domingo, 8 de maio de 2022

ARTIGO - Se Deus existe, porque sofrem as crianças, porque sofrem os pobres, os indefesos? (Padre Carlos)

 

A força da Ressurreição.

 


Quando presenciamos o sofrimento de crianças e inocentes, sempre vem em nossas mentes aquela pergunta: se Deus existe, porque sofrem as crianças, porque sofrem os pobres, os indefesos? Nós até compreendemos que sofra um assassino, um ladrão, um pedófilo. O que não entendemos é o sentido do sofrimento dos inocentes!

São nestes momentos que nos perguntamos: onde está Deus agora? Se Deus existe, porque não parou com a pandemia? Se Deus é todo-poderoso, porque não interveio na nossa história e nos livrou deste sofrimento? Porque estão tantos inocentes morreram?

O panorama do nosso sistema de saúde é assustador é visível no sofrimento de todas as pessoas que dependem do SUS e não tem dinheiro para cuidar da sua enfermidade. São milhares de idosos que, por si só, já são indefesos, ninguém é poupado! E muitos são mortos nas filas ou nos corredores destes hospitais. É uma desgraça precisar destes atendimentos

Onde está Deus agora? Onde está o seu poder? Onde a sua misericórdia? Porque nos deixa Deus sozinhos à mercê destas políticas de saúde? Por quê? Mesmo nos crentes, estas perguntas não deixam de fazer eco. 

Nestes dias voltei a assistir, como faço sempre, o filme de Mel Gibson sobre A Paixão de Cristo. Logo no início há um diálogo tirado do livro de Catherine Emmerich, uma mística alemã do séc. XVIII. Jesus reza o salmo 31, com suor de sangue a escorrer pela cara: “Ouve-me, ó Pai. Ergue-te. Defende-me. Me salva das armadilhas que me prepararam”. Neste sofrimento, aparece uma figura sedutoramente medonha que lhe faz duas perguntas: “Quem é o teu pai? Quem és tu?”.

Estas perguntas devem ser respondidas com maior razão, porque toda a Paixão está construída para responder a uma pergunta: “Se é filho de Deus, desça agora da cruz e acreditaremos nele”. No fundo, está por detrás a mesma pergunta: “Quem é o teu Pai? Salvou tantos e não pode salvar a si mesmo?”.

Na realidade, a primeira coisa que queremos quando estamos numa situação de sofrimento é sair do sofrimento, acabar com o sofrimento, sair da cruz. Se Deus acabasse magicamente com o sofrimento de Jesus Cristo, todos saberiam quem é o Pai de Jesus! Se Deus acabasse magicamente com nosso sofrimento, hoje, todos viriam a acreditar neste Deus todo-poderoso.

O problema é que tudo isto não passa de uma alienação. Sair do sofrimento não passa de uma alienação. Porque Deus poderia intervir hoje no nosso sofrimento e acabar com ele, mas logo virão outros daqui a uns meses ou daqui a uns anos, e a nossa fé, alicerçada num ato mágico, desaparece. 

Deus não poderia ter livrado o filho – Jesus Cristo – do sofrimento da cruz como livrou Abraão de ver o seu filho morto? Claro que sim! 

O problema é sempre o mesmo. Onde está Deus? Quando a vida nos corre bem, é fácil podermos vê-lo. Mas quando aparecem os sofrimentos, entramos numa espiral de perguntas!

Para compreendermos a profundidade do cristianismo, precisamos entrar no mistério da Paixão de Cristo e nas condições para o discipulado: “Se alguém quer ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz em cada dia e siga-me”. 

Tomar a sua cruz em cada dia é aceitar a sua realidade. Tomar a cruz é aceitar os acontecimentos da nossa vida. Fugir da cruz, fugir do sofrimento é procurar uma alienação que nem Deus nem a religião séria poderão oferecer-nos. 

Deus poderia ter livrado Jesus do sofrimento? Sim. Mas tinha para ele, como tem para nós, um bem maior, a força potente da Ressurreição. Porque este é o poder da cruz. Que, se olhares nesta Páscoa para ela, poderá ter vida eterna e saberás onde está Deus neste sofrimento todo! Ele está aí!

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