sexta-feira, 22 de julho de 2022

ARTIGO - A operação das polícias no Complexo do Alemão foi um crime contra a humanidade (Padre Carlos)

 


O Rio de Janeiro tem sido laboratório de políticas de cunho fascista




 

Uma operação conjunta das polícias Militar e Civil no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, deixou varias pessoas mortas, inclusive moradores e inocentes, na manhã desta quinta-feira (21). A operação tem como objetivo combater o roubo de veículos, de carga e a bancos. Esta operação chamou minha atenção para o problema que o Rio vem enfrentando e como articulista, não poderia deixa de abordar e tentar esclarecer o que realmente vem acontecendo na antiga capital federal.

Quando o ex-governador Wilson Witzel. sobrevoou as comunidades dos morros acompanhado de policiais atiradores, sem saber quem iria atingir, parecia que as autoridades do estado encaravam a população de baixa renda e que vivem nos morros cariocas, como um inimigo perigoso e que precisava ser neutralizado. Witzel ao subir ao helicóptero da polícia, tomando parte do metralhamento indiscriminado de casas pobres, em Angra dos Reis, no que foi classificado por alguns membros da imprensa como “crime contra a humanidade,” representa o sentimento que as autoridades e uma parcela da sociedade nutrem pelas camadas mais pobres.

Não é de hoje que o Rio de Janeiro tem sido laboratório de políticas de cunho fascista a serem aplicadas, posteriormente, a todo o país. Foi assim, por exemplo, que a sua Polícia Militar (PM) se converteu, entre a segunda metade da década de 1990 e a primeira metade da década de 2000, numa das instituições policiais mais letais de todo o mundo.

Assim, a Polícia Militar e a Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmaram pelo menos 18 mortos na operação conjunta que foi iniciada na madrugada desta quinta-feira (21) e durou cerca de 12 horas nas comunidades do Complexo do Alemão, na capital. O número de vítimas da chacina pode ser maior. Os policiais afirmaram que esse é um balanço parcial, e a Defensoria Pública contabilizou pelo menos 20 corpos em unidades de saúde da região.

Em todo esse tempo lutamos e trouxemos às claras as entranhas e maquinações do velho Estado brasileiro e das suas classes dominantes. Nosso blog neste quatro anos de existência, manteve sua independência inalterada, denunciando e desmascarando o governo reacionário de Bolsonaro e seus aliados. Por isto, resolvemos denunciar o atual governador do Rio. Esta administração não tem sido diferente da anterior. Este governo que tenta a reeleição foi responsável por três das cinco operações policiais mais letais da história do estado, com 70 mortos. Esta mentalidade de política pública tem levado este governo a índice insustentável, fazendo a letalidade policial no Rio com o governador Cláudio Castro a maior em 15 anos.

 

 


quinta-feira, 21 de julho de 2022

ARTIGO - A era do descartável (Padre Carlos)

 

A era do descartável





Hoje estava pensando como o mundo tem mudado. Como disse Camões:  Tudo muda nesta vida: “Muda-se o ser, muda-se a confiança/Todo o mundo é composto de mudança…”.  Somos testemunhas das mudanças que ocorrem na sociedade e nada podemos fazer para evitá-las. Gostemos ou não, as coisas vão mudando e os novos tempos trazem sempre algo de diferente à nossa vida.

        Quando eu era criança e vivia com os meus pais, na Pituba não tínhamos eletrodomésticos (televizinho), mas se algum aparelho quebrava lá na casa do vizinho, chamava-se o técnico para concertar – que procurava repará-lo no domicílio. Se o concerto fosse mais complicado, tinha de ser levado para a oficina, regressando mais tarde como novo. E durava sei lá mais quanto tempo! 

Infelizmente, nos dias de hoje, já não é assim. Primeiro, por que há poucos técnicos, pois o que conta agora é ter uma licenciatura. Mesmo que seja de faz de conta por correspondência.  Por isto, as escolas técnicas vêm perdendo terreno e interesse das novas gerações, abrindo caminho às Faculdades à distância, que estão superlotadas. 

Depois, sabemos que, quando um eletrodoméstico deste quebra, vira sinónimo de aparelho novo, devido à fragilidade do material que desta forma termina se tornando descartável. Aliás, não é novidade para ninguém que hoje nada tem a mesma duração dos materiais produzidos antigamente, seja em que área for. 

