A política do “Panis et circenses”.
Como dizia
meu professor de latim no seminário: “Panis et circenses”. Esta expressão de
origem latina que significa pão e jogos circenses tem muito haver com estas
eleições e o jogo político que Bolsonaro tentou montar. Assim, lembrei-me que no
antigo império romano, os governantes promoviam espetáculos e distribuíam pão
como forma de diminuir a insatisfação popular. Havia os espetáculos onde
gladiadores lutavam até a morte. Era um circo montado para divertir a população.
Nesses eventos se fazia farta distribuição de pão. Enquanto se divertia e
comia, o povo romano esquecia a opressão a que era submetido. Todas às vezes
que um governante controlou os humores de seu povo, promovendo festas e
distribuindo comida, se disse que ele fazia a política do “pão & circo”.
No Brasil muito se usou as festas populares
como o carnaval e São João para se amortizar os inconformismos sociais. Por
isto, o governo federal tem investido alto na politico do “pão & circo”,
pois ao mesmo tempo em que programas assistencialistas, como Auxílio Brasil de
600 Reais até dezembro, se tornam carro chefe da política social, seus aliados
lucram com estes espetáculos.. Esta forma de fazer política explica como uma cidade
de Minas Gerais com 29.000 habitantes pagou Gusttavo Lima o cachê de 800.000 reais
por um show. A propaganda fascista conta com uma rede que engrossa ganhos de
cantores sertanejos pagos por prefeituras
Aqui, na Bahia, a situação
não é diferente. Na verdade, é bem pior. Em vários municípios os prefeitos não
se contentam apenas em promover a política do “pão & circo”, eles ainda
criam poderosos esquemas para desviar verbas públicas. Há uns dias atrás o Ministério
Público da (MPBA) cancelou uma festa milionária de prefeitura na BA com participação de
Gusttavo Lima; cachê do cantor passaria de R$ 700 mil. Esta festa cujo nome
seria Festival da Banana, seria realizado em Teolândia. Desta forma, a justiça
cancelou a pedido do MP-BA, mais uma farra com o dinheiro público. Gostaríamos
de lembrar que este município está em estado de emergência desde o final de
2021, por causa das fortes chuvas que atingiram o sul do estado. Entre as 28
atrações, o MP destacou cachês superiores a R$ 100 mil.
Em geral,
as fraudes nestes eventos giram em torno do processo de contratação de empresas
que produzem os eventos. Na maioria estas empresas são de propriedade dos prefeitos,
e seus familiares, secretários, funcionários públicos e empresários do ramo de
diversão que criam empresas fantasmas para desviar verbas públicas e fraudam
procedimentos de contratação de serviços. Qualquer serviço é motivo para uma
fraude. A contratação de shows pirotécnicos e de serviço de segurança, o
aluguel de banheiros públicos, a montagem de palcos, de sistemas de iluminação
e som, enfim, de todo canto pode-se tirar vultosas somas.
Esta é a
triste constatação. Essa gente que toma de assalto os cofres públicos, que se
aproximam do Estado como se fossem piratas em busca de um tesouro, entenderam
que é possível lucrar dobrado em cima das festas populares. Ganham politicamente
com a ideia do “Panis et circenses”. A população fica entorpecida, não
pensa em mais nada, enquanto se diverte em praça pública ao som pavoroso dessas
bandas que tocam aquele lixo musical que não se pode reciclar. E ganham
financeiramente com essa bandalheira promovida na produção dos eventos
festivos. Quem não se lembra dos tais carnavais fora de época que fizeram a
alegria de muitos e riqueza de poucos?