sexta-feira, 26 de maio de 2023

ARTIGO - Um Reflexo da Intolerância Presente em Nossa Sociedade.

 


 

Racismo só no Futebol?

 


No mundo do futebol, rivalidades intensas e apaixonadas são uma característica marcante. Contudo, em meio a essa competição saudável, encontramos momentos em que a linha que separa o entusiasmo esportivo do preconceito se torna tênue. Recentemente, o caso envolvendo o jogador do Real Madrid, Vinicius Júnior, chamou a atenção para a questão do racismo e da intolerância. É alarmante perceber que mesmo um atleta prestigiado, rico e com posição privilegiada na sociedade ainda seja vítima desse tipo de ocorrência. Isso nos faz refletir sobre a realidade dos negros na periferia, que não possuem os mesmos recursos e estão ainda mais expostos à intolerância. Vivemos um momento crucial na história, onde as máscaras caem e o preconceito com negros e pobres se torna visível.

O futebol, como um uma parte da sociedade, reflete as tensões e desigualdades existentes em nosso mundo. Através dos estádios, das arquibancadas e dos campos, é possível observar a manifestação de preconceitos arraigados, muitas vezes disfarçados de rivalidade entre os clubes. No entanto, o sentimento envolvendo Vinicius Júnior demonstra que a demonstração racial não se limita apenas a esse contexto e atinge até mesmo aqueles que alcançaram fortuna e o sucesso.

Vinicius Júnior, um jovem talento do futebol brasileiro, chegou ao Real Madrid com uma promissora carreira pela frente. Sua trajetória, entretanto, tem sido marcada por atos de racismo. Insultos e manifestações preconceituosas foram dirigidas a ele tanto dentro quanto fora dos campos. É inaceitável que um atleta, independentemente de sua cor de pele, precise lidar com tais comportamentos em pleno século XXI.

    Esse triste episódio nos faz questionar: se um jogador de futebol com todo o prestígio, dinheiro e posição na sociedade sofre com o racismo, o que acontece com os outros negros que vivem na periferia, sem os mesmos recursos e oportunidades? A resposta é angustiante: esses indivíduos ainda são mais exposto ao preconceito. São marginalizados, excluídos e tratados de forma desumana em um sistema que perpetua desigualdades socioeconômicas e raciais.

         O caso de Vinicius Júnior é apenas uma pequena amostra de um problema estrutural e enraizado em nossa sociedade. O racismo não se limita ao futebol, ele se manifesta nas instituições, nas relações cotidianas e nos discursos de ódio disseminados nas redes sociais. É necessário um esforço coletivo para combater essa realidade e promover a igualdade de oportunidades para todos os indivíduos, independentemente de sua cor de pele.

      Felizmente, há iniciativas que buscam enfrentar o racismo no futebol. Clubes, entidades esportivas e jogadores influentes têm levantado suas vozes contra o preconceito racial, utilizando sua visibilidade para conscientizar e promover mudanças. Além disso, é importante ressaltar a importância do papel das autoridades esportivas e governos na implementação de medidas efetivas de combate ao racismo.

    No entanto, é fundamental compreender que a luta contra o racismo não pode se limitar apenas ao âmbito esportivo. O racismo é um reflexo de uma sociedade desigual, permeada por preconceitos e discriminações. Portanto, é necessário um esforço conjunto para promover uma mudança real e duradoura.

         A educação desempenha um papel fundamental nesse processo. É necessário incentivar a conscientização desde cedo, nas escolas e nas famílias, sobre a importância da segurança racial e da valorização da diversidade. Além disso, é preciso investir em programas de inclusão social, proporcionando oportunidades iguais para todos, independentemente de sua origem étnica.

    Outro aspecto relevante é a conscientização e responsabilização dos agressores. É preciso que a sociedade condene de forma veemente os atos racistas, seja nos estádios, nas ruas ou nas redes sociais. As leis devem ser rigorosas e aplicadas de forma efetiva, punindo aqueles que perpetuam o racismo.