O relacionamento entre os seres humanos também mudou consideravelmente. As pessoas pareciam ser mais verdadeiras, mais solidárias, mais amigas. Hoje, os amigos (dignos desse nome) são cada vez menos e passaram a aparecer os ‘conhecidos’ – que, em muitos casos, se servem dos outros em função dos seus interesses e conveniências. 

E quando os objetivos são atingidos, estes ‘conhecidos’ põem aqueles de lado e substituem por outros – de acordo com a velha teoria “muito tens muito vales, nada tens nada vales”.

        Vivemos, na era do descartável. Até a própria vida, para muitos, parece também ser descartável. E não é um problema político da esquerda ou da direita, é uma realidade que tem a ver com novas mentalidades que estes ‘ventos de mudança’ trouxeram à sociedade.

Num momento de tantas dificuldades, convém ter presente que os profissionais, tal como os grandes jogadores de futebol, já não correm por amor à camisa. A todo o momento nos decepcionamos com o caráter destes “Ídolos”, para eles, não têm problema algum em “abandonar o barco” e deixar o campeonato pelo meio, se aparecerem propostas mais aliciantes. Esta é a realidade. É isto que temos no presente. O que nos reservará o futuro?

 


segunda-feira, 18 de julho de 2022

ARTIGO - De quem são os méritos? (Padre Carlos)

 



“Não se vence sem luta, nem se participa da vitória ficando neutro.”

 




Mais uma vez volto a apresentar os resultados das ultimas pesquisas. Antes de abordar estes números, gostaria de informar que a abordagem técnica e o trabalho de colher e interpretar tais informações, foram de responsabilidade do professor Wilton Cunha, que com sua capacidade de leitura dos números, consegue transcender nossos entendimentos neste assunto.


O fenômeno que estamos presenciando na Bahia em relação a transferência de votos não é um acontecimento simples. Ela só ocorreu poucas  vezes na história do Brasil e a maneira como se deu pode ser instrutiva em relação ao que pode vir a ocorrer em 2022 na Bahia. São três as transferências de voto mais conhecidas da história do Brasil: o apoio de Vargas a Dutra, que definiu o resultado da eleição de 1945, e o apoio de Brizola a Lula, que definiu a transferência de votos no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul durante o segundo turno das eleições de 1989 e a vitória de Dilma.  Vale a pena sistematizarmos o que sabemos das três eleições para avaliarmos quais são as possibilidades de transferência de votos entre Lula e Jerônimo e onde e como ela poderá se dar.

Não podemos negar que o ex-presidente Lula (PT) tem o triplo da capacidade de transferência de votos em relação ao potencial do presidente Jair Bolsonaro (PL) e alavancar uma candidatura de um companheiro que até pouco tempo era desconhecido do eleitorado baiano, não tem sido obra de uma engenharia política, mas fruto da genialidade de Lula e do seu capital político. A eleição de 2022 é um caso paradigmático da capacidade de grandes detentores de votos determinarem comportamentos eleitorais

Nestes últimos dias temos visto que a população começa a tomar partido e a entrar mais no clima da eleição. Uma prova disso, segundo os dados, é o fato de que o porcentual dos que responderam na pesquisa espontânea que votariam em Jerônimo para governador subiu de 5% em março para 33% em julho, enquanto o ex-prefeito de Salvador ACM Neto despencou de 66% em março, para 40% em julho..


Assim como Vargas, a estratégia de Lula está sendo entrar na eleição no último momento pedindo votos para Jerônimo. Desta forma, podemos enxergar uma semelhança entre o 2 de julho e o dia 27 de novembro de 1945, cinco dias antes das eleições, Getúlio veio a público pronunciar o seu apoio a Dutra em uma nota na qual dizia: “a abstenção é um erro. Não se vence sem luta, nem se participa da vitória ficando neutro.”


domingo, 17 de julho de 2022

ARTIGO - “Ouvi o clamor de meu Povo” (Padre Carlos)

 


O vereador Renato Freitas, Negro, jovem e periférico,

 



No dia (26) de junho, dom Zanoni participou de um evento na cidade de Curitiba sobre “Religiões contra o Racismo”, Esta manifestação de apoio se deve a Perseguição que tem sofrido o Vereador Renato e pela restituição do seu mandato que foi cassado pela Câmara de Curitiba, após promover manifestação antirracista na igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito, na capital paranaense,

