A participação da clausura no Sínodo
Neste tempo do barulho, da corrida e do
imediatismo e do culto do ter, do prazer, do parecer e aparecer, não me parece
que os religiosos e as religiosas de clausura estejam muitos na moda.
Lembrei-me hoje das conversas que tinha com
Dom Timóteo, quando trabalha no Mosteiro de São Bento. Certa vez perguntei
aquele monge sobre a vida no mosteiro e o que ele esperava da vida monástica,
ele me respondeu: "Não estamos na moda, mas existimos." Mais:
"Não somos seres etéreos, anacrónicos ou surdos. Procuramos dias
específicos para recordar que cada instante é uma celebração onde a vida de
Deus transforma as nossas. A vida contemplativa é viver cada instante na
Presença. Cada instante é único, é dom e desafio." Falou olhando nos meus
olhos: "Precisamos defender uma Igreja participativa e corresponsável. As
pessoas participam e são responsáveis quando sentem a Igreja como sua casa.”.
Como o Pe. Antoniazzi dizia nas aulas de eclesiologia:
“Estamos numa Igreja piramidal e hierárquica, aonde as normas vêm de cima.”
Isto é reforçado pela falta de formação teológica e espiritual, fomentada pelo
difícil acesso do laicado, incluídos os religiosos e as religiosas, às
faculdades de teologia, como eram negados os religiosos no início do século
passado que vinham de famílias pobres. É necessária e urgente uma formação que
permita a reflexão sobre questões de moral, bioética, ecologia, pacifismo,
relações interculturais.
Como teólogo, entendo que a Igreja precisa
de um diálogo mais aberto com a sociedade, a partir de uma postura de
verdadeira escuta, acolhendo a realidade e a situação das pessoas sem atitude
moralizante. Que não se demonize a sexualidade nem se considere que é o centro
de todo o pecado e, menos ainda, que o corpo da mulher é provocação. Acredito
que a Igreja deve ser testemunho na sociedade exercendo a liderança da escuta,
do acolhimento, da compreensão.
Por isto, não me surpreendi quando: os
religiosos e religiosas que vivem na clausura pediram para ser ouvido e
participar do Sínodo que terá lugar em Roma em 2023? É como se tivesse ouvindo aquele beneditino que eu aprendi respeitar. "Que nos deixem
pensar." E realmente pensam. Como é sabido, o Papa Francisco quer deixar
como marca do seu pontificado a sinodalidade, isto é, que todos os membros da
Igreja caminhem juntos e todos se sintam autenticamente representados na tomada
de decisões. A prova está em que, desta vez, a preparação do Sínodo começa na
base, nas Dioceses, de tal modo que todos possam exprimir-se, passando ao
segundo momento, que é o momento continental, e só no final, com a contribuição
de todos, se realizará o Sínodo em Roma.