Outro dia fiz um comentário sobre a importância
que o positivismo teve na concepção do nosso pensamento republicano e como
aqueles poucos pensadores terminaram influenciando boa parte daquela elite
política e intelectual brasileira do final do séc. 19. Ao informar que minha
monografia de conclusão do curso de filosofia, tinha como base este assunto,
fui abordado por um amigo que pediu emprestado aquele material acadêmico. Grande
foi a minha surpresa, quando constatei que não tinha mais nenhuma cópia daquele
trabalho. Assim, vou expressar aqui, o que entendo daquele período que gestou a
nossa República.
Quando a gente se propõe a falar de
determinada civilização ou de um período da nossa história, precisamos entender
o espírito desta época, o contexto político, social, econômico e intelectual
que se viveu neste determinado momento da história. Desta forma, podemos
entender que o rápido progresso no campo das ciências, como, com seus grandes
resultados em diversos seguimentos da sociedade, terminou sendo um golpe muito
forte não só na filosofia, mas também na teologia, já que estes pensamentos formavam
a base das certezas da nossa civilização desde o final do Império Romano. Esta
ruptura fecha um circulo de quase dois milénio e cria assim as bases de novos
paradigmas.
Quando as ciências naturais se tornou a base
do pensamento iluminista, criou-se um conceito que a era da religião e da filosofia
tinha dado lugar para o século das luzes. Podemos dizer que as luzes estão
relacionadas à forma como a ciência e as técnicas passaram a se relacionar e
desta união nasceu à tecnologia. Foi através da junção destes dois elementos
que a humanidade passou a viverem grandes avanços em todas as áreas. Todos
estes avanços de progresso e desenvolvimento proporcionaram o surgimento do
positivismo como uma escola filosófica que tinha como base a negação de todo
pensamento religioso. Tudo que estava além da matéria, isto é, aquelas
divindades e os dois mil anos de história da Igreja não tinham nenhum valor.
Para os positivistas, todos estes entes metafísicos eram ilusão e a crença a
metafísica era perda de tempo. Assim, para estes pensadores positivistas, a
religião era algo primitivo e não cabia na nova ordem das coisas.
É neste contexto intelectual que se dar a
separação da Igreja com o Estado. Não podemos esquecer que no Brasil colônia e
durante o Império, a Igreja foi a grande parceira destes governos.
Com a ascensão do Império do Brasil, embora o catolicismo
mantivesse seu status de credo oficial, subsidiado pelo Estado, outras
religiões puderam florescer, pois a Constituição de 1824 garantiu a liberdade
religiosa. Assim, o
catolicismo vinha sendo subvencionado pelo Estado e gozava de enormes
privilégios. A queda do
Império, em 1889, deu lugar a um regime republicano, e uma Constituição foi
promulgada em 1891, que cortou os laços entre a Igreja e o Estado; Ideólogos
republicanos como Benjamin Constant da ala positivista e Ruy Barbosa da ala
política e pragmática foram influenciados pela laicidade na França e nos
Estados Unidos. A separação constitucional de 1891 entre Igreja e Estado foi
mantida desde então. A atual Constituição do Brasil, em vigor desde 1988,
garante o direito à liberdade religiosa, proíbe o estabelecimento de igrejas
estaduais e qualquer relação de "dependência ou aliança" de
dirigentes com lideranças religiosas, exceto para "colaboração no
interesse público, definida por lei".
Desenvolvo naquela monografia que a
liberdade religiosa foi usada como pano de fundo para afastar a Igreja do
Estado, além destas questões ideológicas, existia uma influencia e uma relação
profunda desta instituição religiosa com a monarquia, seria uma ameaça
constante ao novo regime.
Assim, as duas correntes republicana, uma ideológica
outra pragmática, afastaram de direito a Igreja do Estado, mas não conseguiram
de fato retira-la do centro do poder.
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