Dom Zanoni entendeu que o vereador Renato Freitas, Negro, jovem e periférico, tinha sido cassado por protestar contra o racismo e todo tipo de preconceito que seus irmãos afrodescendentes vêm sofrendo nestes quinhentos anos de colonização. O vereador em seu protesto chama atenção de seus pares e principalmente de uma sociedade preconceituosa que o povo negro é chamado a ser protagonista da gestação de uma nova cultura e realidade. Tendo presente a riqueza de sua tradição, literatura e sua filosofia. O modo de viver, a culinária, a tradição oral e escrita, o modo de ensinar da agricultura, a música e a compreensão de mundo. Isto marca profundamente e deixa alguns seguimentos descontentes. Por isso, que o negro não é só sujeito, mas protagonista da gestação de um novo tempo,

O apoio que a Pastoral Afro-Brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e dom Zanoni Demettino vêm dando ao vereador Renato Freitas é para que continue resistindo e lutando contra a direita racista que tentou tirar seu mandato. A sua permanência na Câmara de Curitiba representa a defesa da democracia e de tudo que ele representa: o povo pobre, negro e periférico. Esta ação do representante nacional da Pastoral Afro-Brasileira, veio acompanhada da manifestação da Arquidiocese de Curitiba, que enviou uma carta a aquela casa legislativa, declarando que é contra a cassação do mandato (…) A manifestação de Renato não fere o exercício legislativo e nem a legitimidade do seu mandato. “Portanto, a cassação só demonstra a perseguição política contra o vereador e sua representatividade dentro da Câmara Municipal”,

Não podemos tolerar o preconceito! A luta contra o racismo deve ser de todos nós. Um país diverso como o Brasil não pode aceitar atitudes criminosas como essa. Estamos junto com dom Zanoni lutando por uma sociedade livre de preconceitos!

Parabéns meu Pastor!

 

 

sábado, 16 de julho de 2022

ARTIGO - Dom Timóteo tinha razão! (Padre Carlos)

 


A participação da clausura no Sínodo

 


Neste tempo do barulho, da corrida e do imediatismo e do culto do ter, do prazer, do parecer e aparecer, não me parece que os religiosos e as religiosas de clausura estejam muitos na moda.

Lembrei-me hoje das conversas que tinha com Dom Timóteo, quando trabalha no Mosteiro de São Bento. Certa vez perguntei aquele monge sobre a vida no mosteiro e o que ele esperava da vida monástica, ele me respondeu: "Não estamos na moda, mas existimos." Mais: "Não somos seres etéreos, anacrónicos ou surdos. Procuramos dias específicos para recordar que cada instante é uma celebração onde a vida de Deus transforma as nossas. A vida contemplativa é viver cada instante na Presença. Cada instante é único, é dom e desafio." Falou olhando nos meus olhos: "Precisamos defender uma Igreja participativa e corresponsável. As pessoas participam e são responsáveis quando sentem a Igreja como sua casa.”.

Como o Pe. Antoniazzi dizia nas aulas de eclesiologia: “Estamos numa Igreja piramidal e hierárquica, aonde as normas vêm de cima.” Isto é reforçado pela falta de formação teológica e espiritual, fomentada pelo difícil acesso do laicado, incluídos os religiosos e as religiosas, às faculdades de teologia, como eram negados os religiosos no início do século passado que vinham de famílias pobres. É necessária e urgente uma formação que permita a reflexão sobre questões de moral, bioética, ecologia, pacifismo, relações interculturais.

Como teólogo, entendo que a Igreja precisa de um diálogo mais aberto com a sociedade, a partir de uma postura de verdadeira escuta, acolhendo a realidade e a situação das pessoas sem atitude moralizante. Que não se demonize a sexualidade nem se considere que é o centro de todo o pecado e, menos ainda, que o corpo da mulher é provocação. Acredito que a Igreja deve ser testemunho na sociedade exercendo a liderança da escuta, do acolhimento, da compreensão.