        No entanto, a luta contra o racismo não se resume apenas à esfera jurídica. É necessário um trabalho profundo de desconstrução de estereótipos e preconceitos arraigados em nossa sociedade. Isso envolve uma mudança de mentalidade, uma reflexão individual e coletiva sobre nossos próprios preconceitos e busca por uma convivência mais respeitosa e inclusiva.

quinta-feira, 25 de maio de 2023

ARTIGO - A Belle Époque do movimento estudantil. (Padre Carlos)





Uma era de liberdade e transformação




          Na década de 1970, um encontro em Salvador marcou o início de uma era dourada para o movimento estudantil no Brasil. Essa época, que se estendeu até meados da década de 1980, é lembrada por muitos como os melhores dias de suas vidas. Nessa fase, o saudosismo se faz presente em grande parte devido à transição para as liberdades democráticas que estavam retornando ao país, após anos de ditadura militar que só chegariam ao fim em 1985. Foram duas décadas de castração social e política, em que a juventude ansiava por mudanças e encontrava nas ruas a voz para reivindicá-las.
          Os jovens daquela época ostentavam cabelos compridos, calças azuis e desbotadas, e tinham o rock'n'roll e a MPB como trilha sonora de suas vidas. Eram tempos de efervescência cultural, de questionamento e de luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Os estudantes tomaram as ruas, e as ruas se tornaram o palco de suas reivindicações e festividades.
         As ruas do Canela, da Federação e da Cardial da Silva eram frequentemente tomadas  de pessoas que subiam e desciam, em um vai e vem constante. Festas promovidas por grupos políticos e pelas chapas dos Diretórios Acadêmicos (DAs) foram o ponto de encontro dessa juventude ávida por transformação. Os barzinhos da região se tornaram verdadeiros templos de encontros e debates, onde ideias eram compartilhadas, amizades se formavam e estratégias de luta eram toleradas.
          A Belle Époque do movimento estudantil foi marcada por uma efervescência política e cultural sem precedentes. As assembleias estudantis eram frequentes e ganhavam cada vez mais assistidas, mobilizando milhares de jovens em prol de pautas como a liberdade de expressão, a democratização do ensino e a extensão dos direitos estudantis. As passeatas tomavam as ruas, com cartazes, faixas e palavras de ordem, em um movimento vibrante e cheio de energia.
               Essa época também foi marcada pela criatividade e pela contestação artística. O movimento estudantil estava diretamente ligado às manifestações culturais da época, como o teatro de rua, a poesia engajada e as apresentações musicais em espaços públicos. A arte se tornou uma forma de expressão política, de denúncia e de resistência. Os alunos não apenas falavam, mas também cantavam, pintavam e interpretavam suas ideias e anseios.
          
      No entanto, a Belle Époque do movimento estudantil não foi apenas uma fase de festividades e celebrações. A repressão do regime militar ainda se fazia presente, mesmo que em declínio. A juventude começou momentos de tensão, com confrontos com a polícia e vigilância constante dos órgãos de segurança. Ainda assim, a vontade de lutar por uma sociedade mais justa e democrática prevaleceu, impulsionando o movimento estudantil a persistir em suas demandas.
  
          À medida que a ditadura militar perdia força, os estudantes se tornavam  protagonistas de um processo de transição política e social. Aos poucos, o desejo por mudanças encontrou eco na sociedade civil, despertando um sentimento de esperança e renovação. As vozes dos estudantes ecoavam além dos campi universitários, conquistando o apoio de diversos setores da população.
             A participação dos estudantes na política nacional era cada vez mais evidente. Suas demandas e reivindicações ganham espaço nos debates públicos, influenciando a agenda política e confiantes para a consolidação de um ambiente desejado à democratização do país. Nesse contexto, o movimento estudantil se firmou como uma importante força de transformação social, exercendo pressão sobre as estruturas de poder e abrindo caminhos para a construção de uma sociedade mais inclusiva e participativa.
          A Belle Époque do movimento estudantil não se restringe apenas às questões políticas e sociais. Era uma época de efervescência cultural, em que o rock'n'roll e a MPB se entrelaçavam, ecoando os anseios e as aspirações da juventude da época. O rock, com suas letras de contestação e rebeldia, se tornou um símbolo de resistência, enquanto a MPB, com suas melodias marcantes e letras poéticas, emocionava e unia os jovens em torno de causas comuns.
          Os barzinhos da região se transformaram em verdadeiros pontos de encontro e manifestação cultural. Ali, músicos, poetas e artistas se reúnem para compartilhar suas criações, expressar suas opiniões e fortalecer os laços de camaradagem e solidariedade. Esses espaços eram o refúgio onde a juventude se encontrava alento no meio às adversidades, onde os sonhos de um futuro melhor eram alimentados e onde novas amizades surgiam.
          Olhando para trás, é compreensível o saudosismo que permeia as memórias daqueles dias. A Belle Époque do movimento estudantil representou não apenas uma era de lutas e conquistas, mas também um momento de união e transformação pessoal. Os jovens daquela época se tornaram agentes ativos na construção de um país mais livre e democrático, e o impacto de suas ações reverbera até os dias de hoje.
          Embora os tempos tenham mudado e novos desafios tenham surgido, a essência daqueles dias permanece viva nas mentes e nos corações daqueles que viveram essa época única. A Belle Époque do movimento estudantil foi um capítulo marcante da história do Brasil, um período em que a juventude encontrou sua voz e lutou por seus ideais. E é importante que essa memória seja preservada, para que as gerações futuras possam compreender a importância da transmissão social e buscar a inspiração naqueles que vieram antes, construindo um futuro mais justo e igualitário.



