terça-feira, 8 de março de 2022

ARTIGO - O sacerdote é um ser al­tru­ís­ta (Padre Carlos)

 


O sacerdote é um ser al­tru­ís­ta

 


Minha monografia de conclusão do curso de licenciatura de filosofia foi sobre a influencia do positivismo na segunda metade do século XIX, no Brasil e suas contribuições na formação da primeira República. Desta forma, quando passei a estudar o fi­ló­so­fo Au­gus­te Com­te, me deparei com uma figura humana cheia de amor e carinho pelo homem e pelo mundo. Quando tomamos contato com esta filosofia, passamos a entender que o termo altruísmo, que descreve de forma clara o opos­to do ego­ís­mo, tem um efeito que transcende a filosofia e a política, ele tem co­mo ato fa­zer bem ao pró­xi­mo, mes­mo que is­so im­pli­que um ris­co ou um cus­to pa­ra nós pró­prios, se isto não é amor eu não sei o que mais seria.

No Evangelho de São João tem uma passagem que reflete bem esta questão: “Se o ho­mem não amar ao pró­xi­mo que vê co­mo po­de­rá amar a Deus a quem ja­mais viu? (I Jo 4.8)”. Existe um gesto mais altruísta que ser um Bom Pastor? Assim o evangelista acrescenta: “Eu sou o Bom Pas­tor, o Bom Pas­tor dá a sua vi­da pe­las su­as ove­lhas” (Jo­ão, 10.11).

Podemos dizer que amar sem obrigação é amar com todo o coração, com toda a alma, com todo o ser. Amar sem favor é amar deliberadamente, por vontade própria, como se amar fosse tão natural como respirar. Foi justamente uma pichação em um murro que me chamou a atenção para um tema como este. A profundidade dele refletiu em mim com um pedido, quase uma suplica de forma delicada para que às pessoas amem mais, que sejam mais gentis, que valorizem mais os outros. Mas, a frase «Mais amor sem favor» pede que as pessoas amem sem fazerem um favor, que sejam espontâneas, que não o façam por delicadeza ou educação, que amem sem ser a pedido. Só anos mais tarde pude entender o que o poeta queria dizer, assim quando Vinícius diz: “Não há mal pior. Do que a descrença. Mesmo o amor que não compensa. É melhor que a solidão”.

         Ser sacerdote me trouxe uma paz de es­pí­ri­to in­des­cri­tí­vel, que até então não tinha experimentado. Estes gestos são verdadeiros milagres des­de que re­a­li­za­do sem fal­si­da­de, sem se es­pe­rar na­da em tro­ca ou aplau­sos. Por is­so en­ten­do que pa­ra um al­tru­ís­ta ver­da­dei­ro, é o re­sul­ta­do que con­ta não a sa­tis­fa­ção pes­so­al de ter aju­da­do.


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