O
liberalismo e o fascismo se relacionam como frente nos momentos de crises.
Tem algumas
comparações que me deixa revoltado e uma delas está relacionada à forma como algumas
pessoas tentam igualar a extrema-direita à extrema-esquerda e isto é um erro
grave. Quero lembrar que a extrema-esquerda não é racista, xenófoba e
homofóbica. Não podemos esquecer que a extrema direita ainda possui uma orientação conservadora, elitista, exclusivista e que
alimenta ainda noções preconceituosas contra indivíduos e culturas diferentes
das de seu próprio grupo. Assim, é considerado de extrema direita o indivíduo,
grupo ou filosofia que se localize mais à direita do pensamento de direita
comum brasileira.
Mas o que sempre me impressionou e ficou latente
nos últimos anos é a facilidade que o "liberalismo" e o fascismo se relacionam
em forma de uma frente nos momentos de crises ou “perdas de direitos”.
Quem não se lembra do cientista político e economista americano
Francis Fukuyama que publicou o artigo O fim da história? Nele, argumentava que a difusão mundial das
democracias liberais e do livre capitalismo de mercado possivelmente sinalizava
o fim da evolução sociocultural da humanidade. Depois de três
décadas, posso afirmar que foi o socialismo que triunfau no mundo,
apesar de alguns retrocessos momentâneos. E isso não é um paradoxo. Para
fundamentar essa afirmação, se fizermos um paralelo podemos dizer que o
capitalismo e o socialismo nasceram juntos, na Revolução Industrial, por isto
não podemos esquecer como era o capitalismo nos seus primórdios: Os operários
ingleses dormiam debaixo das máquinas e eram acordados de madrugada com o
chicote do contramestre. (A indústria era assim, leia-se Dickens, entre outros).
Só no contexto como este poderia surgir o socialismo, para começar a lutar
pelos interesses dos operários.
Chamo aqui de "socialismo" “Comunismo,
socialismo democrático, anarquismo, cristianismo social, cooperativismo”...
tudo isso, o pensamento progressista e humanista. Esse pessoal começou a lutar
para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais do que
12 horas, depois para não trabalhar mais que dez oito; para a mulher grávida
não ter de trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para
as crianças e etc.
Já o fascismo, tem outra finalidade, poderíamos
dizer que ele é a ferramenta ou a possibilidade que a burguesia
"liberal" recorre, para defender os seus interesses de classe.
O que me impressiona mais é a falta de consciência
história da classe trabalhadora, coisas que hoje são banais em termos de
direitos dos trabalhadores são, inegavelmente, conquistas do socialismo. O que
precisamos chamar a atenção é que todas essas conquistas estão em perigo,
devido às mudanças ocorridas no mundo nas últimas quatro décadas. A
transformação do capitalismo produtivista em capitalismo financeiro-tecnológico
está mudando drasticamente as relações entre o capital e o trabalho,
engendrando um fenómeno que alguns pensadores têm chamado de "uberização
da economia". Como resultado disso, aumenta cada vez mais o fosso entre os
mais pobres e uma minoria de ultra bilionário, à custa dos ganhos obtidos,
sobretudo, graças a aplicações financeiras, enquanto os direitos dos
assalariados são literalmente "atacados" (a precarização e
fragmentação da mão-de-obra é um indício dessa nova realidade, mas há muitos
outros).
Essas e outras transformações que fazem
parte da globalização, não são alheias ao crescimento, em todo o mundo, da
extrema-direita, do autoritarismo e das tendências teocráticas, fruto da
aliança entre a política e o conservadorismo e fundamentalismo religioso de
todos os matizes. Esse "caldo" inquietante e perturbador tem um nome:
fascismo.
O impeachment de Dilma e a prisão de Lula
estão ligados à existência de certas correntes de pensamento na sociedade
brasileira, que se proclamam liberais, mas que o são principalmente no plano
económico, não hesitando em ignorar o liberalismo social, moral e até político,
quando julgam em perigo, justificadamente ou não, os seus interesses
económicos. A equiparação entre extrema-direita e extrema-esquerda feita por
esses setores é um exemplo disso.
Para concluir, quero reafirmar uma frase
que digo sempre quando sou provocado para falar sobre este assunto: o fascismo
é apenas uma das possibilidades que a burguesia "liberal" tem para
recorrer, quando precisa defender os seus interesses de classe. Quem tiver
dúvidas, aconselho que se pergunte o que explica a autêntica "tomada"
do Partido Republicano americano pelo trumpismo e o desaparecimento da direita
democrática no Brasil?
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