sexta-feira, 23 de setembro de 2022

ARTIGO - Essa gente tomou de assalto os cofres públicos (Padre Carlos )

 

A política do “Panis et circenses”.

 


Como dizia meu professor de latim no seminário: “Panis et circenses”. Esta expressão de origem latina que significa pão e jogos circenses tem muito haver com estas eleições e o jogo político que Bolsonaro tentou montar. Assim, lembrei-me que no antigo império romano, os governantes promoviam espetáculos e distribuíam pão como forma de diminuir a insatisfação popular. Havia os espetáculos onde gladiadores lutavam até a morte. Era um circo montado para divertir a população. Nesses eventos se fazia farta distribuição de pão. Enquanto se divertia e comia, o povo romano esquecia a opressão a que era submetido. Todas às vezes que um governante controlou os humores de seu povo, promovendo festas e distribuindo comida, se disse que ele fazia a política do “pão & circo”.

 No Brasil muito se usou as festas populares como o carnaval e São João para se amortizar os inconformismos sociais. Por isto, o governo federal tem investido alto na politico do “pão & circo”, pois ao mesmo tempo em que programas assistencialistas, como Auxílio Brasil de 600 Reais até dezembro, se tornam carro chefe da política social, seus aliados lucram com estes espetáculos.. Esta forma de fazer política explica como uma cidade de Minas Gerais com 29.000 habitantes pagou Gusttavo Lima o cachê de 800.000 reais por um show. A propaganda fascista conta com uma rede que engrossa ganhos de cantores sertanejos pagos por prefeituras

Aqui, na Bahia, a situação não é diferente. Na verdade, é bem pior. Em vários municípios os prefeitos não se contentam apenas em promover a política do “pão & circo”, eles ainda criam poderosos esquemas para desviar verbas públicas. Há uns dias atrás o Ministério Público da (MPBA) cancelou uma festa milionária de prefeitura na BA com participação de Gusttavo Lima; cachê do cantor passaria de R$ 700 mil. Esta festa cujo nome seria Festival da Banana, seria realizado em Teolândia. Desta forma, a justiça cancelou a pedido do MP-BA, mais uma farra com o dinheiro público. Gostaríamos de lembrar que este município está em estado de emergência desde o final de 2021, por causa das fortes chuvas que atingiram o sul do estado. Entre as 28 atrações, o MP destacou cachês superiores a R$ 100 mil.

 

Em geral, as fraudes nestes eventos giram em torno do processo de contratação de empresas que produzem os eventos. Na maioria estas empresas são de propriedade dos prefeitos, e seus familiares, secretários, funcionários públicos e empresários do ramo de diversão que criam empresas fantasmas para desviar verbas públicas e fraudam procedimentos de contratação de serviços. Qualquer serviço é motivo para uma fraude. A contratação de shows pirotécnicos e de serviço de segurança, o aluguel de banheiros públicos, a montagem de palcos, de sistemas de iluminação e som, enfim, de todo canto pode-se tirar vultosas somas.

Esta é a triste constatação. Essa gente que toma de assalto os cofres públicos, que se aproximam do Estado como se fossem piratas em busca de um tesouro, entenderam que é possível lucrar dobrado em cima das festas populares. Ganham politicamente com a ideia do “Panis et circenses”. A população fica entorpecida, não pensa em mais nada, enquanto se diverte em praça pública ao som pavoroso dessas bandas que tocam aquele lixo musical que não se pode reciclar. E ganham financeiramente com essa bandalheira promovida na produção dos eventos festivos. Quem não se lembra dos tais carnavais fora de época que fizeram a alegria de muitos e riqueza de poucos?

 

 

 

 


quinta-feira, 15 de setembro de 2022

ARTIGO - Qual o proposito da minha vida? (Padre Carlos)

 

Como se proteger contra o vazio e o desespero




 

         Outro dia, um amigo me mandou um vídeo que tratava da importância da Longoterapia e como esta forma de abordar nossos problemas pode fazer toda diferença. Como entender a dor do outro e saber realmente o que fica quando tudo lhe é tirado? Nesta abordagem terapêutica, passamos a entender o proposito de buscar um projeto de vida seja a família, lutar pela liberdade ou defender o oprimido e lutar por um mundo melhor. Como aceitar que o sentido da vida é um elemento básico para a preservação da saúde mental?