 

Por isto, não me surpreendi quando: os religiosos e religiosas que vivem na clausura pediram para ser ouvido e participar do Sínodo que terá lugar em Roma em 2023? É como se tivesse ouvindo aquele beneditino que eu aprendi respeitar.  "Que nos deixem pensar." E realmente pensam. Como é sabido, o Papa Francisco quer deixar como marca do seu pontificado a sinodalidade, isto é, que todos os membros da Igreja caminhem juntos e todos se sintam autenticamente representados na tomada de decisões. A prova está em que, desta vez, a preparação do Sínodo começa na base, nas Dioceses, de tal modo que todos possam exprimir-se, passando ao segundo momento, que é o momento continental, e só no final, com a contribuição de todos, se realizará o Sínodo em Roma.

 


sexta-feira, 15 de julho de 2022

ARTIGO - "Não te esqueças dos pobres!" (Padre Carlos)

 



O adeus a Dom Cláudio Hummes

 



 

A militância na Pastoral Operária e na JOC, sob os cuidados dos Jesuítas e em especial o Pe. Comfa S.J, me proporcionou conhecer muitos religiosos e um deles foi o bispo de Santo André. Dom Cláudio Hummes.  Quando estive com ele na ultima vez que nos encontramos no início da década de oitenta, falou para os membros da PO no CEAS, como acompanhou de perto o movimento operário no Brasil, incluindo a histórica greve geral dos metalúrgicos do ABC no fim da década de 1970. Na oportunidade falou porque ele abriu as portas da Catedral de Santo André para assembleias, presidiu missa com a participação dos grevistas e posicionou-se contra as demissões dos manifestantes.

 

Foi com tristeza que fiquei sabendo que o cardeal Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, morreu este mês aos 87 anos em São Paulo. Conheci Dom Claudio, num momento difícil em que vivia o país na década de setenta, durante o regime militar, o religioso morreu após “prolongada enfermidade, que suportou com paciência e fé em Deus”. 

Não podemos esquecer que quando Bergoglio foi eleito pairou a dúvida se a escolha de Francisco se referia ao de Assis ou ao de Xavier. Bastaram três dias para ser desfeita a dúvida. No encontro com os jornalistas no dia 16 de março de 2013, o Papa relatou o que se passara. "No conclave tinha ao meu lado o cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e também prefeito emérito da Congregação para o Clero: um grande amigo, um grande amigo!" Depois de eleito Papa, D. Cláudio disse-lhe "Não te esqueças dos pobres!" enquanto o abraçava. "Aquelas palavras gravaram-se na cabeça: os pobres, os pobres", contou Francisco. "Logo depois, associando com os pobres, pensei em Francisco de Assis".

O cardeal Hummes iniciou o seu ministério episcopal como bispo auxiliar da diocese de S. André, com direito de sucessão, a 29 de junho de 1975. Logo nesse ano, a 29 de dezembro, sucedeu a D. Jorge Marcos de Oliveira. Aí permaneceu até 1996, quando foi nomeado arcebispo de Fortaleza. Durante esses anos distinguiu-se por ser um bispo moderado, mas muito atento aos mais pobres. Colocou-se várias vezes ao lado dos trabalhadores e até apoiou as suas greves.

O cardeal Hummes foi o relator e grande dinamizador do Sínodo da Amazónia. Desde 2020, era o presidente da Conferência Eclesial da Amazónia, organismo criado para implementar as propostas saídas desse Sínodo. Dedicou-se a essa tarefa até aos últimos dias de vida. A recomendação de Hummes a Bergoglio não caiu no vazio. Os pobres são uma preocupação e uma presença constante em inúmeras iniciativas papais. Elas traduzem bem a prioridade assumida pelo Papa no dia da sua eleição.

Padre Carlos

 


terça-feira, 5 de julho de 2022

ARTIGO - Tudo poderá ser diferente se nós acreditarmos! (Padre Carlos)

 

A espiritualidade e a procura de um sentido para a vida.

 


Existe doença que tem o poder de nos tornar mais grato pela vida e mais atento aos outros. Foi pensando nisso e na fé que tem invadido as enfermarias e a falta de padres e religiosos neste ambiente que passei entender que esta dor precisa ser escutada e de uma pastoral que a escute.

Precisamos de vocações sacerdotais, diaconal e religiosa que possa ter uma vida dedicada ao acompanhamento espiritual nos hospitais, ao lado do sofrimento e da reconciliação com a vida e com a fé. Temos que entender de uma vez por toda, que cuidados de saúde e espiritualidade, isto é, a assistência espiritual e religiosa é uma necessidade essencial dos doentes. ·.