ARTIGO - O legado de Aurino Cajaíba: O acervo do Museu que resgata a história nacional e local. (Padre Carlos)

 

Um patrimônio cultural em meio ao abandono




O acervo do Museu Cajaíba, composto por mais de 180 obras históricas, é um verdadeiro tesouro que testemunha o passado nacional e local. Localizado na cidade de Vitória da Conquista, o museu foi construído a partir da década de 1960 e tem despertado interesse não só entre estudiosos, mas também entre educadores da região, que enxergam o potencial do acervo como recurso de aprendizagem para os alunos das escolas públicas.

O responsável pela criação desse espaço singular foi o renomado escultor Aurino Cajaíba, nascido na cidade de Itaquara, na Bahia, e radicado em Vitória da Conquista desde 1950. Com sua habilidade artística e uma visão única, Cajaíba utilizou restos de materiais da construção civil encontrados na cidade para transformar objetos aparentemente sem valor em verdadeiras obras de arte. Essas obras, que compõem o acervo do Museu Cajaíba, conferem ao espaço uma importância cultural e histórica inestimável.

Durante seu auge, o Museu Cajaíba foi considerado o maior museu a céu aberto da América Latina, atraindo visitantes e pesquisadores interessados em explorar suas obras e desvendar as histórias por trás delas. No entanto, o cenário atual é de abandono. A família Cajaíba enfrenta dificuldades financeiras para manter o museu ativo e, por isso, busca o apoio do poder público para preservar esse patrimônio cultural.

Ana Gonçalves, uma professora e pesquisadora dedicada, está conduzindo um estudo sobre o Museu Cajaíba. Seu objetivo vai além de despertar o interesse das autoridades em cuidar e valorizar esse espaço único. Ela também busca apresentar a memória histórica ali presente para a região e, principalmente, para a comunidade estudantil. Vitória da Conquista é uma cidade que recebe muitos turistas, e o Museu Cajaíba poderia se tornar um ponto de destaque no circuito turístico local, contribuindo para o enriquecimento cultural e histórico da região.

O desejo de Ana Gonçalves é resgatar não apenas a figura do artista Aurino Cajaíba e sua produção cultural, mas também as narrativas relacionadas à história nacional e local, enriquecendo o conhecimento da comunidade. Através desse resgate, o Museu Cajaíba poderá se tornar um espaço de aprendizagem e reflexão, onde visitantes e estudantes poderão mergulhar nas ricas histórias que as obras contam, compreendendo a importância do patrimônio cultural para a identidade de uma sociedade.

Com ações efetivas do poder público e o envolvimento da comunidade, é possível vislumbrar um futuro promissor para o Museu Cajaíba. Ao valorizar esse espaço cultural e histórico, a cidade de Vitória da Conquista não apenas preserva sua memória, mas também fortalece seu potencial turístico e enriquece a vida dos seus habitantes.

 


quarta-feira, 24 de maio de 2023

ARTIGO - A Importância de Respeitar a Decisão do TSE na Cassação de Dallagnol. (Padre Carlos)

 


Dallagnol, não está acima da lei.


Em um momento em que a autoridade das instituições públicas é constantemente questionada, é essencial fortalecer a importância de um tribunal e acatar as decisões judiciais, especialmente quando se trata de um caso envolvendo um representante público. Recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o mandatário do ex-deputado Dallagnol, condenado por crimes e atos de improbidade administrativa. No entanto, há parlamentares que buscam salvar o mandato de Dallagnol, o que configura um desrespeito à vontade popular e uma agressão à democracia.