Precisamos neste contexto vivenciar uma abordagem de esperança no presente e futuro, em um Brasil com muitas teorias, mas, poucas, que trazem esperança e sentidos de vida. Num Brasil, antes das eleições e depois, dividido e pairando no ar uma incerteza de dias melhores, medo, e mágoas de relacionamentos quebrados, uma economia que não sai da estagnação com milhões de desempregados. Precisamos traz esperança, sentidos e que cada um com Liberdade e Responsabilidade possa construir um futuro com garra e muito sentidos de viver, para sim e no meio em que vive Esta abordagem tem como núcleo central a vontade de sentido da existência humana. É esta vontade que busca um sentido de vida para cada indivíduo, e será responsável por explicar a sua existência.

Como teólogo, entendemos que a psicoterapia procura a cura da alma, ao passo que a religião busca a salvação da alma. E vale salientar que seja religioso ou não, todo homem busca fundamentalmente um sentido, sendo o vazio existencial o que mais o atormenta.  A religiosidade pode ajudar a encontrar um significado para a vida, que a protege contra o vazio e o desespero.

Nesta pandemia pode entender que quando a dor do outro não lhe afeta quem precisa de ajuda é você. Foram comportamentos de algumas autoridades diante das perdas de milhares de vida que passei acreditar que a dor do outro é também minha dor e este tem sido o proposito da minha vida. Para se conectar com a dor do outro, é preciso se conectar a nossa, reconhecê-la em nós. O que pode ajudá-la é, simplesmente, estar lá para ela. Totalmente conectados. Como é difícil entender que a dor do outro é também é a nossa dor e se não fizermos nada para amenizá-la, sofreremos também como indivíduo e na nossa humanidade.

Para isto, será necessário tornar nosso coração manso e humilde como o de Cristo. Só a assim, poderemos enxergar para além da nossa dor a dor dos oprimidos, transformando fraqueza em força em favor dos mais necessitados, lutando por um mundo mais justo, onde compartilhar e amar ao próximo como a si mesmo seja a regra.


quinta-feira, 8 de setembro de 2022

ARTIGO - Barroso suspende piso salarial da enfermagem (Padre Carlos)

 

Nenhum país pode conviver com um regime democrático se não souber cuidar dos seus.



Com a crise pandêmica que ceifou mais de seiscentas mil almas em nosso país, tem ficado cada vez mais claro que a Saúde e seus profissionais representam um dos pilares da sociedade democrática. Por isso, não pode deixar de ser prioridade para qualquer governo.  Contudo, do discurso de bravata de certos políticos à ação vai uma distância muito grande. E, se fica bem no programa eleitoral ou de governo, também não ficava mal na vida real. Mas no mundo da política é muito diferente.

Depois de muita luta, o Congresso promulgou a Emenda Constitucional (EC) 124 para possibilitar que uma lei federal instituísse os pisos salariais nacionais para enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e parteiras e sancionada em 4 de agosto pela respectiva norma, a Lei 14.434, de 2022.

Os profissionais de saúde que foram excessivamente; elogiados e designados heróis pelo desempenho inexcedível no combate ao vírus, são os mesmos que, hoje, não conseguem sequer receberem o salário nas cooperativas ou nas empresas terceirizadas. Os nossos heróis, são explorados e não têm a quem recorrer, são estes homens e mulheres que foram para linha de frente, que gostaria de ver os representantes do Legislativo, Judiciário e Executivo se unirem em busca de uma solução que garanta a implementação da lei aprovada pela ampla maioria dos parlamentares federais”.

Confiamos na "harmonia entre os Poderes" e que “juntos, encontrarão uma solução para esses trabalhadores que tanto fizeram e fazem pelo nosso país, inclusive, na linha de frente da pandemia”. Gostaria de deixar claro que uma lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República não pode ser revertida por decisão monocrática.