Quando exerci o ministério sacerdotal, tive algumas experiências de ir ao hospital, de visitar doentes, amigos. Sempre tive um profundo respeito pelo trabalho que alguns leigos desenvolvem nesta área. O sofrimento e a dor do outro, termina criando na gente este sentimento. Para mim, as pessoas que mais respeito é aquelas em que o sofrimento é mais dramático, que por vezes vejo até inconscientes. Corta-me o coração, não no sentido de perguntar porquê tanto sofrimento, mas de perguntar o que posso fazer para aliviar um pouco, ajudar aquela pessoa, estar com ela. É isso que me motiva.

A misericórdia e a vontade de Deus sempre será uma questão para ser elaborada dentro de todos nós. A razão das coisas não está aí. Temos sempre de encontrar uma razão para as coisas e a minha relação com Deus, desde criança, sempre foi muito bonita. Nunca tive a noção de Deus punidor, sempre tive a noção de Deus-amor. O modo como a minha mãe me transmitiu a fé era esse. Sim, era, mas o modo como ela falava sobre Deus, sobre os santos, sobre padres, a alegria com que o fazia sempre me transmitiu esse Deus-amor e, portanto, para mim, a doença não era um castigo de Deus, por isso tinha de encontrar a resposta. E encontrei posteriormente.

A resposta é simples. Sofremos porque é a nossa condição humana. O nosso corpo é frágil, vulnerável. Somos terra – a palavra homem quer dizer humus, terra. O grande problema é perceber para que serve o sofrimento. O nosso sofrimento só nos mete pavor quando é absurdo, quando não serve para nada. Quando uma mãe dá à luz sabe para que serve o sofrimento; quando ralava na faculdade, a dor de barriga que sentia face aos exames, sabia para que servia. Quando percebemos para que serve, damos um sentido ao sofrimento.

Entramos no campo da espiritualidade, da procura de um sentido para a vida. Descobrimos que a nossa vida é mais do que o sofrimento e o importante é saber integrar o sofrimento e a doença no contexto do sentido da vida.

A religião tem uma função de lutar e reunir forças, são as estratégias interiores que temos para enfrentar situações estressantes: pode ser a morte de alguém, a minha própria morte, a doença, o sofrimento. A nossa alma, o nosso corpo e o nosso espírito estão ligados entre si, somos um só, não há divisões. Eu tenho um amigo que invoca o santo do dia com a seguinte oração: fazei com que a esperança venha nos lembrar de que amanhã tudo poderá ser diferente se nós acreditarmos! Quando ele manda estas mensagens ele quer que eu crie um sentido para minha espiritualidade, que eu tenha uma perspectiva de futuro, se na relação com Deus perco a fé, se estou zangado, isso leva a um vazio que, por sua vez, leva a um desânimo face à luta. Se num dado momento preciso de todas as minhas energias físicas e espirituais para lutar contra uma doença, se estou diante de um diagnóstico terrível e me falha uma delas, a minha luta não é total. E, aqui, a espiritualidade tem um sentido lato: está ligada às questões do sentido da vida, da transcendência, mas também da relação com o outro, da reconciliação da vida com passado, presente e futuro.

Não podemos negar que existem fatores pelos quais a religião pode  interferir na nossa saúde. Um deles tem a ver com os comportamentos. A religião, ao dizer que é pecado, cria critérios para comportamentos saudáveis. Depois existe a função da luta. Se tenho a noção de que Deus é amor e está comigo no sofrimento, que tenho amigos e uma comunidade atrás de mim, há uma mobilização maior. Às vezes encontro pessoas que me dizem: “A minha comunidade está a rezar por mim, não estou sozinho”. A pessoa tem um sentimento de pertença, de esperança e de ser amado que é uma força acrescida para a sua luta. É isto que me faz este povo aguentar o sofrimento. Além da capacidade de lutar, a religião tem uma função de promoção de emoções positivas e de fomento de emoções, mas também de mecanismos internos  que capacitam as pessoas para a luta. Assim, como diz meu amigo: fazei com que a esperança venha nos lembrar de que amanhã tudo poderá ser diferente se nós acreditarmos!

 

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...