Ele deve responder pelos seus atos perante a justiça, sem esperar por privilégios indevidos concedidos pelo Congresso. Permitir que os parlamentares salve o mandato de Dallagnol seria um claro desrespeito à democracia e à moralidade pública.

Ao cassar o mandato de Dallagnol, o TSE não está fazendo nada mais que o seu papel que é cumprir a lei e garantir a integridade do processo eleitoral. Agora, cabe ao Congresso fazer a sua parte e respeitar a decisão da Corte. A democracia se baseia na separação dos poderes e no respeito às decisões judiciais. Tentar anular uma decisão legítima e soberana do TSE seria um golpe contra a democracia e contra a própria República.

Neste momento de crise, é fundamental que a sociedade esteja vigilante e exija dos seus representantes que comprem a lei e defendam os interesses coletivos. Devemos nos unir em defesa dos nossos direitos e das nossas instituições, impedindo que os interesses particulares se sobreponham aos interesses coletivos.

O respeito às decisões de julgamento é essencial para a estabilidade e a confiança no sistema democrático. Quando as instituições são desafiadas e desrespeitadas, a confiança do povo é abalada, e o tecido democrático se fragiliza. Devemos reafirmar o compromisso com a legalidade e a transparência, mostrando que ninguém está acima da lei, inclusive aqueles que ocupam cargos públicos.

Diante de tais fatos, é necessário que os parlamentares respeitem a decisão do TSE na cassação do mandato de Dallagnol. A Lei da Ficha Limpa representa a vontade da sociedade em ter representantes íntegros e comprometidos com o bem comum. Não podemos permitir que particulares se sobreponham aos interesses coletivos e à democracia. A defesa dos nossos direitos e das nossas instituições é essencial para garantir a estabilidade democrática e o fortalecimento do Estado de Direito. É papel do Congresso Nacional zelar pela integridade das instituições democráticas e agir de acordo com os princípios da ética e da moralidade pública.

Ao desconsiderar a decisão do TSE e tentar salvar o mandato de Dallagnol, os parlamentares terminam enviando uma mensagem negativa a sociedade que a lei só vale para o povo.  Isso demonstra uma postura de conivência com atos ilícitos e uma falta de compromisso com a justiça e a transparência. É necessário reforçar que a democracia não se sustenta sem a confiança da população em suas instituições. Quando os cidadãos percebem que as leis são ignoradas e as decisões judiciais são desconsideradas, a aprovação do sistema é colocada em xeque. Isso pode gerar descontentamento, desilusão e até mesmo um sentimento de impunidade, minando os pilares fundamentais da democracia.

A atuação dos parlamentares deve estar pautada pelo respeito às leis e à independência dos poderes. É fundamental que eles ajam em consonância com os interesses da sociedade e ajam como verdadeiros representantes do povo. Isso implica em cumprir com o seu dever de fiscalizar, legislar e, principalmente, acompanhar as decisões judiciais.

A tentativa de anular a cassação do mandato de Dallagnol por parte do Congresso seria um retrocesso significativo no combate à corrupção e à impunidade.  Desta forma, é fundamental que a sociedade esteja atenta e mobilizada para exigir dos parlamentares o cumprimento da lei e o respeito às decisões judiciais. Devemos reafirmar a importância da democracia, da transparência e da justiça como pilares fundamentais do nosso sistema político. Só assim poderemos avançar no fortalecimento das instituições e na construção de um país mais justo e ético para todos os cidadãos.

 


ARTIGO - O PT e a nova esquerda: entre a mobilização e a cooptação. (Padre Carlos)

 



O PT e a nova esquerda no Brasil




       O Partido dos Trabalhadores (PT) surgiu na década de 1980 como uma expressão das lutas sociais e políticas dos trabalhadores, dos movimentos populares e das forças de esquerda contra a ditadura militar e o neoliberalismo. O PT se apresentava como um partido diferente dos demais, que buscava construir uma alternativa socialista, democrática e popular ao modelo de desenvolvimento excludente e dependente do capitalismo brasileiro.

     Ao longo de sua trajetória, o PT enfrentou diversos desafios e dilemas, que envolveram tanto a sua relação com as classes dominantes e as instituições do Estado, quanto a sua capacidade de manter a sua identidade e coerência programática, ética e ideológica. O PT passou por processos de transformação interna, que envolveram disputas entre diferentes tendências ou correntes, que expressavam distintas concepções sobre o papel do partido, a estratégia de mudança social e o projeto de sociedade.