A aprovação da Lei que estabeleceu esse justo e merecido reconhecimento aos profissionais não pode ser rasgada desta forma. São verdadeiros heróis que merecem mais do que palavras bonitas de gratidão. Assim, quando o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF),  suspendeu liminarmente os efeitos da lei que estabeleceu um piso salarial da enfermagem, criou uma situação que coloca em risco os princípios da independência e da harmonia entre os poderes.

 

 

Esta lei veio para resolver um dos grandes gargalos nesta pirâmide são as relações de trabalho dos Tec. de Enfermagem e as Home Care em relação às baixas remunerações pelos plantões. Estes profissionais terminam assumindo uma carga de trabalho excessiva para ganhar mais que um salário. Com a nova lei, esperamos que o Concelho Regional de Enfermagem levante esta bandeira!

Decisões assim quebram o rito e a ordem natural das leis. É um erro tamanha interferência entre os Poderes. Além do mais, trata-se de uma lei que beneficia nossos enfermeiros, heróis anônimos dessa pandemia. Não há Poder acima do outro e nem maior que o outro. Há limites para todos, e eles devem ser respeitados.

O estado da Saúde de um país é um sinal da sua vitalidade e da sua vocação para o progresso. Nenhum país pode conviver com um regime democrático se não souber cuidar dos seus. Mas se esta é uma base estrutural da Democracia, é hoje o nosso barômetro para um quadro verdadeiramente preocupante. A casa que é a democracia já está comprometida. E, se continuamos a ignorar as rachaduras, seremos responsáveis quando ela for abaixo!

 

 

 


terça-feira, 6 de setembro de 2022

ARTIGO - Não é pela política. É pelo futuro dos nossos filhos. (Padre Carlos)

 

Como colocar limites ao poder do estado

 


Apesar de alguns leitores não gostarem de filosofia e ter um péssimo costume de avaliar o artigo pelo título, não posso generalizar, nem queixar da receptividade dos meus textos. Hoje, quero falar de política, mas para isto, tenho que embasar minhas teorias e ponto de vista. Assim, foram estes motivos que me levaram a escrever esse artigo e fazer uma reflexão sobre o poder hoje no Brasil, este assunto é de fundamental importância para entendermos a correlações de forças e qual o nosso papel diante dos acontecimentos recentes. Falar e fazer política não são um assunto novo, seis séculos antes de Cristo os Gregos já estavam se perguntando sobre o poder. Sócrates depois Aristóteles, na idade moderna Maquiavel, Hobbes, Hegel, Marx, Max Weber, ou seja, o poder é uma interrogação no ser humano. Este assunto é tão importante, que os romanos já buscavam entender quem verdadeiramente mandavam no poder? É a partir da minha experiência como militante que eu quero refletir sobre este assunto, por isso este artigo é muito mais amplo do que a conjuntura atual que nós estamos vivendo no Brasil. Ele trata dos limites da democracia em tempos de Neofascismo e também com perspectivas de esperança, para que possamos sair disso.

 

A meu ver o caminho viável agora além da frente progressista que representa a chapa Lula e Alckmin é fortalecer a sociedade civil através dos movimentos populares, porque todo poder tende a abusar de si mesmo e ele só reconhece os seus limites se encontra pela frente outro poder. Foi o que aconteceu com o Bolsonarismo e o STF (Supremo Tribunal Federal). A divisão tripartite da república, executivo, legislativo, e judiciário, pretendia fazer isso. Para que haja um golpe, é necessária a participação dos três como aconteceu no golpe que levou o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República, foi necessária a cumplicidade destes agentes. Este foi sem dúvida o capítulo mais vergonhoso da história política brasileira. E o que dizer da prisão de Lula para tira-lo da corrida presidencial. Eles se comportaram durante este período como se estivessem pouco se lixando para a sociedade civil. Então a única maneira da gente colocar limites ao poder do estado, ao poder político, é através do poder da sociedade civil e dos movimentos populares. Aí sim, quanto maior for esse empoderamento mais densidade e participação terá a nossa democracia.

