segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

ARTIGO - Devemos despir o Papa das últimas vestes de César? (Paadre Carlos)

 O Papa precisa ser chefe de Estado?



 

O início do século XX foi marcado por um período de mudanças, políticas e sociais. Essas mudanças  no cenário político global, fez com que muitas monarquias viessem a baixo. Os ventos republicanos que sopraram em todo o velho continente não chegaram aos morros do Vaticano. Pensamentos como este só puderam ser abordados de forma superficial meio século depois, já no Vaticano II.

Quem conhece um pouco de eclesiologia, sabe que a Igreja é a única instituição verdadeiramente global, com um mandatário divino, que é também chefe de Estado. Assim, diante das reformas que Francisco pretende para todo o corpo eclesial, nos perguntamos: Que sentido tem que o Papa sendo chefe da Igreja, seja também um chefe de Estado? Depois do Vaticano II, com o aggiornamento de uma possível era republicana na cúpula da Igreja Católica, é admissível ou não a natureza político-constitucional e jus-internacional da própria Igreja e do seu representante? Não seria o momento de separar as dimensões de poderes e despir o Papa das últimas vestes de César? Não seria esse o próximo passo da Igreja no caminho do despojamento e do desprendimento? Para avança na questão do poder, não deveríamos enfrentar de frente a "despolitização" do Vaticano e da Igreja e  se entregar à sua verdadeira missão  espiritual e pastoral?

Confesso a vocês que pensava também desta forma e nas abordagem o militante incendiário da minha juventude se misturava numa simbiose com o teólogo, mas quando olhamos para as contribuições do Papa e da rede diplomática do Vaticano a serviço da paz e da justiça, na defesa da dignidade das pessoas (refugiados e marginalizados), na denúncia do capitalismo selvagem, das perseguições e violências, eu me  perguntei: O mundo estaria melhor e os homens viveriam melhores se a Igreja não dispusesse deste aparelho de Estado?

   Não há dúvida que a Igreja esteja precisando de uma reforma. Por isto,  chamamos a atenção dos mais jovens para não cairem na tentação e erros das gerações passadas que achavam que reformar é abandonar tudo aquilo que é tradição.  Não devemos exigir nem incentivar o abandono de um dos grandes ministérios de que dispomos para servir a Humanidade - a sua diplomacia em favor da justiça e da paz, decorrente do reconhecimento internacional da sua natureza de Estado.

Assim quando o Papa Francisco visitou a República Democrática do Congo e no Sudão do Sul, massacrados pela violência, pela exploração, numa dor sem fim. Este enviado de Deus num esforço fisicamente tão penoso se ajoelhou diante dos três líderes do Sudão do Sul e lhes beijou os sapatos, suplicando um esforço para avançarem na paz.

Um chefe de Estado que se coloca a serviço da paz e não busca o poder nem reconhecimento. Como disse o Santo Padre: "Se vivermos para "nos servirmos" do povo em vez de "servir" o povo, o sacerdócio e a vida consagrada tornam-se estéreis. Não se trata de um trabalho para ganhar dinheiro ou ter uma posição social nem para resolver a situação da família de origem, trata-se de serem sinais da presença de Cristo, do seu amor incondicional, do perdão com que quer reconciliar-nos.”.

Que o Espírito Santo nos dê entendimento para que saibamos reformar a Igreja preservando o que há de mais sagrado na sua essência que é o serviço.  "Não somos os chefes de uma tribo, mas pastores compassivos e misericordiosos; não somos os donos do povo, mas servos que se inclinam a lavar os pés dos irmãos e irmãs."

 

 

 




sábado, 11 de fevereiro de 2023

ARTIGO - Um dia você pode acordar e perceber que perdeu um verdadeiro amigo. (Padre Carlos)

 

Dê valor a quem gosta de você.

