domingo, 5 de fevereiro de 2023

ARTIGO - A Teologia Política de Metz (Padre Carlos)

A Teologia Política de Metz



Faz quatro anos que perdemos um dos grandes teólogos dos últimos tempo, Johann Baptist Metz. Durante alguns dias fiquei meditando se deveria fazer este artigo, já que a maioria dos meus leitores não tiveram contato com o seu pensamento filosófico e teológico. Diante desta dúvida, fiquei matutando nesta questão e enquanto pensava na situação desumana que os yanomamis estão vivendo, bem como as mortes de crianças e idosos em decorrência da desnutrição grave causada pela fomea pergunta de Metz para humanidade não saia da minha cabeça: "Como se pode falar de Deus depois de Auschwitz?" Falar de Metz, para quem não  foi um teólogo ou um católico, não será fácil, mas vamos tentar assim mesmo.
Quem não viveu os horrores da guerra, não tem ideia como esta ferida perpassou no imaginário do povo europeu. Desta forma, não poderia surgir uma Teologia Política como foi concebida por Metz, se o seu público não tivesse sido testemunha ocular de toda aquela barbárie para entender a importância da vida e da existência do ser. Com isto, gostaríamos de lembrar aos leitores, que os elementos da natureza teológica do nosso pensador, não poderia ser outro como: os que sofrem, os famintos, os injustiçados, os excluídos, os explorados de todas as maneiras, as crianças e as mulheres violentadas e todas as vítimas deste mundo. Só quem caminha com os oprimidos, aqueles e aquelas que foram vítimas, sem resposta dentro da História, poderá ouvir o seu clamor. Temos uma dívida para com as vítimas da História; quem poderá pagá-la a não ser Deus?

 As peças centrais, para entendermos o sentido humanista desta teologia não poderia ser outra. Durante muitos anos, foi professor de Teologia Fundamental e  aluno de Karl Rahner. Buscando resposta para as perguntas que povoava sua mente e buscando transcender a teologia da sua época, desfiliou-se da teologia transcendental de Rahner, em troca de uma teologia fundamentada na prática. Metz está no centro da escola da teologia política que influenciou fortemente Gustavo Gutiérrez Merino o teólogo peruano e sacerdote dominicano, considerado por muitos como o fundador da Teologia da Libertação, bem como o brasileiro, Leonardo Boff.   Ele foi um dos teólogos alemães mais influentes no pós Concílio Vaticano II. Seus pensamentos giraram ao redor da atenção fundamental ao sofrimento dos excluídos. As chaves de sua teologia é memória, solidariedade e narrativa.



Foi um dos fundadores da Revista Concilium. Metz morreu no dia 2 de dezembro de 2019 aos 91 anos.
A Teologia da Libertação deve muito a este pensador alemão. Pode ter certeza que você fez a diferença aqui nesta terra.
 Saudade do mestre!

Padre Carlos

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

ARTIGO | Penso, logo escrevo! (Padre Carlos)*



Penso, logo escrevo!
           


            Os artigos que tenho publicado é fruto da experiência de quarenta anos de militância política. Na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, busco com minhas ferramentas de linguagem, "dialogar" com o leitor. Na verdade o que eu quero mesmo é provocar reações em nossos leitores, que ele saia de sua inercia. Sim, nestes espaços que criamos, queremos esporar, estimular, avivar, espicaçar, incitar, incentivar o animal (politico, como bem demonstrou Aristóteles).
            Com isto, faço com que as minhas crônicas apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: da minha visão dentro da filosofia política. Ao desenvolver meu estilo e ao selecionar as palavras que utilizo em meus textos, me imagino como um artesão das palavras, esta sensação de operário da linguagem filosófica, me impulsiona na busca da metáfora correta, na forma certa e a simetria perfeita. 
            Desta forma, busco transmitir aos leitores a minha visão de mundo, desta temporalidade vivida na militância política e no ministério presbiteral. É assim que exponho de forma pessoal tentando fazer os leitores compreender os acontecimentos que me cercam. Em geral, nas minhas crônicas apresento uma linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique, se tornando assim, o porta-voz das nossas ideias.
            Só um apaixonado pode sentir estas emoções pelo mundo da política e da filosofia. Desta forma, não existem fronteiras entre os escritos de Platão e a literatura Camus, o realismo e o irracional, a ficção e a filosofia. Todas estas linguagens são de fundamental importância, no meu trabalho para tentar fazer desta matéria de estudo, uma ferramenta acessível para todos.