Não é por acaso, que ao tomar posse como presidente da Corte Eleitoral, o ministro Alexandre de Moraes falou para a nação: “A liberdade de expressão não permite a propagação de discursos de ódios, ideias contrárias à ordem constitucional e ao Estado de direito. A intervenção da Justiça Eleitoral será mínima, porém será célere, firme e implacável, no sentido de coibir práticas abusivas ou divulgações de notícias falsas ou fraudulentas. Principalmente daquelas escondidas no covarde anonimato das redes sociais, as famosas fake news.”.

Os fascistas tem medo quando falamos a linguagem e fazemos política vinculada nos princípios democráticos! Porque a cabeça pensa onde os pés pisam e quando a gente não pisa no mundo destes princípios, fica difícil.

Na verdade, o que está em jogo é justamente o que o ser humano mais busca: o poder. E quando eu falo não é só do poder do político, é o poder da diretora de escola, do gerente de banco, do agente de trânsito etc. Ou seja, a pessoa se despersonaliza e passa a considerar a função que ocupa mais importante do que a sua própria individualidade. Por isto, a mobilização da sociedade é fundamental para voltar a botar o país nos trilhos. Este povo que assaltou o poder olha o governo como se fosse uma grande vaca com uma teta pra cada boca. A gente tem que pensar o seguinte: os políticos são nossos empregados, nós pagamos os salários deles, nós temos o direito de cobrar e exigir e eles tem o dever de prestar contas.

 

 Por isso que eu acho que ganhar no primeiro turno é importante para o acumulo de forças. Temos que eleger deputados e governadores comprometidos com as mudanças. Buscar entre o elenco de candidatos aqueles que comprovadamente já estão vinculados a movimentos populares, que tenham uma experiência de apoio às grandes causas de mudança social do Brasil. Fora disso, teremos de novo decepções, sofrimentos, tristezas, por ver uma classe política onde muitos estão envolvidos com o golpe e o projeto de tirar todas as conquistas sociais, e outros sendo cooptada pelo sistema, sem nenhum amor à causa pública, ao bem comum, nenhuma dedicação a um projeto de nação. Eles estão sempre pensando num projeto de eleição e não num projeto de nação.

 

Padre Carlos

 


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

ARTIGO - Uma Igreja das duas irmãs ( Padre Carlos )




Uma Igreja das duas irmãs

            Ontem nas minhas orações  diaria, parei para fazer nao só  uma exegese das leitura diárias,  mas percebi que a profundidade doas textos merecia fazer também uma hermenêutica da nossa realidade.  Atualmente através de lutas feministas a mulher vem superando as desigualdades e alcançando vários direitos nos diversos setores da sociedade, porém, quando se trata das esferas religiosas ainda há uma distância a ser superada, pois alguns segmentos religiosos mantém sua hierarquia estática permanecendo com práticas que reforçam atitudes que desqualifica a mulher para assumirem cargos superiores no interior de algumas tradições religiosas e principalmente no caso do cristianismo.
  
