sábado, 8 de outubro de 2022

ARTIGO - A divisão eleitoral brasileira é também entre ricos e pobres. (Padre Carlos)

 

O mapa da polarização é a fome

 


            O Presidente Jair Bolsonaro decidiu antecipar o pagamento do subsídio de Outubro do Auxílio Brasil, o programa de assistência social para ajudar os mais pobres que Luiz Inácio Lula da Silva criou quando estava na presidência como Bolsa Família. As primeiras parcelas vão começar a ser pagas no dia 11 e terminam no dia 25, a tempo de se sentirem no bolso do eleitor antes do segundo turno das eleições presidenciais marcadas para dia 30. Brincando com a fome do povo e tentando influenciar com sua caneta as eleições, o nosso país segue polarizado. Mesmo colocando a máquina do governo a serviço da campanha, Lula ganhou em todas as 100 cidades que mais recebem o Auxílio Brasil, Bolsonaro venceu em 99 das cidades com menos beneficiários desse programa de assistência social.

O preço da cesta básica nos últimos anos chegou a patamares intoleráveis. Quando um litro de leite passa valer mais que um litro de gasolina é porque algo está errado, o alimento do pobre não é combustível.  O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de leite. Produz mais de 35 mil milhões de litros por ano e tem cerca de 1,1 milhões de produtores, mas 70% são pequenos agricultores (com menos de 50 animais).

Uma pesquisa divulgada revelou que cerca de 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil. O número é quase o dobro do registado em 2020 e indica que o país regrediu a um patamar da década de 90.

Enquanto o IBGE divulgava as pesquisas sobre Insegurança Alimentar, informando que 41,3% dos domicílios consultados estão em situação de segurança alimentar, enquanto em 28% há incerteza quanto ao acesso aos alimentos e à qualidade da alimentação, considerada insegurança alimentar leve, o presidente Jair Bolsonaro afirmava para imprensa internacional em Orlando, nos Estados Unidos, que a economia do Brasil vai “muito bem”.

Esta declaração deixou claro que o pobre não faz mais parte da realidade brasileira, aquelas políticas públicas de combate à pobreza e à miséria que, entre 2004 e 2013, reduziram a fome a apenas 4,2% dos nossos lares tirando o País do mapa da fome mundial, não existe mais.

 

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

ARTIGO - Vencer Bolsonaro nas urnas não significa derrotar o bolsonarismo. (Padre Carlos).

 

Este fenómeno é muito mais profundo do que a popularidade de Bolsonaro.

 


Ao longo desta semana venho dedicando com alguns artigos, analisar sobre o que aconteceu no Brasil no dia 2 de outubro. Como professor de filosofia e eleitor de Lula, vi na sua votação uma mensagem de esperança. Estou certo que essa vitória se confirmará no segundo turno com uma ampla mobilização social e enorme frente partidária. Ciro Gomes e Simone Tebet já confirmaram o apoio ao petista e somaram assim ao campo democrático.

No entanto, esse não é o fim desta saga. Infelizmente, e como a experiência norte-americana nos ensinou vencer Bolsonaro nas urnas não significa derrotar o bolsonarismo. Isso ficou claro na votação para o Congresso e para o Senado, assim como nas disputas eleitorais estaduais. O avanço da extrema-direita é um fenómeno muito mais profundo do que a popularidade do seu líder e operador político, na verdade esta corrente de pensamento é um monstro com muitas cabeças.

A influência desta ideologia reacionária de utradireita não é obra de um único partido, mas de uma grande articulação a que já deram muitos nomes, partido digital bolsonaristas, extra partido, partido paralelo: uma articulação de movimentos com uma agenda conservadora e reacionária que opera diretamente na sociedade sem intermediários partidários ou políticos: das milícias às igrejas evangélicas, passando por movimentos como a Escola Sem Partido, think thanks neoliberais, e outros que operam em largos setores da sociedade, das massas a mais fina elite económica.

A maior representante desta agenda foi a Ministra Damares Alves, Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. A mulher que divulgou o nome e informações de uma menina de 11 anos que foi violentada e abortou; a ministra que procurou explicar que a alta incidência de estupros de meninas em determinadas regiões do Brasil se devia ao decote da roupas destas crianças, a evangélica que levantou a voz contra a “ideologia de género”, dizendo que a mulher deve ser submissa no casamento.