Padre Carlos


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

ARTIGO - O retorno do PP as base do governo está condicionado à saída de Leão da presidência da sigla. (Padre Carlos)

 

A fome foi de leão, mas o peixe morreu foi pela boca.

 

 

 

Apesar de a metáfora ser uma figura de linguagem em que são usadas palavras ou expressões em um sentido diferente do habitual, no casso do ex-governador da Bahia e do seu filho a expressão "fome de leão" tem tudo haver com a sede pelo poder e a necessidade de fazer política com a estrutura do estado. Esta fome não vem de hoje, já em 2018 o Ex- Deputado Federal Cacá Leão, quando sentiu que as mudanças a nível nacional poderia chegar à Bahia, tentou fazer esta aliança, mas foi impedido pelo pai que apesar da fome fazer parte da natureza do leão, seus cabelos brancos e os anos de experiência sinalizaram para que o grupo tivesse mais prudência e não agissem por impulso. Infelizmente em 2022 sua lucidez e astucio na política foi traída pelos institutos de pesquisas que divulgavam que o ex-prefeito liderava a disputa pelo governo estadual e que venceria no primeiro turno se a eleição fosse naquela data. 

Diante de tal cenário e ouvindo as avaliações que seu filho fazia, o vice-governador decidiu de forma errada sair da base do governador Rui Costa (PT)  para apoiar o candidato a governador oposicionista, ACM Neto (UB). Infelizmente Leão deu um tiro no pé e cometeu outro grande erro que levaria a impossibilidade de qualquer reconciliação. Nas eleições do ano passado, Leão, além de apoiar ACM Neto (União) para governador do estado, decidiu se juntar às fileiras do então presidente Jair Bolsonaro (PL), contra a candidatura de Lula. Este talvez tenha sido seu grande erro quando declarou voto no presidente Jair Bolsonaro. Deputado federal eleito, Leão disse que “tomou juízo” e espera que os baianos o sigam no apoio ao chefe do Executivo, no segundo turno. 

Quem faz parte do Méier da política sabe como é difícil um deputado se reeleger se não estiver aliado ao governador e fazendo parte do governo. Por isto, a bancada do PP na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) se reuniu, nesta terça-feira (31), e decidiu que não mais integrará o grupo de oposição na Casa, retornando à base de apoio ao governo do estado. A decisão foi tomada com a participação dos seis deputados estaduais da legenda: Antônio Henrique Jr., Eduardo Salles, Felipe Duarte, Hassan Josef, Nelson Leal e Niltinho.

Com a derrota do ex-prefeito de Salvador e a manutenção dos petistas no poder, a legenda não teve alternativa a não ser se juntar novamente ao governo de Jerônimo.

Leão sabia que um simples movimento mudaria o jogo completamente. Um passo em falso e ele poderia perder tudo o que tinha sobre a mesa da política. E, embora fosse mais político que jogador, confiou na jogada e usou como semi-blefe. Infelizmente os posicionamentos do ex-presidente do partido fez o ex-governador Rui Costa (PT), hoje ministro da Casa Civil no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), estabelecer um veto à presença de Leão no grupo que hoje comanda a administração estadual na Bahia.

Por isto, se a fome é de leão, o peixe morre pela boca.

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

ARTIGO - Aldo Rebelo defende a regulamentação de garimpo em terras indígenas. (Padre Carlos)

 

Cabo Anselmo dos povos yanomami

 


Em primeiro lugar gostaria de deixar claro que não estou comparando o militante histórico, Aldo Rebelo com um agente infiltrado das forças de repressão do governo militar, mas confesso aos senhores que a decepção de ouvir de um homem público com um histórico progressista, defender as propostas da ultradireita sobre a legalidade de garimpo nas terras indígenas, me indignou e me sentir traído diante de tudo o que ouvir. Quando um amigo me enviou um vídeo de Rebelo defendendo a regulamentação de garimpo em terras indígenas, entendi naquela hora que não se trata de uma simples opinião de um leigo, mas de um ex-ministro da Defesa e quando ele emite o uma opinião como esta sobre a trágica condição dos yanomami de Roraima, esperamos uma defesa da vida e dos povos indígenas. Na contramão das denúncias recentes, Rebelo criticou a "demonização" dos garimpeiros, disse que a condição de penúria dos indígenas é antiga e duvidou que houvesse cumplicidade das Forças Armadas.

Eu acreditava que chegaria um tempo na vida, que a gente aprenderia que ninguém mais teria a capacidade de nos decepcionar, engano nosso. Nós colocamos expectativas demais sobre as pessoas e quando elas revelam a sua fraqueza terminamos ainda nos chocando, acredito que ainda enxergava aquele companheiro da década de 70 e referencia de toda uma juventude um quadro progressista.