          Diante de tal constatação, buscamos através do Evangelho segundo São Lucas, uma abordagem teológica sobre o que o evangelista gostaria de transmitis a respeito de Marta e Maria.
            O que podemos extrair dos textos Sagado sobres as passagem de Maria e Marta? Que Marta representa à ação e Maria a contemplação. Mestre Eckardt, paradoxalmente, chamou a atenção para o fato de a verdadeira mística ser, afinal, Marta, no contexto do que se chamou "a mística de olhos abertos", dirigida à ação a favor dos outros. A contemplação sem ação, sem compaixão, pode não passar de pura ilusão. De qualquer modo, é essencial sublinhar o que raramente ou mesmo nunca se diz: Jesus está afirmando que as mulheres também podem e devem ser discípulas. As tradições religiosas têm um papel fundamental na perpetuação de pensamentos e práticas que inferioriza a figura feminina na sociedade. Atualmente nas Igrejas Católicas é permitida em alguns momentos a presença de mulheres no altar atuando como ministras da eucaristia, podem fazer parte das variadas pastorais e trabalhar nas ações missionárias. Mas, quando se trata da questão do sacerdócio, este e os demais cargos de destaque que compõem a hierarquia religiosa católica estão destinados aos homens. Isto porque entendem que o sacerdócio é uma prática exclusiva ao sexo masculino e para tal justificativa se respaldam em algumas passagens das Escrituras Sagradas: Enquanto o Novo Testamento sinaliza para uma valorização. Assim, não é por acaso que Maria está precisamente na posição do discípulo: aos pés de Jesus, escutando a sua palavra. Contradizendo o que estava determinado, Jesus teve discípulos e discípulas; as mulheres não podem estar confinadas ao serviço da casa.
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             Numa leitura abrangente e essencial, o que o texto defende é uma Igreja das duas irmãs e a vida de todos, de cada um e de cada uma, tem de ser a sínteses das duas irmãs.
    
        Ninguém deve ficar absorvido, cansado e morto pelo ativismo de Marta. Até Deus, no princípio, segundo o livro do Génesis, determinou um dia de descanso semanal, o sábado, para que o Homem se lembrasse de que não é uma besta de carga. Todos precisaram integrar na vida a atitude de Maria. Descansar, repousar, festejar, tirar férias (etimologicamente, férias são dias festivos). Ah! E tempo para a beleza, e para a família, tempo para tomar uma cachacinha com os amigos, tempo para o silêncio, para o encontro consigo. Nestes tempos de dispersão, de corrida louca (para onde?), perigo maior é o do esquecimento de si e da alienação. Nestes tempos de falta de intimidade onde o outro é um estranho, tempos da perdição, precisamos do outro lado: cultivar a intimidade, dialogar na intimidade, lá no mais íntimo, com a fonte de ser e do ser. Ah! E ouvir o silêncio, lá onde se acende as palavras vivas e luminosas e o sentido do existir.

Padre Carlos
            
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sábado, 3 de setembro de 2022

ARTIGO - “Por que a Igreja tem medo de ter coragem?” (Padre Carlos)

 



Cardeal Martini e a reforma do Papa Francisco 

 


 

A reforma de Francisco com o levantamento do segredo pontifício tem o mérito de afirmar os valores da transparência e da abertura.

Tive como professor de História da Igreja, um dos maiores mestres nesta área e comprovadamente uma pessoa dedicada a Igreja. Frater Henrique Cristiano José Matos, ou simplesmente frater Henrique, como é conhecido pela comunidade acadêmica. Durante minha permanência na capital mineira, aprendi muito com aqueles Doutores e Mestres, responsável pela nossa formação, mas este irmãozinho teve uma influencia marcante na minha vida. Devido a minha paixão pela história, este mestre pôs o selo da História da Igreja no meu peito e segurou minhas mãos para que eu pudesse alçar grandes voos. É com esta certeza que continuo segurando sua mão, que gostaria de partilhar estes questionamentos.

Durante os cincos séculos que separam a gente da Contra-Reforma, constatamos duas correntes de pensamentos  disputando a seguinte  ideia:   a Contra-Reforma Católica é fruto de uma reação de defesa à Reforma, que conduziria ao aparecimento do protestantismo e de outras correntes dissidentes, ou se ela resulta de uma renovação que já fazia o seu caminho no interior da Igreja Romana.

O mais provável é que ambas as premissas estejam, corretas, como é certo que há muito existem vozes no interior da Igreja Católica que sonha com um Concílio Vaticano III, porque estão convencidos de que a Igreja Católica precisa de profundas reformas. Faz dez anos que perdemos um companheiro de Jesus e um dos grandes defensores desta tese. Hoje estava pensando que uma das grandes motivações e inspirações de Bergoglio, tenha sido seu irmão de congregação, o cardeal Carlo Maria Martini. Pensei muito na luta que este santo travou nestas últimas cinco décadas e fiquei triste ao constatar que ele morreu sem ter visto esse novo aggiornamento.

