domingo, 16 de outubro de 2022

ARTIGO - Está instalada a impunidade em Brasília. (Padre Carlos)

 


Sensação de impunidade



Quando tomei conhecimento de um levantamento feito pelo UOL, que quase metade do patrimônio em imóveis do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e de seus familiares mais próximos foi construída nas últimas três décadas com uso de dinheiro em espécie, entendi que está cultura é mais antiga que as fachadinhas que conhecemos. Assim, desde os primórdios deste país, ocupar um cargo de poder no Estado era visto como um caminho para o enriquecimento, pessoal e daqueles que se encontravam mais próximos. Era assim na Monarquia, fazia parte da natureza do regime. No Estado Novo, por sistema e sobrevivência, também não era diferente – “Aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei“, Como dizia Getúlio, para perceber como estava implantada a cultura da troca de favores.

Mesmo nas quase quatro décadas de democracia multiplicaram-se as histórias de homens públicos que se rodeavam de familiares ou conterrâneos nos serviços que dirigiam. Ou dos políticos que após passagens pelo governo enriqueceram de uma hora para outra.

A nova Constituição busca criar uma nova mentalidade sobre as coisas públicas e isto obrigou ao cumprimento de regras e códigos de conduta que, pouco a pouco, eliminaram (não completamente) as tradicionais trocas de favores e censuraram comportamentos que as gerações mais antigas como a minha infelizmente presenciou – como é um desvio cultural, talvez seja este o motivo que as novas gerações ainda vejam – como aceitáveis.

A lei passou a definir como crimes a contratação de funcionários fantasmas para desvio de salários,  que não existiam. Surgiram as chamadas incompatibilidades, como forma de garantir que o Estado e os seus recursos, que devem ser de todos, não sejam usados em benefício de poucos. O aumento da transparência permite o escrutínio da ação do governo e da administração pública. É cada vez mais difícil esconder comportamentos de favor, ao mesmo tempo em que não se aceita mais favorecer ou a ser favorecido. Mesmo com todos estes escândalos de Rachadinhas, a tendência hoje é reduzir cada vez mais os chamados buracos na lei. É por isso incompreensível a sucessão de casos neste governo e os escândalos que têm assolado o país. Bolsonaro foi eleito com o discurso anticorrupção, no entanto, não passa um dia sequer sem se envolver em escândalos criminosos. De superfaturamento de ônibus escolares a interferência na Polícia Federal com o intuito de frear investigações contra os filhos.  .

A sensação que fica para os eleitores é que está instalada a impunidade em Brasília. E Bolsonaro e seus aliados, para sobreviver politicamente basta resistir de forma discreta até à explosão do próximo escândalo que abafará o anterior.

 


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