 



Uma das coisas que eu mais gosto nesta vida é me lembrar dos amigos. Lembro-me de cada um deles em cada fase da minha vida. Assim, tem os amigos da  infância na Pituba, da minha adolescência na Paróquia de Santo André, da CVX, da minha caminhada como militante, os amigos dos seminários de filosofia e teologia e tantos outros que fui conquistando ao longo nesta vida. Afinal, qual a graça se não pudermos  guarda-los como algo bom, que nos ajudará a escrever uma nova pagina  do livro das nossas vidas.

 

Vivemos em um mundo carente de amor e transparência, mas não digo isso apenas das relações amorosa, Eros, da paixão, do amor erótico, mas da Ágape, do amor que se doa, do amor incondicional, do amor que se entrega do amor entre amigos. Como estamos nos relacionando com as pessoas que gostam da gente? Como estamos tratando as nossas amizades? A forma com que abdicamos de está com eles devido o corre-corre do dia a dia, terminamos  deixando pra traz, muitas coisas boas de lado. Assim, quando acontecem as perdas, terminamos  ferido e sangrando nossa alma, âmago, e espirito! Um exemplo claro são as desculpas que damos para rever quem amamos. Eu quero isso, mas não consigo (Não consegue? Por qual motivo?)  Note como é mais fácil criar justificativas, e nisso sonhos são abdicados, e vidas são consumidas por uma desculpa que você mesmo criou, triste não?

 

Da mesma forma que justificativas são criadas, vejo frequentemente a facilidade de descartar os amigos que se encontram distante. Aquele amigo de longa data que você abandonou por ter perdido o contato no celular, aquele amigo que sempre esteve do seu lado em momentos difíceis e você se afastou por colegas de contextos momentâneos, a amizade que no calor da discussão política entrou em crise e acabou isso é triste, percebo que as novas gerações não entendem o valor deste carinho, por Isto suas relações são instáveis, não se vê amizades de longa data, amigos duradouros, e sonhos construídos com esperança e esforço, mas sim a presença constante do comodismo e de relações construídas na mentira que da mesma forma que começaram terminaram.

 

Por isso sempre questiono os meus amigos para não entrarem nesta dinâmica. Quem nasceu na década de cinquenta e sessenta, não foi feito com este barro. Esta nova geração com as quais nos  deparamos e que tentam nos mostrar caminhos e alternativas fáceis, pessoas de sorrisos fáceis, amizades fáceis, sentimentos fáceis, amores fáceis, para ser sincero isso assusta. Mas em compensação quando abraçamos e queremos bem, pode ter certeza que é verdadeiro, se somos  amigos temos que ser mais presente, é está magia que fará com que  a nossa mão seja estendida no decorrer do tempo, pois sei o quão difícil foi tê-la em um mundo em que interesses vencem amizades, se for verdadeiro o sentimento  não teremos medo de  perde-lo, pois saberemos o quanto foi difícil encontrá-lo ou tê-los como meu amigo.

 

Valorize quem gosta de você. Esse é o conselho mais sábio do mundo, deveria ser adotado por todas as pessoas independente do sexo e da idade. Mesmo que você ache que não gosta na mesma proporção, ou até mesmo que não gosta, pois você pode estar redondamente enganado(a) e perceber isso tarde demais... Ou pelo fato do amigo sumir e você não mais conseguir contato, ou quem sabe até, por ele já não estar mais entre os vivos. Dê valor a quem gosta de verdade de você.  Valorize e mantenha-o por perto. Pois um dia você pode acordar e perceber que perdeu um verdadeiro amigo enquanto dava valor a amizades momentâneas, de sentimentos superficiais... E, talvez, você acorde tarde demais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

ARTIGO - O encontro do Papa Francisco com a CNBB. (Padre Carlos)



"Peço a Nossa Senhora Aparecida que proteja e cuide do povo brasileiro.” Papa Francisco.  