         O sonho de Martini está sendo realizado por meio do Pontificado do seu irmão e não podemos esquecer que é também o sonho de uma boa parte da Igreja do antigo mundo. “Existe a necessidade de um debate colegial entre todos os bispos no caminho das Igrejas”, dissera Martini, no Sínodo dos bispos europeus em 1999, elencando alguns desses pontos que gostaríamos que avançasse na pauta das Reformas: a participação democrática na vida da Igreja, os leigos, o papel das mulheres na sociedade e na Igreja, "a sexualidade", a "disciplina do matrimônio", a "relação entre democracia e valores e entre leis civis e lei moral”.

A Contra-Reforma, perdeu o trem da história e tudo que Martini assistiu durante boa parte da sua vida, está vindo a baixo:  à progressiva demolição de todas aquelas instâncias de renovação avançadas pelo Concílio Vaticano II, há 50 anos, gradual e inexoravelmente apagadas ou redimensionadas pelo Papa Wojtyla e pelo Papa Ratzinger, principais defensores da chamada "hermenêutica da continuidade", ou seja, de uma interpretação do Concílio no sinal da absoluta continuidade com a tradição e o magistério da Igreja.

 Uma das últimas perguntas feitas pelo cardeal Martini: por que a Igreja tem medo de ter coragem? As pamavras do Companheiro de Jesus ressoou no ouvido de Francisco e desde o início de seu pontificado, tem tomado posições firmes na  defesa dos direitos dos pobres e dos marginalizados, particularmente dos presos e dos imigrantes, lembrando muito o Cardeal Martini e assumindo posições que gostaríamos de ver e vivenciar antes que os nossos olhos se fechem. 

 

Padre Carlos

 

 

  

 

 

 

 


quinta-feira, 1 de setembro de 2022

ARTIGO - O ódio, como estratégia política! (Padre Carlos)

 

A liberdade de expressão não pode ser usada para fulminar a democracia



Gostaria de abordar neste artigo o comportamento entre os candidatos à presidente e falar das pesquisas e do que ainda espero para este 1º turno. Vejo de forma clara que, não estamos cometendo os mesmos erros de quatro anos atrás em relação à premissa da tolerância. Vamos ao fato inicial de onde parte toda questão. Nas democracias, eleição é condição necessária, porém insuficiente. No Brasil, a eleição 2022 pode aprofundar um projeto de Estado e de sociedade desigual, onde liberdade caminha para ser um bem de poucos, e fascismo, neoliberalismo, neopentecostalismo e conservadorismos reacionários se unem para espoliar e manter refém aquele que se acha presidente. Não esquecendo que o conglomerado golpista (tendo PSDB, MDB e a velha mídia) se utiliza de uma fracassada terceta via para ajudar a utradireita chegar ao segundo turno.

A mãe de todos os paradoxos, que nortearam a ação política de muito brasileiros, é a mesma que o bolsonarismo utilizou, isto é, os procedimentos democráticos (liberdade de expressão) para fulminar a democracia e implantar um regime ditatorial. Depois de quatro anos, as instituições e a mídia corporativa entenderam que parte da população abancou no governo um tirano. Porem, o mais importante, foi o Estado entender que estava sendo minado com a disseminação da intolerância e do ódio, como estratégia política, minando a vida democrática do país sem nenhuma restrição do judiciário. O filósofo Karl Popper dizia que: "Tolerância ilimitada culminará no desaparecimento da tolerância, pois se a tolerância ilimitada for estendida aos intolerantes, os tolerantes serão destruídos”.

Assim, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, criou nesta quinta-feira, 1°, um “núcleo de inteligência para instrumentalizar o enfrentamento à violência política no processo eleitoral de 2022”. Ações como esta que faltaram em 2018, dificultará a vida do bolsonarismo. Temos que ter tolerância zero aos intolerantes que querem o fim da democracia.