Em um ano a frente deste ministério, Damares já era a segunda ministra mais popular do Governo, só perdia em popularidade para Sérgio Moro. No discurso de despedida do ministério antes de se candidatar ao Senado, no dia 31 de março, Damares, com a voz embargada, dirigiu-se à amiga Michelle Bolsonaro: “Minha primeira-dama, foi você! Obrigada por ter acreditado, por ter confiado. Eu volto um dia, e como a ministra polêmica, que colocou as pautas de uma forma polêmica, eu não poderia sair daqui sem dizer que os filhos pertencem às famílias, sem dizer que menino veste azul, menina veste rosa, e quem manda nos filhos é a família! Deus abençoe o Brasil!”. Foi a primeira senadora eleita nas eleições de 2 de outubro de 2022.

Numa análise muito lúcida sobre o que está em pauta, Tarso Genro (ex-ministro da Educação, da Justiça e das Relações Institucionais do Brasil) escreveu: “Esta nova sociabilidade nos assalta e nos desequilibra: como é possível selecionar pessoas para matar, exclusivamente por discordâncias políticas? Como é possível apresentar armas letais a crianças, estimular violência gratuita contra mulheres, militarizar escolas, ensinar a odiar seres humanos pela sua identidade sexual? Como é possível imitar o desespero – por falta de ar – de pessoas que estão enfrentando a morte a caminho de um Hospital? Como foi possível um povo “pacífico” e “ordeiro”, como dizem os velhos conservadores, bem (ou mal) intencionados, eleger uma pessoa como Presidente da sua República, que faz da morte e da tortura seu cartão de apresentação na cena política? Sociólogos, antropólogos e filósofos – humanistas e céticos de todo os quadrantes – já deram respostas brilhantes a estas perguntas, mas eu – que pensei saber algo mais do meu país e que as lições de Treblinka e Buchenwald, já eram suficientes para me ensinar algo a respeito da barbárie – confesso que não sei mais nada.”.

Mas Tarso sabe que esse combate tem de ser feito, e que começa agora, porque “a vitória está aí nos olhando para nos perguntar o que faremos dela”. 

 


quinta-feira, 6 de outubro de 2022

ARTIGO - Não existe direita sem Bolsonaro, assim como: (extra Ecclesiam nulla salus) (Padre Carlos)

 


O bolsonarismo conseguiu se firmar como força no cenário político brasileiro





A derrota de muitos dos antigos aliados do presidente, me levaram a uma reflexão mais cuidadosa sobre o que realmente aconteceu com queles políticos que se afastaram do bolsonarismo e tentaram criar uma direita independente. Este tipo de comportamento me fez lembrar um dos axiomas mais célebres da eclesiologia: “fora da Igreja não há salvação” (extra Ecclesiam nulla salus), ou poderíamos dizer, sem Bolsonaro hoje não há direita.

Se de uma coisa tenho certeza, é que o bolsonarismo conseguiu se firmar como força permanente do cenário político brasileiro nestas eleições. O Partido Liberal (PL), que hoje abriga o presidente Jair Bolsonaro, elegeu as maiores bancadas na Câmara (101, de 513 deputados) e no Senado — onde agora conta com 14 dos 81 senadores — mais a base aliada do "Centrão", os partidos que apoiam o governo.

         Esse resultado indica que, ainda que Lula vença a eleição presidencial no segundo turno, dependerá dos partidos que estão com Bolsonaro para governar. Igualmente, se reeleito, o atual presidente precisará da oposição comandada por Lula para administrar o país.

Para os cientistas políticos a pergunta que não quer calar é: mas, o que, afinal, significa ser bolsonarista? A pergunta é importante porque este conceito está ligado a um dos fenômenos políticos mais importantes da história recente do Brasil e que ainda deve gerar repercussões por muitos e muitos anos: Em primeiro lugar, temos que admitir que o bolsonarismo representa uma parcela bastante relevante do eleitorado e da sociedade brasileira e diante do fisiologismo busca na ilusão que esta corrente de pensamento pode levar a uma direita ideológica.

