sexta-feira, 23 de setembro de 2022

ARTIGO - Essa gente tomou de assalto os cofres públicos (Padre Carlos )

 

A política do “Panis et circenses”.

 


Como dizia meu professor de latim no seminário: “Panis et circenses”. Esta expressão de origem latina que significa pão e jogos circenses tem muito haver com estas eleições e o jogo político que Bolsonaro tentou montar. Assim, lembrei-me que no antigo império romano, os governantes promoviam espetáculos e distribuíam pão como forma de diminuir a insatisfação popular. Havia os espetáculos onde gladiadores lutavam até a morte. Era um circo montado para divertir a população. Nesses eventos se fazia farta distribuição de pão. Enquanto se divertia e comia, o povo romano esquecia a opressão a que era submetido. Todas às vezes que um governante controlou os humores de seu povo, promovendo festas e distribuindo comida, se disse que ele fazia a política do “pão & circo”.

 No Brasil muito se usou as festas populares como o carnaval e São João para se amortizar os inconformismos sociais. Por isto, o governo federal tem investido alto na politico do “pão & circo”, pois ao mesmo tempo em que programas assistencialistas, como Auxílio Brasil de 600 Reais até dezembro, se tornam carro chefe da política social, seus aliados lucram com estes espetáculos.. Esta forma de fazer política explica como uma cidade de Minas Gerais com 29.000 habitantes pagou Gusttavo Lima o cachê de 800.000 reais por um show. A propaganda fascista conta com uma rede que engrossa ganhos de cantores sertanejos pagos por prefeituras

Aqui, na Bahia, a situação não é diferente. Na verdade, é bem pior. Em vários municípios os prefeitos não se contentam apenas em promover a política do “pão & circo”, eles ainda criam poderosos esquemas para desviar verbas públicas. Há uns dias atrás o Ministério Público da (MPBA) cancelou uma festa milionária de prefeitura na BA com participação de Gusttavo Lima; cachê do cantor passaria de R$ 700 mil. Esta festa cujo nome seria Festival da Banana, seria realizado em Teolândia. Desta forma, a justiça cancelou a pedido do MP-BA, mais uma farra com o dinheiro público. Gostaríamos de lembrar que este município está em estado de emergência desde o final de 2021, por causa das fortes chuvas que atingiram o sul do estado. Entre as 28 atrações, o MP destacou cachês superiores a R$ 100 mil.

 

Em geral, as fraudes nestes eventos giram em torno do processo de contratação de empresas que produzem os eventos. Na maioria estas empresas são de propriedade dos prefeitos, e seus familiares, secretários, funcionários públicos e empresários do ramo de diversão que criam empresas fantasmas para desviar verbas públicas e fraudam procedimentos de contratação de serviços. Qualquer serviço é motivo para uma fraude. A contratação de shows pirotécnicos e de serviço de segurança, o aluguel de banheiros públicos, a montagem de palcos, de sistemas de iluminação e som, enfim, de todo canto pode-se tirar vultosas somas.

Esta é a triste constatação. Essa gente que toma de assalto os cofres públicos, que se aproximam do Estado como se fossem piratas em busca de um tesouro, entenderam que é possível lucrar dobrado em cima das festas populares. Ganham politicamente com a ideia do “Panis et circenses”. A população fica entorpecida, não pensa em mais nada, enquanto se diverte em praça pública ao som pavoroso dessas bandas que tocam aquele lixo musical que não se pode reciclar. E ganham financeiramente com essa bandalheira promovida na produção dos eventos festivos. Quem não se lembra dos tais carnavais fora de época que fizeram a alegria de muitos e riqueza de poucos?

 

 

 

 


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