Como os Cravos chegaram em minha casa
Eu sempre celebrei a queda do Estado Novo
no 25 de Abril por se tratar de uma data importante para o povo português e
para todos os povos de língua portuguesa. Em geral, o Estado Novo
caracterizou-se como um período autoritário, nacionalista, tradicionalista e
corporativista. Em razão disso, é comum encontrarmos autores que associam o
fascismo italiano ao salazarismo. De outro lado, o Estado Novo assumiu determinadas
posições que lembram bastante o governo Getúlio Vargas, no Brasil, e de Juan
Perón, na Argentina. Tal como nos regimes sul-americanos, o Estado Novo
português preocupou-se em moldar ideologicamente a sociedade da época em
diversos planos: social, econômico, jurídico e cultural.
Um dos aspectos essencial do Estado Novo e
que proporcionou a diáspora de muitos portugueses neste período foi o seu
componente autoritário. Visto que a oposição interna continuava a existir, dada
à complexidade e os problemas da sociedade portuguesa, o regime ocupou-se da
organização de uma verdadeira estrutura visando o controle político-social.
Polícia política, prisões, censura campos de deportação de adversários do
regime - tudo isso fez parte daquele período.
Neste aniversário da Revolução dos Cravos,
vou homenagear todos aqueles que lutaram contra este regime autoritário,
contando pra vocês como este dia refletiu na minha família, aqui no além mar.
Muitas associações portuguesas espalhadas
pelos quatro cantos do mundo serviram para acolher centenas de refugiados
políticos e uma destas foram com certeza os Clubes portugueses espalhados pelo
Brasil. Fundado em 1946 e funcionando no antigo gabinete português de leitura até
o início da década de sessenta quando teve sua sede de praia inaugurada no
bairro da Pituba, o Clube Português da Bahia passou a ser administrado por portugueses
recém-chegados. Assim, chamou à atenção de meu pai a forma como seu coordenador
tratava os funcionários sobre a sua supervisão. Varias vezes ouvir elogiada a
forma humanista daquele chefe de trabalho. Tinha um carinho e preocupação não
só com seus funcionários mais com toda a sua família, principalmente nas festas
natalinas e na Semana Santa. Sentia uma admiração por parte de meu pai por
aquele homem tão diferente das chefias e relação de poder que até então ele
conhecia.
Certo dia meu pai chegou em casa triste e com uma sensação que tinha se despedido de um irmão. Era final de abril de 1974, aquele homem que coordenava o setor que meu pai trabalhava era um refugiado político e com a Revolução dos Cravos ele estava retornando a Portugal. Ficamos sabendo depois que se tratava de um engenheiro, ligado a PCP e tinha uma relação próxima com Álvaro Cunhal. A mudança fez com que meu pai não permanecesse no trabalho e o que ficou dos cravos foi um sentimento de saudade e de um coordenador que soube ser companheiros de seus liderado