O
Pacto que fizeram diante do tumulo dos mártires.
A migração nordestina para o estado de São Paulo
foi um fenômeno social bastante expressivo ao longo do século XX, na sua
maioria passavam pela Serra do Perireri e aqui era a ultima parada antes de
deixar o Nordeste. Quando cheguei a Conquista e me deparei com aquela imagem de
Jesus Cristo, como se estivesse se despedindo dos seus filhos, Um Deus com
feições nordestinas, lembrando a situação econômica e social da população
sertaneja, que sofre com a seca, a fome, o trabalho duro e a miséria, me
alimentei da sua mística e devotei o meu ministério a este povo sofrido.
As leituras deste segundo domingo do Tempo
Comum me lembraram do sofrimento do nosso povo e nos coloca dentro de mais uma
Epifania. Toda a pessoa que precisava ir tentar a vida em outro lugar,
independente de qual povo pertencesse, era chamada de hebreia, ou seja, aquela
que atravessa o rio. Longe de suas casas, não raramente, eram escravizadas e
exploradas, sofrendo todo tipo de violência e sujeição. São estas pessoas
as quais Isaías se refere como “almas desprezadas, abominadas pelas
nações, servas dos que dominam” (Is 49,7) que Deus promete “cobrir com sua
sombra (…) guardar como flecha em sua caixa” (Is 49,2).
Como cristão não posso engrossar o couro
fechando os olhos para descriminação e dizer que o nosso país é cordial a
verdade é que não é. O xenofobismo contra os nordestinos nos últimos tempos tem
tomado conta da mídia de uma forma tão relevante e criminosa que, hoje os
xenofóbicos não fazem a menor questão de esconder seus preconceitos.
Certamente as pessoas que optaram por
seguir João Batista, que não tinha casa nem alimento, eram aquelas que nesta
vida não tinham mais esperança, largaram tudo para esperar em Deus. Ao verem o
Messias, diferente dos sacerdotes e poderosos que o ignoraram, estas pessoas o
seguiram, e Ele as levou para a sua morada (Jo 1,37-39).
João Batista apontou o Messias, mas também
foi para o Messias a porta de entrada para o deserto e encontro com os
anawins/pobres de Javé. Na Igreja há muitos papas, bispos, padres, diáconos,
leigos/as, missionários/as que no seu serviço eclesial deram suas vidas na
caminhada com os pobres e até hoje encontramos muitos irmãos sendo as portas de
acesso aos pobres de Deus. Somos fruto e semente do Pacto que fizeram
diante do tumulo dos mártires. Lutar pelo povo e defender a fé no Cristo
Libertador são vocação de mártires.
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