Após o primeiro turno das eleições 2022, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados podem comemorar os resultados das urnas. Além de apresentar números acima do que eram divulgadas na maioria das pesquisas eleitorais, o presidente conseguiu expandir sua bancada na Câmara dos Deputados e eleger ex-ministros para o Senado. Outro fato importante foram o baixo desempenho eleitoral dos seus ex-apoiadores e todos aqueles que se afastaram do bolsonarismo. Podemos citar aqui os casos da jornalista Joice Hasselmann (PSDB) e Alexandre Frota (PSDB), como exemplo e outros como o ex-juiz Sergio Mouro que se elegeu senador porque voltou a vincular seu nome ao do presidente e o seu governo.

 


ARTIGO - No final o "centrão" sempre ganha. (Padre Carlos)

 


O centrão nosso de cada dia!




 

Um dos grandes problemas da democracia brasileira está na fragmentação da nossa representação política.  É quase impossível identificar linhas ideológicas quando se tem 23 partidos representados na Câmara dos Deputados. Esta é uma das equações mais difícil para os cientistas político e uma tarefa quase impossível, mesmo para os mais informados dos cidadãos. Se fizermos as conta os partidos mais à Esquerda e próximos de Lula (incluindo o PT), somam agora pouco mais de 100 deputados (de um total de 513). O bloco de Direita mais próximo de Bolsonaro tem cerca de 200. Então isto quer dizer que Bolsonaro terá mais facilidade do que Lula na hora de negociar acordos no Congresso que permitam governar? Não, porque quem manda mesmo em Brasília é o "centrão".

         Se o alinhamento político aqui no Brasil fosse coisa para ser levar a sério, não haveria dúvidas de que a soma do Centro-Direita, Direita e Extrema-Direita seria maioria absoluta. Infelizmente não é isto que acontece. O que constatamos nestes mais de quarenta anos fazendo política é que a maioria dos partidos brasileiros (à Direita como à Esquerda) termina se alinhando pelo "centro", seja qual for o presidente. Não se trata de preferência pelo centro político, mas pelo centro de poder. O que tem cargos e dinheiro para distribuir. Um dos exemplos desse pragmatismo é o Partido Liberal, que agora acolhe Bolsonaro: quando Lula foi presidente, fez parte do "centrão" que deu estabilidade ao governo petista. Será que alguém ainda tem dúvida que isto possa voltar acontecer?

         O grande problema de Lula hoje não é ganhar, isto tem se desenhado estes dia diante da distancia dos votos que separam os candidatos. Mesmo tratando-se do Brasil, seis milhões são muitos votos para Bolsonaro recuperar. Desta forma, não podemos negar que o ex-presidente Lula está em vantagem e é o favorito para o segundo turno. Outro fato importante foram os apoios dos candidatos Simone Tebet e Ciro Gomes, com este reforço em sua campanha Lula ficou a um passo do Planalto e se aproxima de uma parte suficiente dos oito milhões de eleitores da (terceira via). Quanto a Bolsonaro, superou as sondagens. Mas, do que precisa é de se superar a si próprio. Não existe marqueteiro que possa esconder a misoginia, o racismo, a homofobia e a apologia da violência que o presidente tem demostrado.

Parafraseando ACM Neto, na verdade não importa quem será o eleito para ocupar o Palácio do Planalto, ele terá que negociar com o Congresso Nacional que saiu das urnas neste domingo. O Centrão é parte do jogo de um presidencialismo de coalizão. O que queremos dizer é que em toda democracia há pontos positivos e negativos e isto se dá devido à forma de pensar e como sua influência na sociedade está diretamente ligada a nossa cultura. Como quase sempre foi feito na democracia brasileira, o presidente eleito este ano terá, então, que negociar com partidos e não com indivíduos isoladamente ou agrupamentos suprapartidários se quiser ter uma base de apoio sólido e confiável a partir de 2023, para trabalhar pelo seu programa de governo.

 

 

 


quarta-feira, 5 de outubro de 2022

ARTIGO - Uma Igreja das duas irmãs ( Padre Carlos )

 


Uma Igreja das duas irmãs

            Ontem nas minhas orações  diaria, parei para fazer nao só  uma exegese das leitura,  mas percebi que a profundidade doas textos merecia fazer também uma hermenêutica da nossa realidade.  Atualmente através de lutas feministas a mulher vem superando as desigualdades e alcançando vários direitos nos diversos setores da sociedade, porém, quando se trata das esferas religiosas ainda há uma distância a ser superada, pois alguns segmentos religiosos mantém sua hierarquia estática permanecendo com práticas que reforçam atitudes que desqualifica a mulher para assumirem cargos superiores no interior de algumas tradições religiosas e principalmente no caso do cristianismo.
  

