domingo, 15 de janeiro de 2023

ARTIGO - A principal luta ideológica do Brasil na atualidade é entre republicanos e patrimonialistas. (Padre Carlos)

 


A Senzala subiu a rampa






Dois fatos neste início de ano chamaram minha atenção para avaliar o que aconteceu de fato em Brasília. Foram eles que determinaram os acontecimentos que de certa forma irá a partir de agora nortear as ações e o comportamento das forças de segurança em relação à defesa do Estado de Direito. Oito dias separaram aquilo que está presente no imaginário dos brasileiros e determinaram o resultado das eleições.

Trazer para posse um dos pilares da xenofobia e o racismo, talvez tenha sido o ponto auto daquela festa. O presidente Lula sabia do simbolismo e da necessidade de trazer aqueles excluídos, tendo em vista o número de pessoas que são discriminadas, ridicularizadas, violentadas e até assassinadas por não terem recursos e por fazerem parte da desigualdade no país que cresce todos os dias. Na verdade, elas não querem mais ser órfãos de identidade. E subir a rampa do planalto símbolo de privilégio e de classe, deixava de determinar onde ficava a casa grande e a senzala!  Afinal, quem nós somos? Na sua sabedoria, o presidente Lula sabe que o Brasil precisa encontrar um eixo comum que suavize os conflitos e, neste momento de confronto, é necessário voltar ao passado para nos perguntarmos: dá para construir o Brasil com a matéria-prima que temos à disposição?

Infelizmente a classes dominantes brasileiras têm uma singularidade que as torna mais truculentas, preconceituosas e autoritárias que as outras: são filhas legítimas da Casa Grande e do desrespeito permanente aos trabalhadores, aos negros, aos pobres, as mulheres e a todas as minorias ao longo de nossa história. Uma identidade, para ser realmente sólida, preciso ser produto de um pacto, isto é, a sociedade tem que se reconhecer coletivamente nessa identidade como nação. E é isso que nos polariza tanto e que reflete uma intolerância, não aceitamos a senzala neste projeto nacional. E deixar a senzala subir a rampa deixou indignado estas pessoas.

Para entender os motivos que levaram os apoiadores do ex-presidente cometer os atos de vandalismo na Capital Federal, precisamos primeiro compreender que a principal luta ideológica do Brasil na atualidade não ocorre entre "direita" e "esquerda", mas entre republicanos e patrimonialistas. A disputa entre direita e esquerda arrefeceu porque, apesar das diferentes matizes ideológicas, os partidos de direita têm adotado posições de centro e na sua maioria fazem parte da frente democrática, com os partidos de centro esquerda. Assim, sem discurso consistente e com práticas igualmente condenáveis, o que restou foi uma utradireita, por isto a discussão ideológica mudou de foco. Hoje o embate se dá entre aqueles que querem um Estado a serviço da sociedade (republicanos) e aqueles que querem se apropriar dos bens estatais para uso pessoal, familiar ou partidário (patrimonialistas). Por isto, os manifestantes ao subirem a rampa do Congresso  gritavam: “o Brasil é nosso” e, na sequência, deram início aos atos de vandalismo destruindo os prédios públicos.

 

 

 

 

 


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