O Papa precisa ser chefe de Estado?
O início do século XX foi
marcado por um período de mudanças, políticas e sociais. Essas
mudanças no cenário político global, fez com que muitas monarquias viessem
a baixo. Os ventos republicanos que sopraram em todo o velho continente não
chegaram aos morros do Vaticano. Pensamentos como este só puderam ser abordados
de forma superficial meio século depois, já no Vaticano II.
Quem conhece um pouco de eclesiologia, sabe que a Igreja é a única instituição verdadeiramente global, com um mandatário divino, que é também chefe de Estado. Assim, diante das reformas que Francisco pretende para todo o corpo eclesial, nos perguntamos: Que sentido tem que o Papa sendo chefe da Igreja, seja também um chefe de Estado? Depois do Vaticano II, com o aggiornamento de uma possível era republicana na cúpula da Igreja Católica, é admissível ou não a natureza político-constitucional e jus-internacional da própria Igreja e do seu representante? Não seria o momento de separar as dimensões de poderes e despir o Papa das últimas vestes de César? Não seria esse o próximo passo da Igreja no caminho do despojamento e do desprendimento? Para avança na questão do poder, não deveríamos enfrentar de frente a "despolitização" do Vaticano e da Igreja e se entregar à sua verdadeira missão espiritual e pastoral?
Confesso a vocês que pensava também desta forma e nas abordagem o militante incendiário da minha juventude se misturava numa simbiose com o teólogo, mas
quando olhamos para as contribuições do Papa e da rede diplomática do Vaticano
a serviço da paz e da justiça, na defesa da dignidade das pessoas (refugiados e
marginalizados), na denúncia do capitalismo selvagem, das perseguições e
violências, eu me perguntei: O mundo estaria melhor e os homens
viveriam melhores se a Igreja não dispusesse deste aparelho de Estado?
Não
há dúvida que a Igreja esteja precisando de uma reforma. Por isto, chamamos a atenção dos mais jovens para não
cairem na tentação e erros das gerações passadas que achavam que reformar é
abandonar tudo aquilo que é tradição. Não
devemos exigir nem incentivar o abandono de um dos grandes ministérios de que
dispomos para servir a Humanidade - a sua diplomacia em favor da justiça e da
paz, decorrente do reconhecimento internacional da sua natureza de Estado.
Assim
quando o Papa Francisco visitou a República Democrática
do Congo e no Sudão do Sul, massacrados pela violência, pela exploração, numa
dor sem fim. Este enviado de Deus num esforço fisicamente tão penoso se
ajoelhou diante dos três líderes do Sudão do Sul e lhes beijou os sapatos, suplicando
um esforço para avançarem na paz.
Um chefe de Estado que se coloca a serviço da paz e
não busca o poder nem reconhecimento. Como disse o Santo Padre: "Se
vivermos para "nos servirmos" do povo em vez de "servir" o
povo, o sacerdócio e a vida consagrada tornam-se estéreis. Não se trata de um
trabalho para ganhar dinheiro ou ter uma posição social nem para resolver a
situação da família de origem, trata-se de serem sinais da presença de Cristo,
do seu amor incondicional, do perdão com que quer reconciliar-nos.”.
Que o Espírito Santo nos dê entendimento para que
saibamos reformar a Igreja preservando o que há de mais sagrado na sua essência
que é o serviço. "Não somos os
chefes de uma tribo, mas pastores compassivos e misericordiosos; não somos os
donos do povo, mas servos que se inclinam a lavar os pés dos irmãos e
irmãs."
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