É preciso coragem para trazer para
Igreja local uma renovação que estamos esperando a mais de cinquenta anos.
Ao tomar conhecimento da nomeação para o
cargo de Chanceler da Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Feira de
Santana, a reverendíssima Irmã Teresinha Mattos, fiquei comovido e esperançoso
porque percebi que desde
os tempos de Constantino, nunca a Igreja esteve tão livre do poder. Mas apesar
de está vivendo esta primavera de praga, não se libertou ainda do modelo
piramidal. Assim, parabenizo o Arcebispo Dom Zanoni Demettino Castro, pela coragem e
vontade de trazer para Igreja local uma renovação que estamos esperando a mais
de cinquenta anos.
Quando
chamo a atenção dos leitores para este fato, quero lembrar que a estrutura da
nossa Igreja não se adequa aos tempos atuais nem ao Evangelho, já que "a
Igreja somos todos nós". De fato, o que é que se constata? "A voz que
se ouve na Igreja é a voz de homens celibatários, enquanto a voz das mulheres e
a dos homens casados quase não se ouve. Temos de reconhecer que um organismo
que se diz católico, portanto, universal, onde mais da metade dos seus membros,
as mulheres, e a grande maioria da outra metade, homens casados ou solteiros, mas
não celibatários, quase não têm voz, é um organismo um pouco estranho. Raro.
Preocupante." Afinal, quem decide na Igreja e como? Poucos homens celibatários
e de idade muito avançada. Sim, a Igreja, que representa a sexta parte dos
habitantes do planeta, é "uma Igreja piramidal, com um Papa com poderes
praticamente ilimitados" ("monarca absoluto", diz o teólogo J.
M. Castillo), "uma Igreja gerontocrática, masculina, clerical, europeia,
Igreja que é governada, em última instância, por poucas pessoas: o Papa, os
bispos em exercício e a burocracia da Cúria Romana". O modo de tomada de
decisões na Igreja é "hierárquico, vertical, onde não brilha a
transparência, e com exclusão da maioria".
Nossa esperança está na nova geração dos
bispos e de uma renovação que crie no seu seio a possibilidade de vivenciar o
nosso batismo. Temos que vivenciar dentro da Igreja a Boa Nova de Jesus, para
podermos pregar e levar aos irmãos. Na Igreja, a função do Chanceler
é pouco conhecida e muitas vezes vista como um alto funcionário.
Entretanto, a função deve ser vista como um ofício necessário e importante para
a organização eclesial diocesana. .
A vocação profética deste bispo e homem de
Deus com este gesto e coragem de nomear esta religiosa, chama a atenção do
conjunto da Igreja da necessidade de nos libertarmos do modelo piramidal. Se houvesse
mais gestos corajosos como este, entraríamos verdadeiramente vivenciando o
Concílio Vaticano II, e entraríamos não só no novo milênio, mas na idade de
ouro do cristianismo.