          Diante de tal constatação, buscamos através do Evangelho segundo São Lucas, uma abordagem teológica sobre o que o evangelista gostaria de transmitis a respeito de Marta e Maria.

            O que podemos extrair dos textos Sagado sobres as passagem de Maria e Marta? Que Marta representa à ação e Maria a contemplação. Mestre Eckardt, paradoxalmente, chamou a atenção para o fato de a verdadeira mística ser, afinal, Marta, no contexto do que se chamou "a mística de olhos abertos", dirigida à ação a favor dos outros. A contemplação sem ação, sem compaixão, pode não passar de pura ilusão. De qualquer modo, é essencial sublinhar o que raramente ou mesmo nunca se diz: Jesus está afirmando que as mulheres também podem e devem ser discípulas. As tradições religiosas têm um papel fundamental na perpetuação de pensamentos e práticas que inferioriza a figura feminina na sociedade. Atualmente nas Igrejas Católicas é permitida em alguns momentos a presença de mulheres no altar atuando como ministras da eucaristia, podem fazer parte das variadas pastorais e trabalhar nas ações missionárias. Mas, quando se trata da questão do sacerdócio, este e os demais cargos de destaque que compõem a hierarquia religiosa católica estão destinados aos homens. Isto porque entendem que o sacerdócio é uma prática exclusiva ao sexo masculino e para tal justificativa se respaldam em algumas passagens das Escrituras Sagradas: Enquanto o Novo Testamento sinaliza para uma valorização. Assim, não é por acaso que Maria está precisamente na posição do discípulo: aos pés de Jesus, escutando a sua palavra. Contradizendo o que estava determinado, Jesus teve discípulos e discípulas; as mulheres não podem estar confinadas ao serviço da casa.
SUBSCREVER
             Numa leitura abrangente e essencial, o que o texto defende é uma Igreja das duas irmãs e a vida de todos, de cada um e de cada uma, tem de ser a sínteses das duas irmãs.
    

        Ninguém deve ficar absorvido, cansado e morto pelo ativismo de Marta. Até Deus, no princípio, segundo o livro do Génesis, determinou um dia de descanso semanal, o sábado, para que o Homem se lembrasse de que não é uma besta de carga. Todos precisaram integrar na vida a atitude de Maria. Descansar, repousar, festejar, tirar férias (etimologicamente, férias são dias festivos). Ah! E tempo para a beleza, e para a família, tempo para tomar uma cachacinha com os amigos, tempo para o silêncio, para o encontro consigo. Nestes tempos de dispersão, de corrida louca (para onde?), perigo maior é o do esquecimento de si e da alienação. Nestes tempos de falta de intimidade onde o outro é um estranho, tempos da perdição, precisamos do outro lado: cultivar a intimidade, dialogar na intimidade, lá no mais íntimo, com a fonte de ser e do ser. Ah! E ouvir o silêncio, lá onde se acende as palavras vivas e luminosas e o sentido do existir.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

ARTIGO - São Francisco, o santo que inspira o papa e a luta ambiental. (Padre Carlos)

 

Francisco, o servo perfeito da Dama Pobreza.

 


 

Hoje na minha oração diária, lembrei-me de Francisco e de uma frase que ele disse na sua passagem aqui na terra: “Conheço Jesus pobre e crucificado e isso me basta”, dizia o santo, cuja festa se celebra hoje (4). Para entender melhor este homem de fé, é preciso dizer que era um burguês, isto é, tinha muito dinheiro e gastava como muitos jovens da sua classe com ostentação. Francisco nasceu em Assis (Itália) em 1182, em uma família abastada e não fugiu a regra nem os anseios dos jovens da sua época.

Desta forma, em sua juventude, foi à guerra e acabou sendo feito prisioneiro. Logo depois de ser libertado, ficou doente até que escutou uma voz que lhe questionou: “Francisco, a quem é melhor servir, ao amo ou ao criado?”.  Retornou para casa e com a oração foi entendendo que Deus queria algo a mais dele.

Assim, começa a visitar e cuidar dos doentes e dos mais necessitados, chegando ao ponto de doar suas próprias roupas e tudo que tinha. Desta maneira foi criando no imaginário da igreja a espiritualidade que tanto encantou a Idade Média: seu espírito de pobreza, humildade e compaixão.