Foi usando procedimentos democráticos que o Partido Nazista subiu ao poder. Foi fazendo o mesmo que fascistas brasileiros chegaram governar. Quem não se lembra dos “camisas verde-amarela” usando a liberdade de expressão para pedir o fim da democracia? Nos EUA os “Alt-Right” (movimento ultraconservador, supremacista, nacionalista, que reúnem neonazistas, neo-confederados e a Ku Klux Klan) usam direitos consagrados na Constituição para fazerem sua pregação antidemocrática e pró-fascista. Mas, não é isso mesmo que aconteceu no Brasil?

Os tolerantes se uniram em torno de uma candidatura comprometida com a tolerância, pois nosso futuro, e o de nossas crianças, estão em questão, mesmo que o passado seja tão comprometido pelo autoritarismo. Se os intolerantes vencerem vão, não duvide perseguir os tolerantes, pois a primeira coisa que farão será acabar com a liberdade de expressão. Não se trata do projeto desses ou daquele político, ou do ódio que você pensa que sente a um partido e/ou projeto político. A NOSSA LUTA AGORA É CONTRA O BOLSONARISMO e tudo que ele representa e fez nestes últimos anos! Precisamos tratar da união republicana, democrática, humanista, progressista, contra o mal maior. Você consegue imaginar como estará o Brasil daqui a dez anos depois dois ou três governos do Inominável? Como conheço bem nossa história republicana, mais especificamente o período da ditadura militar imagina que estaremos mal, muito mal.

Para votar temos que ter claro que o crescimento do bolsonarismo se dá pelo enfraquecimento, e falta de reação, dos outros candidatos da direita. Claro, a ofensiva dos setores neopentecostalistas, carreou muitos votos para a alegoria fascista nos últimos anos. Mas, não esqueçam que o “mito” não é favorito para ganhar. Lula é o primeiro colocado nas pesquisas e aparece nelas ganhando no 1º turno. 

 

Nesta eleição, Bolsonaro não pode se esconder, ele teve que aparecer para seus próprios eleitores. Estou muito ansioso para os próximos debates entre Lula, com seu conhecimento e sua sensibilidade, e o Bozo, com tudo aquilo que sabemos que ele não tem. Infelizmente ele termina ganhando votos por causa, também, de setores golpistas que formaram uma terceira via para não serem confundidos ao fascismo. Veja o caso de ACM Neto na Bahia.  O ex-prefeito de Salvador junto com sua chapa majoritária mandaram às favas os escrúpulos de consciência e abraçaram a postulação da extrema direita. No futuro serão chamados pela sociedade para explicarem se tanto faz a democracia ou o fascismo.

No entanto, é assim mesmo. À direita, dita liberal, que não quer ser chamada de fascista, não pestaneja em criar do faz de conta ou tanto faz, as suas fantasias democráticas para proteger seus interesses. Como diria Karl Marx, “perde uma mão, mas não perde a bolsa”. Sensato para Ciro Gomes e o PDT, seria abrir mão do tal discurso dos “dois extremos”. A balela de que Lula e Bolsonaro são iguais por serem extremos. Discurso confortável para quem não quer assumir sua condição política e ideológica. Para esse dilema, dou uma sugestão: faça sua escolha e tente viver bem com ela em Paris, não se esquecendo de assumi-la quando voltar, para o bem e para o mal. 

Temos duas opções. Uma, é a defesa da democracia, da liberdade e do desenvolvimento social. Outra nos fará mais uma vez  andar para trás com uma venda nos olhos. Escolha a sua, mas não seja egoísta, não pense apenas em si mesmo, pense em seus filhos e nas pessoas que você ama. Temos, neste 1º turno, a oportunidade de termina de vez com esta guerra contra o fascismo. Essa eleição é a mais importante das que tivemos até hoje, pois significa a volta ao caminho da construção de uma sociedade mais justa, menos desigual. Ganhar esta eleição no 1º turno significa acumular forças para as próximas batalhas, até porque ainda teremos que lutar muito para garantir a posse de Lula e o resultado das urnas seja respeitado.

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...