 


Um dos fatos que tem chamado minha atenção é a forma como o Para Francisco vem renovando a Igreja do Brasil e a nova face que o nosso episcopado vem ganhando neste papado. (Quando os membros da Presidência junto com os assessores da CNBB) se encontraram com o Papa Francisco nesta quinta-feira, nove de fevereiro entenderam o carinho e a atenção que Francisco tem pela nossa Igreja e o Brasil. A preocupação do nosso Papa com os brasileiros foi sentida na mensagem enviada em outubro, quando o papa Francisco pediu para que Nossa Senhora Aparecida, a padroeira brasileira, protegesse o Brasil e livrasse o país do "ódio" e da "intolerância". "Peço a Nossa Senhora Aparecida que proteja e cuide do povo brasileiro, que o livre do ódio, da intolerância e da violência.

         Os membros da direção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e seus assessores se reúnem todos os anos no Vaticano, em Roma. Além da visita anual ao Pontífice, este encontro ressalta a universalidade da comunhão que traduz no dia-a-dia do conjunto dos cristãos, ela é para a Igreja a unidade e a fraternidade, na vida, na prática cristã.

O carinho do Papa pela Igreja do Brasil me fez lembrar Dom Helder e tudo o que ele pensou quando idealizou esta Conferencia. Fundador da CNBB foi ele quem apresentou, em 1950, a proposta de colegiado de bispos brasileiros ao então integrante da secretaria de Estado do Vaticano, monsenhor Giovanni Battista Montini, que seria eleito papa Paulo VI.

Na agenda também faz parte os trabalhos e visitas aos Dicastérios que integram a Cúria Romana, isto é os departamentos do governo da Igreja Católica que compõem a Cúria Romana. Entre os dicastérios estão: a Secretaria de Estado, as Congregações, os Tribunais Eclesiásticos, Conselhos, Ofícios, Comissões e Comitês. 

ARTIGO - Joe Biden recebe Lula na Casa Branca nesta sexta-feira. (Padre Carlos)



Não concordamos com a liderança dos Estados Unidos, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.

 


Joe Biden vai receber Lula na Casa Branca esta sexta-feira, naquele que será um encontro simbólico de dois chefes de Estado que derrotaram populistas de direita nas urnas. Lula vai aproveitar a viagem aos Estados Unidos para visitar seu amigo Bernie Sanders

Quando o Presidente Joe Biden telefonou para prestar solidariedade ao presidente Lula um dia depois dos violentos ataques às sedes dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro, aproveitou para convidar o nosso presidente a visitar os Estados Unidos. Lula aceitou o convite e viajou para Washington exatamente um mês depois de Biden o ter convidado. O encontro entre os dois presidentes está previsto para o final da tarde de sexta-feira, na Casa Branca.

O assunto da agenda está relacionado ao combate às alterações climáticas, defesa da qualidade ambiental e da floresta amazónica. Estes pontos são consensuais dos dois chefes de Estado. Acreditamos que exista um ponto fora da agenda que o governo Lula com certeza discordaria e este esta relacionado ao apoio e fornecimento de armamento à guerra da Ucrânia.

O Governo brasileiro condena firmemente a guerra da Ucrânia, mas, apesar disso, jamais colocaria em risco o capital político que conquistou com Pequim e Moscou neste momento.  Biden não vai conseguir uma declaração de Lula nesse sentido. Não podemos esquecer que o Presidente Lula recusouo pedido feito pelo chaanceler Olaf Scho no final de janeiro, para o Brasil enviar tanques para a Ucrânia. Por mais que Biden insista no armamento para Kiev, ele há de entender que a atitude de cada país faz parte das decisões soberanas que as nações têm de tomar.

Além disso, o Brasil e Rússia são ‘pais fundadores’ dos BRICS — (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.) Estes cinco paí­ses representam uma fatia substancial da população e do comércio mundiais, e acima de tudo, partilham uma mesma visão sobre a necessidade de reforçar a influencia política dos seus Estados. A política e os interesses estratégicos de cada um dos cinco membros ditam o funcionamento do clube dos BRICS: E sabendo que precisa se cercar de pessoas de sua confiança, Lula pretende substituir o presidente do Banco dos BRICS, o economista Marcos Troyjo pela ex-presidente Dilma Rousseff até o fim do mês; Troyjo foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Esta mudança tem muito haver com a unidade e o alinhamento político de uma nova ordem internacional. Esta nova articulação com a China e a Índia, reforça a influência dos respetivos países. É como se os cinco dissessem em alto e bom som: ‘Não concordamos com a liderança dos Estados Unidos, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.’ Queremos uma ordem onde possamos também ter poder de decisão. O Brasil aspira a ter assento no Conselho de Segurança da ONU.” Em suma, partilham interesses e estratégia política. 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