Certo dia, enquanto rezava na igreja de São Damião, pareceu-lhe que o crucifixo repetia três vezes: “Francisco, vai e repara a minha Igreja que, como vês, está toda em ruínas”. Então, acreditando que lhe pedia que reparasse o templo físico, foi, vendeu os vestidos da loja de seu pai, levou o dinheiro ao sacerdote do templo e pediu para viver ali.

O santo fez da pobreza o fundamento de sua ordem e o amor à pobreza se manifestava na maneira de se vestir e viver. Ao visitar Assis em 4 de outubro de 2013, o papa Francisco disse que são Francisco “dá testemunho de respeito por tudo, dá testemunho de que o homem é chamado a salvaguardar o homem, de modo que o homem esteja no centro da criação, no lugar onde Deus – o Criador – o quis; e não instrumento dos ídolos que nós criamos! A harmonia e a paz! Francisco foi homem de harmonia e de paz”.

 


segunda-feira, 3 de outubro de 2022

ARTIGO - Nós subestimamos este projeto quando havia só Bolsonaro. Agora que existe o bolsonarismo, não podemos subestimá-lo mais. (Padre Carlos)

Nós subestimamos Bolsonaro




Como poderíamos analisar os resultados deste primeiro turno e o que as urnas revelaram de tão sério, que deixaram parte da comunidade internacional preocupada com o Brasil? As eleições deste domingo revelou que somos muito mais que uma sociedade conservadora, ela deixa claro o avanço da barbárie sobre a nossa sociedade. Como professor de filosofia política, tenho a obrigação de estudar por necessidade do ofício a conjuntura política e a forma como a utradireita vem avançando no país, confesso aos senhores que não esperava que emergisse das urnas uma onda fascista tão forte e dura capaz de acender de novo nossas preocupações com o futuro democrático e como estas forças vão se posicionar em relação a uma derrota do seu candidato nesta eleição.

O resultado das urnas deste domingo surpreendeu pela pequena margem de diferença que separa Lula de Bolsonaro e o perigo que representa esta aproximação. A apuração dos votos revelou para a nossa surpresa que o bolsonarismo nunca esteve tão presente na sociedade brasileira, e que resistiu à má gestão da pandemia, à erosão de quatro anos de desgoverno e ao estilo truculento do Presidente governar.

Quando muitos analistas e eleitores acreditavam que o voto silencioso iria favorecer Lula, esse voto silencioso ou indeciso beneficiou Bolsonaro. Recorde-se que as últimas pesquisas (na semana passada), atríbuíam 35% das intenções de voto ao presidente. Bolsonaro obteve 43%”, o que equivale a mais de 51 milhões de votos e isto por si só já é o suficiente para oxigenar seus seguidores com a falsa campanha que as urnas foram violadas e a justiça estaria a serviço de uma grande fraude eleitoral.

Como entender o sucesso eleitoral dos ex-ministros de Jair Bolsonaro: Dos 17 que se candidataram a lugares elegíveis, nove foram eleitos deputados federais ou senadores, dois deles têm chances de serem eleitos governadores estaduais no segundo turno das eleições em 30 de outubro - Tarcísio de Freitas, ex-ministro das Infraestruturas de Bolsonaro, disputa o governo estadual de São Paulo com Fernando Haddad do PT, e o polémico Onyx Lorenzoni, ex-ministro da Casa Civil e da Cidadania, disputa o governo estadual do Rio Grande do Sul com Eduardo Leite do PSDB.

        Esta eleição tem se dado em um ambiente político marcado por crise e uma eventual fragilidade do governo, a maior ilusão para aqueles que fazem oposição a Bolsonaro e seu projeto foi à percepção de que isoladamente cada um poderia derrotar o Presidente em sua reeleição. Uma lição que fica para os cientistas políticos e os democratas de um modo geral é que nós subestimamos este projeto quando havia só o Bolsonaro. Agora que existe o bolsonarismo, não podemos subestimá-lo como fizemos neste primeiro turno. Para os brasileiros, este segundo turno será decisivo para que tenhamos possibilidade de reconstruir o Brasil e o Estado em patamares democráticos, justos e igualitários.

 

 

 

 


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...