segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

ARTIGO - O segundo domingo do Tempo Comum e o Cristo de Mario Cravo. (Padre Carlos)

 

O Pacto que fizeram diante do tumulo dos mártires.

 


A migração nordestina para o estado de São Paulo foi um fenômeno social bastante expressivo ao longo do século XX, na sua maioria passavam pela Serra do Perireri e aqui era a ultima parada antes de deixar o Nordeste. Quando cheguei a Conquista e me deparei com aquela imagem de Jesus Cristo, como se estivesse se despedindo dos seus filhos, Um Deus com feições nordestinas, lembrando a situação econômica e social da população sertaneja, que sofre com a seca, a fome, o trabalho duro e a miséria, me alimentei da sua mística e devotei o meu ministério a este povo sofrido.

As leituras deste segundo domingo do Tempo Comum me lembraram do sofrimento do nosso povo e nos coloca dentro de mais uma Epifania. Toda a pessoa que precisava ir tentar a vida em outro lugar, independente de qual povo pertencesse, era chamada de hebreia, ou seja, aquela que atravessa o rio. Longe de suas casas, não raramente, eram escravizadas e exploradas, sofrendo todo tipo de violência e sujeição.  São estas pessoas as  quais Isaías se refere como “almas desprezadas, abominadas pelas nações, servas dos que dominam” (Is 49,7) que Deus promete “cobrir com sua sombra (…) guardar como flecha em sua caixa” (Is 49,2).

Como cristão não posso engrossar o couro fechando os olhos para descriminação e dizer que o nosso país é cordial a verdade é que não é. O xenofobismo contra os nordestinos nos últimos tempos tem tomado conta da mídia de uma forma tão relevante e criminosa que, hoje os xenofóbicos não fazem a menor questão de esconder seus preconceitos.

Certamente as pessoas que optaram por seguir João Batista, que não tinha casa nem alimento, eram aquelas que nesta vida não tinham mais esperança, largaram tudo para esperar em Deus. Ao verem o Messias, diferente dos sacerdotes e poderosos que o ignoraram, estas pessoas o seguiram, e Ele as  levou para a sua morada (Jo 1,37-39).

João Batista apontou o Messias, mas também foi para o Messias a porta de entrada para o deserto e encontro com os anawins/pobres de Javé. Na Igreja há muitos papas, bispos, padres, diáconos, leigos/as, missionários/as que no seu serviço eclesial deram suas vidas na caminhada com os pobres e até hoje encontramos muitos irmãos sendo as portas de acesso aos pobres de Deus. Somos fruto e semente do Pacto que fizeram diante do tumulo dos mártires. Lutar pelo povo e defender a fé no Cristo Libertador são vocação de mártires.

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