Um ano sem Hans Küng
Nesta quarta-feira vai fazer
um ano que Hans Küng morreu, estamos falando do teólogo católico mais conhecido
dos últimos anos e um pensador de influência mundial. Gostaria de deixar claro
que é inegável a influência do seu pensamento nas reformas empreendidas por
Francisco, não só por causa das suas investigações sobre o cristianismo
primitivo, mas também da sua contribuição para o encontro da fé com o mundo
moderno e pós-moderno e um ethos (nova
atitude ética) global.
Por isso, vale a pena voltar concretamente ao seu livro A Igreja ainda Tem Salvação? (1997),
no qual confessa que foram sua consciência filosófica e teológica que o fez
escrever. "Preferiria não ter escrito este livro. Não é agradável dirigir
à Igreja, que foi e é a minha, uma publicação tão crítica", mas, "na
presente situação, o silêncio seria irresponsável". De que sofre a Igreja?
A Igreja Católica, a maior, a mais poderosa, a mais internacional Igreja, essa
grande comunidade de fé, está "realmente doente", "mortalmente
doente", "sofre do sistema romano de poder", que se caracteriza
pelo monopólio da verdade, pelo juridicismo e clericalismo, pelo medo do sexo e
da mulher, pela violência espiritual.
Este grande pensador da
Igreja não foi só um teólogo eminente, mas também um verdadeiro cristão
profundamente convicto, que nunca abandonou a Igreja que considerava sua. É preciso voltar a Jesus Cristo, ao que ele
foi, é, quis e quer. De fato, em síntese, a Igreja é a comunidade dos que creem
em Cristo: "A comunidade dos que se entregaram a Jesus Cristo e à sua
causa e a testemunham com energia como esperança para o mundo.
A Igreja torna-se crível, se disser a mensagem cristã não em primeiro lugar aos
outros, mas a si mesma e, portanto, não pregar apenas, mas cumprir as
exigências de Jesus. Toda a sua credibilidade depende da fidelidade a Jesus
Cristo." Como procederia Jesus nas atuais situações, quando pensamos no
modo como agiu? Seria contra o preservativo, os anticonceptivos, excluiria as
mulheres, obrigaria ao celibato, proibiria a comunhão aos recasados? Que diria
sobre as relações sexuais antes do casamento? Como procederia em relação ao
ecumenismo e ao diálogo inter-religioso?
A Igreja não pode ser
encarada como um aparelho de poder ou uma empresa religiosa, mas como povo de
Deus e comunidade do Espírito nos diferentes lugares do mundo. O papado não
precisa desaparecer, mas o Papa não pode ser visto como poder
absoluto e independente "um autocrata
espiritual", mas como o bispo que tem o primado pastoral, vinculado
colegialmente aos outros bispos e, poderia acrescentar aos representantes das
congregações religiosas e de todo o Povo de Deus, homens e mulheres.
A Igreja, ao mesmo tempo em
que tem de fortalecer as suas missões e instituição - precisa oferecer aos homens
e às mulheres de hoje a mensagem cristã, de modo compreensível, sem um discurso
arcaico nem dogmatismos escolásticos, e celebrar os sacramentos -, deve assumir
as suas responsabilidades sociais, apresentando, sem partidarismos, à sociedade
opções fundamentais, orientações para um futuro melhor.
Quando levanto esta questão,
seria pra agradecer a Deus e a Dom Celso Jose, pelo privilégio de ter estudado na
PUC de Belo Horizonte, no olho do furação teológico, assim era a capital
mineira na década de noventa. Foram meus Mestres, que abriram nossa consciência
e nos deram oportunidade de conhecer as correntes de pensamentos que embalaram a
Igreja nos últimos anos.