quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

ARTIGO - Fico triste ao perceber que partilho um país com tiranos. (Padre Carlos)

 


A serpente estava chocando seus ovos nas portas dos quartéis.

 


Lembro-me, quando era estudante de filosofia, buscava entender os verdadeiros motivos que levavam os homens a cometerem os horrores que foram as Grandes Guerras Mundiais, agradecia por não ter nascido num tempo de tolos, e convencia-me de que aquilo eram apenas uns momentos históricos, palavras num livro antigo. Para minha surpresa, o tolo era eu.

Dia 8 de janeiro de 2023 é um dia que ficará gravado para sempre na nossa memória coletiva, como o dia que a direita fascista tentou golpear a democracia brasileira. Num ato que só pode ser descrito como sórdido e selvagem.

A minha pergunta é: porquê? E poupem o tempo para tentarem-me explicar as “razões” por detrás de todo este ato de terror, pois esta pergunta não tem resposta. Não existe qualquer tipo de conjugação de palavras possível, em qualquer um dos milhares de dialetos existentes neste planeta, que consiga preencher o vazio desta interrogação. Este “porquê?” é isso mesmo, um vazio. Uma incapacidade de conseguir construir qualquer tipo de linguagem comunicativa que permita responder a esta simples palavra. “Porquê?”, seguido de um silêncio melancólico e sentido, uma vez que essa é a única forma humana de reagir a esta pergunta.

George Orwell alegava que um dos maiores insultos que se poderia proferir acerca de alguém era “animalesco”. Essa é a palavra que deve ser usada para descrever as ações bolsonaristas. Aqueles que se encontrava em Brasília e qualquer tipo de ser que apoie um país governado por uma liderança baseada no medo, na opressão e na aversão a democracia. Em atos de violência que permitam criar uma sociedade desigual onde existe a “gente de bem” – poderosa e forte- e os “outros”- impotentes e fracos. Numa realidade onde a palavra “democracia” faz tanto sentido como a palavra “ditadura” fazia na minha infância.

E se fico triste ao perceber que partilho um país com tiranos que querem que a história se repita, fico feliz ao perceber que partilho também outro Brasil com pessoas justas e sérias que querem que o horror do fascismo jamais se repita. Para cada vilão existe um herói, sempre foi assim e gosto de pensar que assim sempre será. Vejo uma sociedade informada, inteligente e intolerável a qualquer tipo de supressão, e as manifestações que aconteceram nas portas dos quarteis por todo este Brasil, sirvam de alerta que a serpente esta chocando seus ovos.  

O pior disto tudo,  que esta nem se quer é uma luta destas bestas, é uma luta individual, uma luta de Jair Messias Bolsonaro e sua família. Por isso desengane-se quem diz que isto é uma guerra santa, não o é! É sim uma guerra entre a barbárie e a civilização. Por isto, manifesto e luto por aquilo que outras gerações lutaram para nos oferecer. Um mundo mais justo, sem privilégios, sem fome e que ponham em causa toda a nossa existência.

Pronto, agora que leio percebo que se calhar é pedir demais, por isto eu grito.

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