segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

ARTIGO - O fascismo é a ferramenta da burguesia "liberal," para defender os seus interesses de classe.(Padre Carlos)




O liberalismo e o fascismo se relacionam como frente nos momentos de crises.

 


Tem algumas comparações que me deixa revoltado e uma delas está relacionada à forma como algumas pessoas tentam igualar a extrema-direita à extrema-esquerda e isto é um erro grave. Quero lembrar que a extrema-esquerda não é racista, xenófoba e homofóbica. Não podemos esquecer que a extrema direita ainda possui uma orientação conservadora, elitista, exclusivista e que alimenta ainda noções preconceituosas contra indivíduos e culturas diferentes das de seu próprio grupo. Assim, é considerado de extrema direita o indivíduo, grupo ou filosofia que se localize mais à direita do pensamento de direita comum brasileira.

Mas o que sempre me impressionou e ficou latente nos últimos anos é a facilidade que o "liberalismo" e o fascismo se relacionam em forma de uma frente nos momentos de crises ou “perdas de direitos”.

Quem não se lembra do cientista político e economista americano Francis Fukuyama que publicou o artigo O fim da história?  Nele, argumentava que a difusão mundial das democracias liberais e do livre capitalismo de mercado possivelmente sinalizava o fim da evolução sociocultural da humanidade. Depois de três décadas, posso afirmar que foi o socialismo que triunfau no mundo, apesar de alguns retrocessos momentâneos. E isso não é um paradoxo. Para fundamentar essa afirmação, se fizermos um paralelo podemos dizer que o capitalismo e o socialismo nasceram juntos, na Revolução Industrial, por isto não podemos esquecer como era o capitalismo nos seus primórdios: Os operários ingleses dormiam debaixo das máquinas e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. (A indústria era assim, leia-se Dickens, entre outros). Só no contexto como este poderia surgir o socialismo, para começar a lutar pelos interesses dos operários.

 

Chamo aqui de "socialismo" “Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, cristianismo social, cooperativismo”... tudo isso, o pensamento progressista e humanista. Esse pessoal começou a lutar para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais do que 12 horas, depois para não trabalhar mais que dez oito; para a mulher grávida não ter de trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças e etc.

Já o fascismo, tem outra finalidade, poderíamos dizer que ele é a ferramenta ou a possibilidade que a burguesia "liberal" recorre, para defender os seus interesses de classe.

O que me impressiona mais é a falta de consciência história da classe trabalhadora, coisas que hoje são banais em termos de direitos dos trabalhadores são, inegavelmente, conquistas do socialismo. O que precisamos chamar a atenção é que todas essas conquistas estão em perigo, devido às mudanças ocorridas no mundo nas últimas quatro décadas. A transformação do capitalismo produtivista em capitalismo financeiro-tecnológico está mudando drasticamente as relações entre o capital e o trabalho, engendrando um fenómeno que alguns pensadores têm chamado de "uberização da economia". Como resultado disso, aumenta cada vez mais o fosso entre os mais pobres e uma minoria de ultra bilionário, à custa dos ganhos obtidos, sobretudo, graças a aplicações financeiras, enquanto os direitos dos assalariados são literalmente "atacados" (a precarização e fragmentação da mão-de-obra é um indício dessa nova realidade, mas há muitos outros).

 

Essas e outras transformações que fazem parte da globalização, não são alheias ao crescimento, em todo o mundo, da extrema-direita, do autoritarismo e das tendências teocráticas, fruto da aliança entre a política e o conservadorismo e fundamentalismo religioso de todos os matizes. Esse "caldo" inquietante e perturbador tem um nome: fascismo.

 

 

O impeachment de Dilma e a prisão de Lula estão ligados à existência de certas correntes de pensamento na sociedade brasileira, que se proclamam liberais, mas que o são principalmente no plano económico, não hesitando em ignorar o liberalismo social, moral e até político, quando julgam em perigo, justificadamente ou não, os seus interesses económicos. A equiparação entre extrema-direita e extrema-esquerda feita por esses setores é um exemplo disso.

 

Para concluir, quero reafirmar uma frase que digo sempre quando sou provocado para falar sobre este assunto: o fascismo é apenas uma das possibilidades que a burguesia "liberal" tem para recorrer, quando precisa defender os seus interesses de classe. Quem tiver dúvidas, aconselho que se pergunte o que explica a autêntica "tomada" do Partido Republicano americano pelo trumpismo e o desaparecimento da direita democrática no Brasil?


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