Sensação de impunidade
Quando tomei conhecimento de um
levantamento feito pelo UOL, que quase metade do patrimônio em imóveis do
presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e de seus familiares
mais próximos foi construída nas últimas três décadas com uso de dinheiro em
espécie, entendi que está cultura é mais antiga que as fachadinhas que
conhecemos. Assim, desde os primórdios deste país, ocupar um cargo de poder no
Estado era visto como um caminho para o enriquecimento, pessoal e daqueles que
se encontravam mais próximos. Era assim na Monarquia, fazia parte da natureza
do regime. No Estado Novo, por sistema e sobrevivência, também não era
diferente – “Aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei“, Como dizia Getúlio, para perceber
como estava implantada a cultura da troca de favores.
Mesmo nas quase quatro décadas de
democracia multiplicaram-se as histórias de homens públicos que se rodeavam de
familiares ou conterrâneos nos serviços que dirigiam. Ou dos políticos que após
passagens pelo governo enriqueceram de uma hora para outra.
A nova Constituição busca criar uma nova
mentalidade sobre as coisas públicas e isto obrigou ao cumprimento de regras e
códigos de conduta que, pouco a pouco, eliminaram (não completamente) as
tradicionais trocas de favores e censuraram comportamentos que as gerações mais
antigas como a minha infelizmente presenciou – como é um desvio cultural, talvez
seja este o motivo que as novas gerações ainda vejam – como aceitáveis.
A lei passou a definir como crimes a contratação
de funcionários fantasmas para desvio de salários, que não existiam.
Surgiram as chamadas incompatibilidades, como forma de garantir que o Estado e
os seus recursos, que devem ser de todos, não sejam usados em benefício de
poucos. O aumento da transparência permite o escrutínio da ação do governo e da
administração pública. É cada vez mais difícil esconder comportamentos de favor,
ao mesmo tempo em que não se aceita mais favorecer ou a ser favorecido. Mesmo
com todos estes escândalos de Rachadinhas, a tendência hoje é reduzir cada vez
mais os chamados buracos na lei. É por isso incompreensível a sucessão de casos
neste governo e os escândalos que têm assolado o país. Bolsonaro foi eleito com
o discurso anticorrupção, no entanto, não passa um dia sequer sem se envolver
em escândalos criminosos. De superfaturamento de ônibus escolares a
interferência na Polícia Federal com o intuito de frear investigações contra os
filhos. .
A sensação que fica para os eleitores é que
está instalada a impunidade em Brasília. E Bolsonaro e seus aliados, para
sobreviver politicamente basta resistir de forma discreta até à explosão do
próximo escândalo que abafará o anterior.