Cardeal Martini e a reforma do Papa
Francisco
A
reforma de Francisco com o levantamento do segredo pontifício tem o mérito de
afirmar os valores da transparência e da abertura.
Tive
como professor de História da Igreja, um dos maiores mestres nesta área e
comprovadamente uma pessoa dedicada a Igreja. Frater Henrique Cristiano José
Matos, ou simplesmente frater Henrique, como é conhecido pela comunidade
acadêmica. Durante minha permanência na capital mineira, aprendi muito com
aqueles Doutores e Mestres, responsável pela nossa formação, mas este
irmãozinho teve uma influencia marcante na minha vida. Devido a minha paixão
pela história, este mestre pôs o selo da História da Igreja no meu peito e
segurou minhas mãos para que eu pudesse alçar grandes voos. É com esta certeza
que continuo segurando sua mão, que gostaria de partilhar estes
questionamentos.
Durante
os cincos séculos que separam a gente da Contra-Reforma, constatamos duas
correntes de pensamentos disputando a
seguinte ideia: a Contra-Reforma Católica é fruto
de uma reação de defesa à Reforma, que conduziria ao aparecimento do
protestantismo e de outras correntes dissidentes, ou se ela resulta de uma
renovação que já fazia o seu caminho no interior da Igreja Romana.
O
mais provável é que ambas as premissas estejam, corretas, como é certo que há
muito existem vozes no interior da Igreja Católica que sonha com um Concílio
Vaticano III, porque estão convencidos de que a Igreja Católica precisa de
profundas reformas. Faz dez anos que perdemos um companheiro de Jesus e um dos
grandes defensores desta tese. Hoje estava pensando que uma das grandes
motivações e inspirações de Bergoglio, tenha sido seu irmão de congregação, o
cardeal Carlo Maria Martini. Pensei muito na luta que este santo travou nestas
últimas cinco décadas e fiquei triste ao constatar que ele morreu sem ter visto
esse novo aggiornamento.
O
sonho de Martini está sendo realizado por meio do Pontificado do seu irmão e
não podemos esquecer que é também o sonho de uma boa parte da Igreja do antigo
mundo. “Existe a necessidade de um debate colegial entre todos os bispos no
caminho das Igrejas”, dissera Martini, no Sínodo dos bispos europeus em 1999,
elencando alguns desses pontos que gostaríamos que avançasse na pauta das
Reformas: a participação democrática na vida da Igreja, os leigos, o papel das
mulheres na sociedade e na Igreja, "a sexualidade", a
"disciplina do matrimônio", a "relação entre democracia e
valores e entre leis civis e lei moral”.
A
Contra-Reforma, perdeu o trem da história e tudo que Martini assistiu durante
boa parte da sua vida, está vindo a baixo: à progressiva demolição
de todas aquelas instâncias de renovação avançadas pelo Concílio Vaticano II,
há 50 anos, gradual e inexoravelmente apagadas ou redimensionadas pelo Papa
Wojtyla e pelo Papa Ratzinger, principais defensores da chamada
"hermenêutica da continuidade", ou seja, de uma interpretação do
Concílio no sinal da absoluta continuidade com a tradição e o magistério da
Igreja.
Uma das últimas perguntas feitas pelo cardeal
Martini: por que a Igreja tem medo de ter coragem? As pamavras do Companheiro de Jesus ressoou no ouvido de Francisco e desde o início de seu pontificado, tem tomado posições firmes na defesa
dos direitos dos pobres e dos marginalizados, particularmente dos presos e dos
imigrantes, lembrando muito o Cardeal Martini e assumindo posições que
gostaríamos de ver e vivenciar antes que os nossos olhos se fechem.
Padre
Carlos
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