   Nesse contexto, emergiu o que se convencionou chamar de nova esquerda, uma forças políticas e sociais que se opunham ao comunismo de estilo soviético e buscavam renovar o pensamento e a prática da esquerda no Brasil e no mundo. A nova esquerda se caracterizava por defender uma abordagem mais democrática, pluralista, participativa e emancipatória do socialismo, que valorizava a diversidade de sujeitos, demandas e movimentos sociais, bem como a autonomia da sociedade civil em relação ao Estado.

     A nova esquerda teve uma influência importante na formação do PT, que incorporou em seu programa e em sua organização elementos dessa visão. No entanto, a nova esquerda também enfrentou limites e contradições, que se manifestaram na dificuldade de articular uma proposta consistente e viável de superação do capitalismo, na tendência à fragmentação e à dispersão das lutas sociais e na vulnerabilidade às pressões e às seduções do sistema político institucional.

   Um dos principais problemas que se colocou para o PT e para a nova esquerda foi o de como conciliar a participação nas eleições e nos governos com a manutenção da mobilização social e da radicalidade política. O PT conseguiu chegar ao poder em diversos níveis da federação, culminando com a eleição de Lula à presidência da República em 2002. No entanto, esse processo também implicou em concessões, alianças, compromissos e adaptações que afetaram o caráter original do partido.

   Como analistas tenho presenciando nestas quatro décadas a perda e a capacidade de mobilização do PT de apresentar uma utopia onde os militantes se entreguem ao projeto sem que necessariamente tenha na pauta cargos e compensação financeira. Na minha visão, o PT passou por um processo de burocratização, se institucionalizado e se perseber foi sendo cooptado pelo sistema político dominante, transformando os sindicalistas, os antigos militantes dos partidos comunistas e das organizações de esquerda em verdadeiros cabos eleitorais.Foi também como analistas que presenciei o PT  realizar avanços significativos na melhoria das condições de vida da população mais pobre, na ampliação dos direitos sociais e na promoção da participação popular nos espaços públicos. 

     Acredito que o PT conseguiu apesar de tudo, manter uma postura crítica e transformadora diante das estruturas do poder, quando buscou construir um projeto nacional-popular que combinasse desenvolvimento econômico com distribuição de renda e democracia.

    Apesar destas duas perspectivas que testemunhei expressarem aspectos reais e contraditórios da trajetória do PT e da nova esquerda no Brasil, vejo neste partido um pragmatismo e a falta daquele combustível utópico que tanto embalou minha geração. Não se trata aqui de negar ou exaltar acriticamente os erros ou os acertos do partido, mas de compreender os seus limites e as suas potencialidades no contexto histórico em que atuou e atua. O PT não é nem o salvador nem o traidor da esquerda brasileira. O PT é um partido em disputa, que reflete as tensões e os conflitos da sociedade brasileira.

   A crise política atual coloca novos desafios para o PT e para a nova esquerda. Diante do golpe parlamentar-judicial-midiático que afastou Dilma Rousseff da presidência em 2016, da prisão arbitrária de Lula em 2018 e da ascensão do governo autoritário e ultraliberal de Jair Bolsonaro em 2019 e a volta de Lula, não e possível que não tenhamos aprendido nada. É preciso reafirmar a defesa da democracia, dos direitos humanos e da soberania nacional como bandeiras fundamentais da esquerda.

     Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer os erros cometidos pelo PT nos seus governos, fazer uma autocrítica sincera e profunda das suas práticas políticas e éticas e renovar o seu programa e a sua organização para recuperar a confiança e a esperança da classe trabalhadora e dos setores populares. A Federação foi e está sendo inpotente para fortalecer a unidade da esquerda em torno de um projeto comum que seja capaz de enfrentar as ameaças do neoliberalismo, do fascismo e do imperialismo.

      O PT tem um papel importante a cumprir nessa tarefa histórica. Mas não pode fazê-lo sozinho nem isolado. É preciso dialogar com as outras forças políticas progressistas, com os movimentos sociais organizados, com as novas formas de resistência popular que emergem nas ruas, nas redes sociais, nas periferias, nas favelas, nos campos. É preciso construir uma nova esquerda que não seja capa preta ou de sapato auto, ela precisa ser plural, diversa, criativa, democrática e socialista.

       Esse é o desafio que se coloca para o PT no século XXI: ser um partido capaz de conquistar com o coração sua militância, antes de tentar mobilizar as massas para transformar o Brasil.

