de amar.”
Durante muitos anos
tinha a sensação que meu coração estava dividido entre Salvador e Vitória da
Conquista, entre meus amigos de infância e juventude e os que conquistei na
fase adulta. Ah! Amigos, como
vocês foram e são importantes na minha caminhada. Guimarães
Rosa tem uma frase que tem muito haver com o que estou sentindo: “Tenho amigos
que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a
absoluta necessidade que tenho deles.”
Assim, aceitando
Vitória da Conquista como parte da minha vida, ela se tornou meu Porto Seguro,
meu Monte Tabor, onde pude também formar novos laços, conhecer novas
pessoas, viver novos amores. E assim fui modelando o meu espírito, sempre na
busca do aprendizado, da evolução.
Padre Carlos