ARTIGO - A banalização do mal ganha uma nova face. (Padre Carlos)

 

Uma abordagem mais próxima da realidade.

 

 


Meus leitores são testemunhas que sempre nos meus artigos, busquei trazer os elementos da filosofia para uma abordagem mais próxima da realidade. Como dizia Sartre, o engajamento do filosofo, é que traz para perto do seu público as questões filosóficas. Assim, nenhuma ferramenta poderia ajudar a esclarecer melhor o fenômeno Bolsonarista e os últimos acontecimentos, quanto os profissionais das ciências humanas. Mais que pensadores eles são dedicados ao mundo das ideias, a filósofa como instrumento de análise abordou o mal concreto do nazismo e do stalinismo fez do totalitarismo tanto de direita quanto de esquerda o objeto de sua investigação em diversos momentos da história. A Filosofia e o olhar crítico do articulista pode abrir alguma perspectiva no sentido de entendermos como o fantasma do fascismo retorna a política brasileira depois de quase um século desaparecido como força política.

            O fenômeno Bolsonaro não se deu apenas pela crise política e econômica, mas devido às crises das instituições públicas e da classe política. O cenário crítico dos últimos anos agiu favoravelmente para o surgimento de elementos do inconsciente coletivo que pensávamos está superado neste novo século. Esta conjuntura não é restrita ao Brasil, mas presente em toda cultura ocidental em que são rompidos os pactos sociais e o enfraquecimento do conceito de nacionalidade. Sem repactuar as classes, o tecido que norteia o projeto de nação é desfeito, só restando assim, a identidade tribal. Diante disto, podemos afirmar que a desintegração dos valores individuais e republicanos, o fortalecimento de lideranças de ultradireita e de movimentos nacionalistas e separatistas, são algumas características do surgimento deste fenômeno.

            A extrema direita sempre esteve presente nos grandes acontecimentos brasileiros, seja saindo pela porta dos fundos da história ou sendo protagonistas.  O personagem Bolsonaro conseguiu materializar o velho projeto, como podemos perceber, este é o discurso da extrema-direita. O que tem preocupado os cientistas e analistas políticos foi o crescimento desta força, mesmo isolado politicamente, conseguiu a metade dos votos dos brasileiros e só conseguimos derrotá-los, porque fizemos uma frente nunca vista nestes pais, reunido da extrema esquerda o direito democrático. Este agrupamento alcançou 58.206.322 votos (49,1%) milhões de votos dos brasileiros, com uma plataforma política contra mulheres, negros e homossexuais até discursos de conotação marcadamente fascistas, como o apoio a torturadores militares e a incitação pública da violência e do ódio. E, por essa razão, incentiva a projeção de todo mal, de tudo que é mesquinho e não heroico, como ficou latente nos acontecimentos de oito de janeiro, o Congresso, o STF e o Palácio do Planalto representa a incorporação de tudo o que é instável e corrupto. Entender o que Bolsonaro representa é fácil; o difícil mesmo é compreender os que compactuam com suas ideias. Como o discurso autoritário vem se tornando uma opção viável em eleições democráticas?

            Podemos constatar que as reações xenófobas atingiram um grau de violência aqui no Brasil nunca visto. Não sabemos como enfrentar o vento de ódio e irracionalismo que se levantou.

