Ou
os homens perdoam uns aos outros ou terão de criaram o inferno aqui na terra.
Mesmo sabendo que alguns temas não
correspondem os interesses de certos leitores, não posso deixar de abordar
neste espaço as inquietações do presente e o futuro do cristianismo. Depois de
abordar as mudanças que o Concílio representou para a Igreja no século passado
não podemos deixar de chamar a atenção para a necessidade de uma série de
reformas urgentes que a Igreja está precisando neste novo milénio e como
podemos abrir esta discussão no meio acadêmico e clerical.
Hoje, os cristãos podem mais seguramente
afirmar: ou os homens perdoam uns aos outros ou terão de criaram o inferno aqui
na terra. Hoje, temos a dimensão que vivemos numa aldeia planetária e esta
certeza tem levado o homem a entender que somos forçados a serem solidários uns
com os outros e, para não morremos, estamos condenados a unir-nos e a criar um
governo mundial que tenha os meios de ser obedecido.
Como Igreja, precisamos "inventar o
futuro": a partir do caminho da comunidade de fé, à luz da história e
seguindo e exprimindo as inquietações do nosso tempo. Para aprofundar este tema
vou me apropriar da pergunta que Jean Delumeau fez: "Qual
é o futuro de Deus?" Ora, quando abrimos o debate a respeito da crise atual
do cristianismo e da Igreja, na difícil dialética cristianização-descristianização,
podemos cometer a gafe de esquecer que, antes do século XIV, a Europa, segundo,
G. Duby, não apresentava” aparências de uma cristandade. O cristianismo não era
plenamente vivido senão por raras elites." Lutero também escreveu:
"Temo que haja mais idolatria agora do que em qualquer outra época."
Por isto concordamos com Delumeau da necessidade que estas reformas transcenda
a eclesiologia e possa chegar a outras áreas, para não cair na tentação de
certas idealizações e dogmatismos. Por isto, hoje para a Igreja é mais importante
"desaprender", não idealizar o passado.
Temos que entender que o grande mal do
cristianismo ao longo da história sempre foi a sua ligação ao poder. Até hoje
vivemos as consequências de uma das mais trágicas falsas vias para as Igrejas
cristãs que foi depois do fim das perseguições, a ligação entre o poder
imperial romano e a hierarquia eclesiástica, simbolizada e fortificada pela
coroação de Carlos Magno pelo Papa.
Não podemos esquecer que sempre houve, no
Império Romano e fora dele, ligação entre os poderes religiosos e político.
Foram, por isso, necessários muitos séculos e conflitos incessantes para que “o
religioso e o político aceitasse por fim distanciar-se um do outro, num
equilíbrio, aliás, instável e que é necessário reajustar continuamente”. De
qualquer modo, desde o início do século IV, a Igreja tornou-se um poder. Ora,
esta relação perigosa, que durante muito tempo alimentou uma visão distorcida
do serviço do sacerdócio, ainda não terminou.
A pesar do testemunho de fé e santidade de
muitos missionários durante a colonização em todo o mundo, temos que admitir
que a sua grande fraqueza fosse constituída em poder.
Por isto, não podemos falar em um novo
Concílio sem falar em abandonar o poder. Só assim, praticando a humildade a
Igreja conseguirá de novo convencer e dar-se a si mesmas novas estruturas mais
flexível do que no passado e, portanto, capazes de evoluir.
Devemos nos perguntar: como foi possível o
movimento iniciado por Jesus ter hoje um Vaticano?! Seja como for, podemos
dizer, a história é o que é e o que se impõe é uma revolução, com modos
democráticos de governo eclesial, para a simplicidade, a transparência, o
serviço. Cardeais e bispos não são "príncipes" nem podem viver como
"faraós", diz Francisco. E as nunciaturas só poderão justificar-se
enquanto serviços humildes de pontes para o diálogo e a paz mundiais.