Um dos fatos que chamaram nossa atenção foi à defesa que ele fez na condição de ex-ministro da Defesa as Forças Armadas, apesar destas estarem sendo acusadas de cumplicidades com os invasores de não coibiram o avanço dos garimpeiros ilegais, uma dessas comunidades de garimpo está colada a um quartel do Exército.

Confesso aos senhores que este vídeo me pegou de surpresa e o que me deixou mais triste neste fato todo, foi ouvir de um camarada da década de setenta militantes histórico da esquerda dizer que é a favor da legalização dos garimpos nas terras indígenas e que a tragédia dos yanomamis não é novidade. O que me chocou mais foi o discurso bolsonarista e a falta de sensibilidade com a situação desumana que os yanomamis estão vivendo, bem como as mortes de crianças e idosos em decorrência da desnutrição grave causada pela fome, malária e infecções respiratórias, nada disso foi o suficiente para Rebelo se posicionar em favor da vida.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

ARTIGO - De que adianta saber a verdade, se não tivermos coragem de punir os militares? (Padre Carlos)

 

A esquerda precisa aprender a lidar com os militares

 


Apesar das muitas análises a respeito dos últimos acontecimentos em Brasília, não posso deixar de admitir que fazer uma abordagem da nossa conturbada conjuntura, onde sobram indagações e incertezas, esta ligada diretamente ao quadro de impunidade com relação a alguns militares envolvidos em ações relacionadas aos atentados de oito de janeiro e as insubordinações ao atual governo.

Um fato inusitado que ocorreu durante a tentativa de golpe por partes de militantes da Ultradireita e ainda não foi totalmente esclarecido, foi à forma como os criminosos foram protegidos.   Buscando refúgio, bolsonaristas se dirigiram para o acampamento golpista montado há meses em frente ao Quartel-General do Exército Brasileiro. A imprensa e representantes da comunidade que acompanhavam o desfecho acharam que diante dos acontecimentos, a tropa iria agir com rigor, infelizmente o Exército entrou em ação, não para prender os responsáveis da invasão das sedes dos Três Poderes, o "Braço forte, mão amiga", entrou na luta para impedir a entrada da Polícia Militar no acampamento golpista em frente ao seu quartel-general, em Brasília. Imagens de dois blindados deslocados para frente do quartel tinha como objetivo mostrar que o comando falava sério e estavam dispostos a tudo para proteger aquelas pessoas. Este comportamento dos militares chocaram o Brasil e o mundo que não entenderam o comportamento do Exercito brasileiro.  Diante disso, a pergunta que não quer calar é: quem são as pessoas que o Comandante estava protegendo?

Essa suposta ação dos militares do Exército, obviamente realizada sob o comando de autoridades superiores, demonstra além de uma intenção mesmo involuntária de dar abrigo a criminosos, uma afronta ao Poder Público constituído, nesse caso, aos Três Poderes da República covardemente atacados.

Não podemos esquecer que o Brasil ao anistiar esses criminosos possibilitou que as forças armadas continuassem a articular golpes de Estado como ocorreu em 2016 e pudessem tutelar a República como ocorreu no governo de Temer e no governo Bolsonaro. Quem trabalha ou milita no métier da política sabe que o General Villas Boas foi um dos articuladores do golpe de 2016 e do retorno da República a tutela militar.

Apesar de não concordar com a forma e métodos do governo passado, tenho que admitir que não se pode negar que Jair Bolsonaro sabia lidar muito bem com os milicos. Da exoneração humilhante do general Santos Cruz, acompanhadas das demissões, também desonrosas, dos generais Rêgo Barros e Silva e Luna, culminando com a substituição coletiva dos comandantes das três Forças Armadas – após estes não se alinharem com suas ideias golpistas –, Bolsonaro impôs e demonstrou toda a sua autoridade como comandante supremo dos fardados. O mesmo não podemos falar da esquerda que nunca soube lidar com os militares, sempre fazendo concessões e deixando a besta chocar seus ovos. Diante disso, de que adianta saber a verdade, se não tivermos coragem suficiente para punir.

 


domingo, 29 de janeiro de 2023

ARTIGO - A dor de uma mãe ( Padre Carlos )





A dor de uma mãe


            Durante o período que exerci o ministério presbiteral, trouxeram-me uma senhora para falar comigo. Pensei naquele momento que se tratava do Sacramento da Reconciliação, mas quando ela começou a falar, entendi e emocionei-me com tamanha dor que aquela senhora de corpo frágil e um semblante distante trazia na alma.
     