           O elo entre a sociedade totalitária descrita por Arendt e os nossos tempos não está na presença de campos de concentração ou na perseguição oficial a judeus, mas na degradação da empatia social e na naturalização da violência. A banalização da mal ganha uma nova face e se tornou perceptível na Praça dos Três Poderes.      Desta forma, gostaríamos de acrescentar que a filosofia não pretende isentar o cidadão comum, nem os bolsonarista das responsabilidades cometidas em nome da sua causa. Tampouco queremos dar a eles o aspecto monstruoso que tentaram colocar em todos que ajudaram os bolsonarista a cometerem os atos de vandalismo e a tentativa frustrada de golpe. Quero aqui demostrar, contudo, como os homens e mulheres em conjunturas históricas adversas são levados a apoiarem ideias equivocadas e extremadas. O mal é de certa forma tão corriqueiro que acaba por ser incorporado como algo extremamente trivial.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

ARTIGO - O fascismo é a ferramenta da burguesia "liberal," para defender os seus interesses de classe.(Padre Carlos)




O liberalismo e o fascismo se relacionam como frente nos momentos de crises.

 


Tem algumas comparações que me deixa revoltado e uma delas está relacionada à forma como algumas pessoas tentam igualar a extrema-direita à extrema-esquerda e isto é um erro grave. Quero lembrar que a extrema-esquerda não é racista, xenófoba e homofóbica. Não podemos esquecer que a extrema direita ainda possui uma orientação conservadora, elitista, exclusivista e que alimenta ainda noções preconceituosas contra indivíduos e culturas diferentes das de seu próprio grupo. Assim, é considerado de extrema direita o indivíduo, grupo ou filosofia que se localize mais à direita do pensamento de direita comum brasileira.

Mas o que sempre me impressionou e ficou latente nos últimos anos é a facilidade que o "liberalismo" e o fascismo se relacionam em forma de uma frente nos momentos de crises ou “perdas de direitos”.

Quem não se lembra do cientista político e economista americano Francis Fukuyama que publicou o artigo O fim da história?  Nele, argumentava que a difusão mundial das democracias liberais e do livre capitalismo de mercado possivelmente sinalizava o fim da evolução sociocultural da humanidade. Depois de três décadas, posso afirmar que foi o socialismo que triunfau no mundo, apesar de alguns retrocessos momentâneos. E isso não é um paradoxo. Para fundamentar essa afirmação, se fizermos um paralelo podemos dizer que o capitalismo e o socialismo nasceram juntos, na Revolução Industrial, por isto não podemos esquecer como era o capitalismo nos seus primórdios: Os operários ingleses dormiam debaixo das máquinas e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. (A indústria era assim, leia-se Dickens, entre outros). Só no contexto como este poderia surgir o socialismo, para começar a lutar pelos interesses dos operários.

 

Chamo aqui de "socialismo" “Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, cristianismo social, cooperativismo”... tudo isso, o pensamento progressista e humanista. Esse pessoal começou a lutar para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais do que 12 horas, depois para não trabalhar mais que dez oito; para a mulher grávida não ter de trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças e etc.

Já o fascismo, tem outra finalidade, poderíamos dizer que ele é a ferramenta ou a possibilidade que a burguesia "liberal" recorre, para defender os seus interesses de classe.

O que me impressiona mais é a falta de consciência história da classe trabalhadora, coisas que hoje são banais em termos de direitos dos trabalhadores são, inegavelmente, conquistas do socialismo. O que precisamos chamar a atenção é que todas essas conquistas estão em perigo, devido às mudanças ocorridas no mundo nas últimas quatro décadas. A transformação do capitalismo produtivista em capitalismo financeiro-tecnológico está mudando drasticamente as relações entre o capital e o trabalho, engendrando um fenómeno que alguns pensadores têm chamado de "uberização da economia". Como resultado disso, aumenta cada vez mais o fosso entre os mais pobres e uma minoria de ultra bilionário, à custa dos ganhos obtidos, sobretudo, graças a aplicações financeiras, enquanto os direitos dos assalariados são literalmente "atacados" (a precarização e fragmentação da mão-de-obra é um indício dessa nova realidade, mas há muitos outros).