 


terça-feira, 23 de maio de 2023

ARTIGO - Afastamento do juiz provoca questionamentos sobre a Lava Jato. (Padre Carlos)

 

Medo da verdade?

 



A decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) de afastar cautelarmente o juiz Eduardo Appio da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos processos da Operação Lava Jato, despertou indignação e estranheza em diversos setores da sociedade. Afinal, por que tomar uma medida tão drástica contra um magistrado que vinha desmontando e revelando os desvios e crimes cometidos pela Lava Jato? O que o TRF teme?

Segundo informações obtidas pela rede CNN Brasil, o afastamento foi motivado por uma representação do desembargador Marcelo Malucelli, ex-relator da Lava Jato no TRF-4, que acusou Appio de ter feito uma ligação para seu filho fora do horário de expediente apenas para se certificar de que ele era realmente seu pai. O filho do desembargador é João Eduardo Malucelli, sócio do ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR) em um escritório de advocacia.

Essa ligação teria ocorrido em abril deste ano, quando Malucelli restabeleceu uma decisão que determinava a prisão preventiva do advogado Rodrigo Tacla Duran, acusado de lavagem de dinheiro pela Lava Jato. Tacla Duran é considerado uma testemunha-chave contra Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol (PL), pois alega possuir provas de que eles receberam propina para favorecer réus da operação. Após ser questionado pelo corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, Malucelli se declarou suspeito para atuar nos processos envolvendo o advogado e a extinta Lava Jato.

É absurdo que o desembargador Malucelli, diante desse episódio, não seja investigado por conduta suspeita. Ele claramente tinha um conflito de interesses ao julgar casos relacionados ao seu filho e ao seu ex-colega de toga. Por que ele não se afastou anteriormente dos processos da Lava Jato? Por que não comunicou ao tribunal sobre a ligação recebida por seu filho? Por que utilizou esse fato como pretexto para representar contra Appio?

A resposta parece óbvia: Malucelli faz parte da ala do TRF-4 que sempre apoiou e endossou as arbitrariedades cometidas por Moro e Dallagnol durante a condução da Lava Jato. Essa ala não aceita que Appio tenha assumido a 13ª Vara Federal de Curitiba com a intenção de corrigir os abusos e ilegalidades praticados por seus antecessores, buscando ressignificar o legado da operação.

Desde que assumiu o cargo em fevereiro deste ano, Appio proferiu decisões contrárias aos interesses dos defensores da Lava Jato. Ele absolveu o empresário Raul Schmidt das acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, declarando a nulidade da quebra de sigilo bancário do réu promovida pelo Ministério Público Federal sem autorização judicial. Além disso, determinou a instauração de um inquérito para investigar a instalação de um grampo ilegal na cela do doleiro Alberto Youssef na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Appio é um juiz comprometido com o respeito aos direitos fundamentais dos acusados, o contraditório, a ampla defesa, o devido processo legal e a presunção de inocência. Ele é um defensor do garantismo jurídico, especialista em Direito Constitucional e crítico dos métodos utilizados pela Lava Jato. Sua postura independente e sua busca por uma Justiça mais equilibrada e imparcial incomodam os defensores da operação.

É evidente que aqueles que estão envolvidos na Lava Jato temem que Appio revele mais detalhes sobre as falhas e vícios presentes na operação, colocando em xeque as condenações que foram proferidas. Eles desejam silenciar Appio, assim como tentaram silenciar Tacla Duran e outras vozes dissonantes. Seu objetivo é manter o controle sobre a 13ª Vara Federal de Curitiba, assim como mantiveram o controle sobre o TRF-4 e outras instâncias do Judiciário.

O afastamento cautelar de Appio é uma clara tentativa de golpe contra a Justiça Federal e contra a própria democracia. É uma violação da independência funcional do magistrado e da autonomia da 13ª Vara Federal de Curitiba. Constitui uma afronta aos princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito.

Como sociedade, não podemos aceitar essa arbitrariedade. É fundamental que nos manifestemos em defesa do juiz Eduardo Appio e exijamos sua imediata reintegração ao cargo. Devemos denunciar as manobras dos defensores da Lava Jato que visam encobrir seus próprios crimes e perpetuar seus privilégios. Precisamos lutar por uma Justiça verdadeiramente imparcial, independente e democrática, onde os direitos e garantias individuais sejam respeitados em todas as instâncias. A sociedade está indignada com o afastamento de Appio e não permitirá que a busca pela verdade e pela justiça seja silenciada.