       Quando aquela mulher começou a relatar tudo o que aconteceu, veio-me na hora a imagem de Maria aos pés da Cruz, quando ela abraça seu filhinho, aquele que ela amamentou e viu crescer e tornar-se homem.
            Padre Carlos, disse ela: “A minha dificuldade não é pela minha dor da perda, é pela raiva, pela revolta de ele não poder viver mais”, começou por dizer. O que me deixa mais indignada são as frases feitas de pessoas cheias de boas intenções: “sei o que isso é” (como gostaria de dizer: não sabe não, só eu sei o que estou sentindo!); “tenha força!” (você sabe o que estou sentindo? Não tenho, a dor é intensa e é muito grande para suportar!); “pensa noutra coisa” (não penso e não quero só a lembrança de minha perda me consola!); “tem que andar pra frente” (não consigo, não vejo perspectiva sem conviver com minha perda!); “está no céu” (mas eu estou aqui e vivo, sofrendo!).
            Depois que ouvir de forma atenta e paciente, falei com aquela pobre mulher: a perda de seu filho criou em você uma experiência de grande impacto emocional, que obrigam vocês a repensarem quem são de fatos, qual é o significado das suas vidas e como é que vocês como família, a partir deste momento, vão conviver com a memória dele e como ele pode continuar a fazer parte das vidas de vocês, agora de uma forma diferente. O importante disto tudo, é entender que o sofrimento não poderá jamais lhe obrigar a querer desistir de lutar, estes é um dos erros que cometemos o de querer viver somente do passado e a desistir do futuro. O retorno às atividades profissionais é terapêutico e eleva a nossa alma. Temos que ser forte para assumir a nossa perda, desta forma poderemos assim, evitar futuras doenças físicas, psíquicas, espirituais... Não é garantido que quem cala consente. Até porque ninguém aqui esta se calando, mas aprendendo a conviver com a sua perda de outra forma.
   

         Conversamos mais de uma hora e depois ela beijou a minha mão e foi embora. Nunca mais encontrei aquela senhora, acredito que tenha superado e retornado as suas atividades acadêmicas.
            Durante muitos anos, dediquei-me ao trabalho e a defesa dos direitos humanos, através da pastoral carcerária, mas uma  das pastorais que eu sinto falta na Igreja, é com certeza a que se preocuparia em proporcionar um lugar para quem está em luto, isto é, um centro de escuta e acompanhamento espiritual. Um lugar  de encontro, de escuta, de fraternidade, de oração, de misericórdia, de perfume e de esperança cristã... no caminho de Emaús!




Padre Carlos.

sábado, 28 de janeiro de 2023

Artigo - Papa esclarece declarações sobre homossexualidade e pecado. (Padre Carlos)

 Quem criminaliza a homossexualidade está 'equivocado', diz papa.

 


O Papa Francisco esclareceu, neste sábado, as suas palavras sobre homossexualidade e pecado, afirmando que se referia à visão da igreja de que qualquer ato sexual fora do casamento é pecado. Quando disse esta frase, ele tinha como objetivo condenar a criminalização da homossexualidade, por isto foi saudada por muitos ativistas LGBTQ, mas houve também aqueles que levantaram a questões que para o Papa ser homossexual era em si um pecado. Mesmo o Papa falando que “também é pecado não ter caridade uns para com os outros”, não foi o bastante para que alguns membros da impressa dissessem aos quatro cantos, que o Papa considerava a Homossexualidade um pecado.

Diante das interpretações que deram a sua fala, o Papa Francisco reafirmou que a homossexualidade "não é crime" e disse que se pronunciou sobre o assunto "para enfatizar que a criminalização não é boa, nem justa". "Quando eu disse que é pecado, estava simplesmente referindo-me ao preceito moral católico, que diz que todo ato sexual fora do casamento é pecado", escreveu Francisco, em espanhol, sublinhando a frase final.

Desta forma, Francisco reconheceu que poderia ter sido mais claro com as suas palavras, o Papa justificou: "Como podem constatar, eu estava repetindo algo em geral. Eu deveria ter dito: “É pecado, como qualquer ato sexual fora do casamento”. Isso para falar da questão do pecado, mas sabemos muito bem que a moral católica não só leva em consideração o assunto, mas avalia também a liberdade e a intenção. E isso serve para todo tipo de pecados".

 O Papa mostra a face de um Deus misericordioso levando os fiéis a entenderem as suas atitudes e posturas de um homem que encarnou os sentimentos do Evangelho e se tornou um pastor, como ele mesmo costuma dizer, com o “cheiro das ovelhas”.

 

 

 


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...