 

Essas e outras transformações que fazem parte da globalização, não são alheias ao crescimento, em todo o mundo, da extrema-direita, do autoritarismo e das tendências teocráticas, fruto da aliança entre a política e o conservadorismo e fundamentalismo religioso de todos os matizes. Esse "caldo" inquietante e perturbador tem um nome: fascismo.

 

 

O impeachment de Dilma e a prisão de Lula estão ligados à existência de certas correntes de pensamento na sociedade brasileira, que se proclamam liberais, mas que o são principalmente no plano económico, não hesitando em ignorar o liberalismo social, moral e até político, quando julgam em perigo, justificadamente ou não, os seus interesses económicos. A equiparação entre extrema-direita e extrema-esquerda feita por esses setores é um exemplo disso.

 

Para concluir, quero reafirmar uma frase que digo sempre quando sou provocado para falar sobre este assunto: o fascismo é apenas uma das possibilidades que a burguesia "liberal" tem para recorrer, quando precisa defender os seus interesses de classe. Quem tiver dúvidas, aconselho que se pergunte o que explica a autêntica "tomada" do Partido Republicano americano pelo trumpismo e o desaparecimento da direita democrática no Brasil?


domingo, 5 de fevereiro de 2023

ARTIGO - A Teologia Política de Metz (Padre Carlos)

A Teologia Política de Metz



Faz quatro anos que perdemos um dos grandes teólogos dos últimos tempo, Johann Baptist Metz. Durante alguns dias fiquei meditando se deveria fazer este artigo, já que a maioria dos meus leitores não tiveram contato com o seu pensamento filosófico e teológico. Diante desta dúvida, fiquei matutando nesta questão e enquanto pensava na situação desumana que os yanomamis estão vivendo, bem como as mortes de crianças e idosos em decorrência da desnutrição grave causada pela fomea pergunta de Metz para humanidade não saia da minha cabeça: "Como se pode falar de Deus depois de Auschwitz?" Falar de Metz, para quem não  foi um teólogo ou um católico, não será fácil, mas vamos tentar assim mesmo.
Quem não viveu os horrores da guerra, não tem ideia como esta ferida perpassou no imaginário do povo europeu. Desta forma, não poderia surgir uma Teologia Política como foi concebida por Metz, se o seu público não tivesse sido testemunha ocular de toda aquela barbárie para entender a importância da vida e da existência do ser. Com isto, gostaríamos de lembrar aos leitores, que os elementos da natureza teológica do nosso pensador, não poderia ser outro como: os que sofrem, os famintos, os injustiçados, os excluídos, os explorados de todas as maneiras, as crianças e as mulheres violentadas e todas as vítimas deste mundo. Só quem caminha com os oprimidos, aqueles e aquelas que foram vítimas, sem resposta dentro da História, poderá ouvir o seu clamor. Temos uma dívida para com as vítimas da História; quem poderá pagá-la a não ser Deus?

 As peças centrais, para entendermos o sentido humanista desta teologia não poderia ser outra. Durante muitos anos, foi professor de Teologia Fundamental e  aluno de Karl Rahner. Buscando resposta para as perguntas que povoava sua mente e buscando transcender a teologia da sua época, desfiliou-se da teologia transcendental de Rahner, em troca de uma teologia fundamentada na prática. Metz está no centro da escola da teologia política que influenciou fortemente Gustavo Gutiérrez Merino o teólogo peruano e sacerdote dominicano, considerado por muitos como o fundador da Teologia da Libertação, bem como o brasileiro, Leonardo Boff.   Ele foi um dos teólogos alemães mais influentes no pós Concílio Vaticano II. Seus pensamentos giraram ao redor da atenção fundamental ao sofrimento dos excluídos. As chaves de sua teologia é memória, solidariedade e narrativa.



Foi um dos fundadores da Revista Concilium. Metz morreu no dia 2 de dezembro de 2019 aos 91 anos.
A Teologia da Libertação deve muito a este pensador alemão. Pode ter certeza que você fez a diferença aqui nesta terra.
 Saudade do mestre!

Padre Carlos

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...