ARTIGO - A história não é linear: a face conservadora de Vitória da Conquista. (Padre Carlos)

 


A elite conservadora e segregacionista de Vitória da Conquista

 


Vitória da Conquista é uma das maiores e mais importantes cidades da Bahia e do Nordeste. Com uma população estimada em mais de 340 mil habitantes, um dos maiores PIBs do interior da região e uma posição estratégica no sudoeste baiano, a cidade é considerada um polo de desenvolvimento econômico, social e cultural. No entanto, por trás dessa imagem de progresso e modernidade, há também uma face conservadora e fascista que se revela em certos comportamentos de alguns políticos e parte da elite da nossa cidade.

Essa face conservadora e fascista se manifesta em diversas formas: na defesa de valores morais retrógrados e excludentes, na intolerância com as diferenças e as minorias, na violência contra os pobres e os movimentos sociais, na corrupção e no autoritarismo, na negação da ciência e da democracia, na apologia ao militarismo e ao armamentismo, na idolatria a figuras nefastas da história nacional e mundial. Esses comportamentos não são novos nem isoladosEles fazem parte de uma tradição histórica que remonta aos tempos da colonização portuguesa, quando a região foi palco de conflitos entre os colonizadores e os indígenas que resistiam à invasão e à exploração de suas terras.

Essa tradição histórica se perpetuou ao longo dos séculos, com a formação de uma elite agrária que se beneficiou da escravidão, do coronelismo, do clientelismo e do patrimonialismo. Essa elite se manteve no poder político por décadas, impedindo o avanço de projetos populares e progressistas que pudessem promover a inclusão social, a distribuição de renda, a participação popular, a educação pública, a saúde pública, a cultura popular, entre outros direitos básicos da cidadania. Essa elite também se aliou aos interesses das oligarquias nacionais e internacionais que exploram os recursos naturais e humanos da região.

Essa elite conservadora encontrou nos últimos anos um representante político que expressa seus anseios e seus medos: o presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaro é o ídolo dessa elite que se sente ameaçada pela ascensão das classes populares, pela diversidade cultural, pela liberdade de expressão, pela justiça social, pela soberania nacional. Bolsonaro é o líder dessa elite que quer manter seus privilégios, sua dominação, sua violência, sua ignorância. Bolsonaro é o símbolo dessa elite que quer retroceder a história, negar a realidade, destruir a democracia.

Mas essa elite conservadora não representa toda a cidade de Vitória da Conquista. Há também uma parte da Conquista que é popular, democrática, diversa, criativa, resistente. Uma parte da Conquista que luta por seus direitos, por sua dignidade, por seu futuro. Uma parte da Conquista que se inspira em figuras como Glauber Rocha, Anísio Teixeira, Zélia Gattai, Elomar Figueira Mello, entre tantos outros artistas, intelectuais e ativistas que contribuíram para a cultura e a política da cidade. Uma parte da Conquista que se organiza em movimentos sociais, sindicatos, partidos políticos, coletivos culturais.

 

Essa parte da Conquista que é popular, democrática, diversa, criativa, resistente tem se expressado nas ao longo da história. A greve do Café e as ocupações de terras tem sido algumas ads manifestações deste povo. Esses enbates mostram que há uma forte disputa política na cidade e que a hegemonia da elite conservadora  não é absoluta nem definitiva.

 

Por isto, a história de Vitória da Conquista não é linear nem homogênea. Ela é feita de contradições, conflitos e resistências. Ela é feita de diferentes sujeitos e projetos que disputam o sentido e o destino da cidade. Ela é feita de memórias e esperanças que se confrontam e se renovam. Ela é feita de lutas e sonhos que se realizam ou se frustram. Ela é feita de conquistas e derrotas que se alternam e se superam.

 

Diante dessa história complexa e dinâmica, cabe a nós, cidadãos e cidadãs conquistenses, assumirmos o nosso papel de protagonistas e agentes de transformação. Cabe a nós escolhermos de que lado da história queremos estar: do lado da elite conservadora e fascista e segregacionista que quer manter a cidade submissa aos seus interesses e valores ou do lado da parte popular, democrática, diversa, criativa e resistente que quer construir uma cidade mais justa, inclusiva, participativa e solidária. Cabe a nós fazermos a nossa história.

 



ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...