A era do descartável
Hoje estava pensando como o mundo tem mudado. Como
disse Camões: Tudo muda nesta vida: “Muda-se o ser,
muda-se a confiança/Todo o mundo é composto de mudança…”. Somos testemunhas das mudanças que ocorrem na
sociedade e nada podemos fazer para evitá-las. Gostemos ou não, as coisas vão
mudando e os novos tempos trazem sempre algo de diferente à nossa vida.
Quando eu era criança e vivia com os meus pais, na Pituba
não tínhamos eletrodomésticos (televizinho), mas se algum aparelho quebrava lá na casa do vizinho, chamava-se o técnico para concertar – que
procurava repará-lo no domicílio. Se o concerto fosse mais complicado, tinha de
ser levado para a oficina, regressando mais tarde como novo. E durava sei lá
mais quanto tempo!
Infelizmente, nos dias de hoje, já não é
assim. Primeiro, por que há poucos técnicos, pois o que conta agora é ter
uma licenciatura. Mesmo que seja de faz de conta por correspondência. Por isto, as escolas técnicas vêm perdendo terreno
e interesse das novas gerações, abrindo caminho às Faculdades à distância, que
estão superlotadas.
Depois, sabemos que, quando um eletrodoméstico deste
quebra, vira sinónimo de aparelho novo, devido à fragilidade do material que desta
forma termina se tornando descartável. Aliás, não é novidade para ninguém que
hoje nada tem a mesma duração dos materiais produzidos antigamente, seja em que
área for.
O relacionamento entre os seres humanos também
mudou consideravelmente. As pessoas pareciam ser mais verdadeiras, mais
solidárias, mais amigas. Hoje, os amigos (dignos desse nome) são cada vez menos
e passaram a aparecer os ‘conhecidos’ – que, em muitos casos, se servem dos
outros em função dos seus interesses e conveniências.
E quando os objetivos são atingidos, estes ‘conhecidos’
põem aqueles de lado e substituem por outros – de acordo com a velha teoria “muito
tens muito vales, nada tens nada vales”.
Vivemos, na era do descartável. Até a própria vida,
para muitos, parece também ser descartável. E não é um problema político da
esquerda ou da direita, é uma realidade que tem a ver com novas mentalidades
que estes ‘ventos de mudança’ trouxeram à sociedade.
Num momento de tantas dificuldades, convém ter
presente que os profissionais, tal como os grandes jogadores de futebol, já não
correm por amor à camisa. A todo o momento nos decepcionamos com o caráter destes
“Ídolos”, para eles, não têm problema algum em “abandonar o barco” e deixar o campeonato
pelo meio, se aparecerem propostas mais aliciantes. Esta é a realidade. É isto
que temos no presente. O que nos reservará o futuro?